Crítico dos rumos que o jornalismo americano tem tomado, o escritor Andrew Klavan costuma chamar o New York Times de um “ex-jornal”.
Mas nem o New York Times erra sempre: o documentário Pai, Filho, Pátria, que começou como um projeto do jornal e foi lançado recentemente pela Netflix, traz um retrato comovente e realista do sacrifício pessoal envolvido na vida dos militares americanos.
O documentário começa quando Brian Eisch, um militar divorciado que tem a guarda dos dois filhos (de 7 e 12 anos), é mandado para o Afeganistão. Lá, ele sofre um ferimento sério na perna ao tentar salvar um policial local que havia sido alvejado pelo Talibã.
Por causa disso, ele não consegue se reintegrar à vida militar, o que gera uma crise de identidade que, por sua vez, tem efeito sobre os dois garotos.
Produzido pelas diretoras Leslye Davis e Catrin Einhorn o documentário começou como uma videorreportagem para o New York Times, em 2010. Acabou virando uma produção de longo prazo, que se estende por uma década.
E é justamente nisso que reside a força da obra: ao demonstrar o efeito da passagem do tempo sobre os sonhos e ambições do pai e dos dois garotos, o documentário permite uma observação aprofundada da natureza humana.
A obra, que ganhou o prêmio de melhor edição no Festival de Cinema de Tribeca, explora, por meio da história dos Eischs, temas como a solidão, o orgulho e o patriotismo. Com trilha sonora discreta, fotografia detalhista e sem narração, o filme leva o telespectadores para dentro do lar dos Eischs.
Intimismo
Um documentário do tipo é difícil fazer sem alterar a naturalidade das interações familiares. Mas as diretoras fazem um bom trabalho: a câmera parece ser invisível para a família, e nada soa roteirizado.
Pai, Filho, Pátria se destaca pela delicadeza, com uma abordagem intimista e sem tentativa de fazer militância política, e tem como tema central os laços familiares entre pai e filho – especificamente, filhos homens.
Além disso, o recorte temporal de dez anos também expõe, de forma singela e também brutalmente realista, o transcorrer do tempo e a transformação de garotos em homens. As reviravoltas do documentário tornam quase inevitáveis as lágrimas dos espectador.
Boa parte das obras cinematográficas sobre os militares americanos costuma ser permeada por um tom artificial de ufanismo e glorificação. Pai, Filho, Pátria vai além dessa camada e encontra uma família traumatizada. Mas, no fim das contas, também encontra heroísmo e abnegação, apesar de todos os revezes.