• Carregando...
Pesquisa mostra que o apoio ao Hamas na região da Cisjordânia triplicou desde o ataque de 7 de outubro.
Pesquisa mostra que o apoio ao Hamas na região da Cisjordânia triplicou desde o ataque de 7 de outubro.| Foto: EFE/Sara Gómez Armas

O bárbaro massacre realizado pelo grupo terrorista Hamas e a reação vigorosa de Israel estão sendo interpretados de forma bastante diferente no seio da Palestina, que é composta por dois núcleos: a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. Após a Guerra Civil de 2007, a Autoridade Palestina (AP) foi expulsa da Faixa de Gaza e hoje governa a região da Cisjordânia, enquanto o Hamas governa Gaza.

O respeitado Centro Palestino de Pesquisas Políticas e Levantamentos de Opinião, conhecido pela sigla PSR, acaba de publicar um amplo levantamento que mostra divergências importantes entre os residentes dos dois núcleos e coloca uma imensa pressão sobre sobre a AP e, em menor escala, sobre o Hamas.

De acordo com a pesquisa, 82% dos residentes da Cisjordânia e 57% dos de Gaza apoiam a decisão do Hamas de atacar Israel no Sábado Negro de 7 de outubro, e 90% dos entrevistados consideram que os vídeos das atrocidades não são verdadeiros, apesar de 87% deles não terem visto nenhum vídeo. Apenas 7% da população palestina acredita que o Hamas cometeu as atrocidades relatadas.

Surpreende saber que 75% dos residentes da Cisjordânia preferem que o Hamas continue a governar a Faixa de Gaza após o fim do atual conflito, bem diferente dos residentes de Gaza. Por lá, apenas 38% gostariam que o Hamas continue no poder. Mas o número que mais deve preocupar a liderança na Cisjordânia é que 60% disseram apoiar a dissolução da Autoridade Palestina, o índice mais alto desde que o PSR iniciou suas pesquisas. O apoio ao Hamas na região da Cisjordânia triplicou desde o ataque de 7 de outubro.

Já Mahmoud Abbas, também conhecido como Abu Mazen [atual presidente da AP] viu seu apoio cair de fracos 22% há dois meses para péssimos 14% agora, enquanto 85% dos palestinos estão insatisfeitos com seu desempenho à frente do governo. Como resultado dessa insatisfação, 88% dos palestinos gostariam que ele renunciasse, um incremento de 78% em relação ao registrado há três meses.

Um fator preocupante é o aumento do apoio à resistência armada: 69% dos entrevistados apoiam o retorno da resistência e da intifada armada (movimento que levou a inúmeros assassinatos de civis israelenses). E um dado triste: apenas 7% dos entrevistados acreditam que o principal objetivo dos palestinos deveria ser estabelecer um sistema político democrático que respeite suas liberdades e seus direitos.

Na última semana, logo após esses números se tornarem públicos, Azzam al-Ahmed, colaborador próximo de Abu Mazen e líder do Fatah, foi entrevistado pela TV Saudita Al-Arabiya e disse: "conversaremos com a liderança do Hamas, nossa porta está aberta e não estabelecemos pré-condições para conversações com eles".  E prosseguiu: “Abu Mazen me pediu para entrar em contacto com o Hamas. Não interferimos nos assuntos internos de Gaza e os contatos serão feitos com a liderança do Hamas no exterior”. Segundo ele, há intenção de conversar em breve com o chefe do Bureau Político, Ismail Haniyeh, que vive no Catar.

Outro fato surpreendente e absolutamente novo foi a declaração do vice-líder do gabinete político do Hamas, Moussa Abu Marzouk, que, em entrevista,  disse ao site americano Al-Monitor que “a posição oficial deve ser respeitada - a OLP [Organização para a Libertação da Palestina] reconheceu o Estado de Israel”, afirmando que os israelenses devem ter direitos. Isso foi considerado surpreendente, uma vez que o Hamas tem em sua constituição a negação da existência de Israel e a determinação de eliminar o país. Após fortes reações, Abu Marzouk mudou a fala, afirmando que suas palavras foram tiradas do contexto e acrescentou: "O Hamas não reconhece a legitimidade de Israel e não abre mão de nenhum dos direitos do povo palestino. A resistência continuará até a libertação e o retorno”.

Aparentemente tanto a OLP (que domina a AP) como o Hamas têm motivos para preocupações: na Cisjordânia, governada pela AP, há uma nítida preferência pelo Hamas - provavelmente em função do alto nível de corrupção governamental. Já na Faixa de Gaza, governada pelo Hamas, apenas uma minoria de 38% gostaria de ser governada por este grupo, provavelmente em função das imensas dificuldades e do desemprego desde que o Hamas assumiu o poder, agravados pela destruição e deslocamentos internos que ocorrem em função da reação israelense ao massacre de outubro.

É provável que o Fatah e a OLP tenham se preocupado com os resultados da pesquisa e estejam tentando recuperar apoio e força para a AP. O crescimento do apoio ao Hamas na área sob domínio da AP justifica a apreensão.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]