Sem surpresas, Coreia do Norte, China e Cuba, entre outros governos autoritários, continuam ocupando as posições finais do ranking de liberdade de imprensa da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), divulgado nesta quarta-feira (25).
O primeiro lugar continuou a ser a Noruega, e a última posição segue ocupada pela Coreia do Norte. Apenas 9% dos 180 países analisados têm situação considerada "boa" em termos de liberdade de imprensa, contra 12% em situação "muito grave".
A China é o quinto pior país em liberdade de imprensa. Segundo o relatório da organização, o país de Xi Jinping está chegando cada vez mais perto de uma versão contemporânea do totalitarismo. “Durante o primeiro mandato de Xi, a censura e a vigilância alcançaram níveis sem precedentes graças ao uso maciço de novas tecnologias”, diz o relatório, que também aponta para uma expansão do modelo chinês de imprensa para outros países, especialmente no Vietnã e no Camboja.
Na América Latina, o diagnóstico da RSF opõe "uma ligeira melhora" a "persistentes violências, impunidade e medidas autoritárias". O melhor país da região é a Costa Rica (10º, quatro postos a menos), descrita como possuidora de "exercício relativamente livre da profissão e legislação avançada em matéria de liberdade de imprensa".
Na outra ponta, o pior país da região é Cuba, que segue na 172ª posição graças ao "monopólio quase absoluto sobre a informação" e ao silenciamento de vozes dissidentes.
Outros regimes autoritários também foram citados como exemplos negativos, como as Filipinas (133º, menos seis postos), onde o ditador Rodrigo Duterte afirmou que ser jornalista "não protege contra assassinatos".
A queda mais acentuada se deu na Venezuela (143ª posição, seis postos a menos), onde, diz o relatório, imprensa de oposição e correspondentes internacionais são alvos recorrentes da polícia.
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Políticos alimentam hostilidade a jornalistas pelo mundo
A edição de 2018 do ranking mostra que ódio contra jornalistas cresceu em todo o mundo, principalmente graças a atitudes e declarações de políticos e de autoridades em democracias. Publicado desde 2002 para avaliar a liberdade de informação em 180 países, o estudo destaca que é cada vez maior o número de chefes de Estado eleitos que veem a imprensa "não como um fundamento da democracia, mas como um adversário contra o qual demonstram aversão".
Esse cenário é agravado pela conduta de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos (em 45º lugar, que caiu duas posições em relação a 2017). Trata-se, afinal, do "país da primeira emenda", menciona a organização, em referência à disposição da Constituição americana em favor da liberdade de imprensa.
"Adepto do 'media bashing' (ataques à mídia) sem escrúpulos", diz o relatório, Trump costuma chamar repórteres de "inimigos do povo". A prática, lembra a RSF, repete expressão usada pelo ditador soviético Josef Stálin (1878-1953).
O texto conclui que "a hostilidade em relação aos meios de comunicação não é mais privilégio de países autoritários, como a Turquia (157º, queda de 2 postos) ou o Egito (161º, igual)". Nesses países, governantes chegaram a acusar de terrorismo jornalistas e veículos críticos às suas gestões.
Também houve agravamentos na Europa. Em Malta (65º, queda de 18 postos), a RSF lembrou o assassinato da repórter Daphne Caruana Galizia após a explosão de seu carro, em outubro de 2017. Ela participava das investigações internacionais conhecidas como Panama Papers, sobre fraudes fiscais trazidas à tona após o vazamento de registros de um escritório de advocacia panamenho.
Na República Tcheca (34º, menos 11 postos), o presidente Milos Zeman foi a uma coletiva de imprensa em 2017 com um rifle falso no qual se lia "para os jornalistas".
Já na Eslováquia (27º, menos dez postos), o ex-premiê Robert Fico acostumou-se a chamar jornalistas de "prostitutas imundas antieslovacas".
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