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Nos Estados Unidos, os senadores do Partido Democrata terminaram o mês de fevereiro insistindo em manobras regimentais na Lei de Proteção da Saúde da Mulher. Eles queriam registrar em ata as falas dos senadores do Partido Republicano em ano eleitoral. Mas se os norte-americanos se derem conta do que trata a Lei de Proteção da Saúde da Mulher, isso deveria não só ser um tiro no pé dos estrategistas democratas, como um despertar repentino para o radicalismo do nosso país no que concerne ao aborto. A decisão da Suprema Corte no caso Roe x Wade coloca os Estados Unidos junto da Coreia do Norte e da China, em matéria de leis de aborto. Se Roe for revertida em junho, os democratas planejam elaborar no Legislativo uma política pública pró-aborto – e muito mais.
Foi impressionante ouvir o líder da maioria Chuck Schumer ser claro quanto ao objeto dessa lei de nome tão eufemístico e manipulador: o aborto. A maioria dos democratas do Senado votou para o projeto de lei ir adiante. A única exceção foi Joe Manchin, da Virgínia Ocidental, que tem cada vez mais se dado conta de ser uma exceção – tal como o ex-congressista democrata Dan Lipinski, que se empenhou em fazer os oponentes do aborto se sentirem bem-vindos no seu partido. Lipsinki não está mais no Congresso porque os poderes que há em seu partido – que precisam do apoio da indústria do aborto – o excluíram nas primárias.
Um dos senadores que registraram seu discurso de forma esclarecedora foi Bob Casey Jr., da Pensilvânia. Ele se descreve como um pró-vida, ainda que receba avaliações decentes da Planned Parenthood graças ao seu histórico de votações. Está a uma longa distância do seu corajoso pai, Bob Casey Sr., que foi impedido de falar na Convenção Democrata de 1992 por temerem que desafiasse o partido na questão do aborto. Embora estivesse totalmente comprometido com o aborto, Bill Clinton tinha mais astúcia política. Sabia que a maioria dos norte-americanos não estava motivada pelo aborto legal, mas que muitos dos que se consideram pró-escolha não pensam muito no assunto e apenas consideram o aborto um mal necessário. Assim, não deixando Casey falar, Clinton disse que queria que o aborto fosse “seguro, legal e raro”.
Casey Jr., por outro lado, votou para levar ao Senado o projeto de lei pró-aborto mais radical que o Congresso jamais vira. A legislação determinaria que os estados não têm o direito de se autogovernarem no que concerne ao aborto. E os democratas o estão apoiando mesmo que haja estados cuja maioria dos eleitores decidiu pôr limites ao aborto. Até o estado natal de Casey proibiu o aborto após a 24ª semana de gravidez. Isto não é restritivo demais; é razoável.
O New York Times, ao cobrir o voto do Senado, descreveu algumas das leis estaduais – no Mississipi e Texas, mais notavelmente – dizendo que impõem restrições ao aborto “medicamente não-necessárias”. Isso ignora o fato de que o aborto não é medicamente necessário. Uma curetagem que salva a vida da mãe não é feita para matar o bebê, embora o faça. Não é o que estamos discutindo quando tratamos de aborto, mas é conveniente que os ideólogos do aborto nos mantenham maliciosamente aí, num terreno retórico impossível.
É sobretudo porque o Partido Republicano está uma confusão agora que é um escândalo tão grave o Partido Democrata não dar voz aos totalmente vulneráveis, aos não-nascidos. A Casa Branca publicou uma declaração dizendo que “as restrições são particularmente devastadoras para as comunidades de cor”. De fato, essas são as mulheres e meninas que sempre são as mais pressionadas para a aceitarem o aborto como escolha única.
Existe um novo livro técnico, Speaking for the Unborn: 30-Second Pro-Life Rebuttals to Pro-Choice Arguments [Falando pelos não-nascidos: refutações de 30 segundos aos argumentos pró-escolha], escrito por Steven A. Christie, um médico de Miami. Ele não precisava ter escrito o livro; ele sabe que o aborto não é uma mera questão política, mas sim uma questão de direitos humanos básicos, porque ele segue a ciência. No começo do livro, conta que houve mais de 62 milhões de abortos desde o caso de Roe em 1973. Quando lhe perguntaram por que se preocupava em falar pelos não-nascidos, respondeu: “Se os não-nascidos não são vivos nem humanos, não importa, e não precisamos falar disso”. Continua: “Mas se os não-nascidos são vivos e humanos, então matamos mais de 62 milhões de crianças”. É pelas crianças que nos preocupamos, conclui. O livro continua com argumentos não-religiosos contra o aborto. É só escolhendo desviar o olhar de alguns fatos básicos – e ele os expõe todos – que o aborto continua nos Estados Unidos.
O dr. Christie também é claro quanto a devermos ter em primeiro lugar compaixão pelas necessidades das mulheres, sobretudo sabendo que 62 milhões de abortos indicam que milhões de mulheres também sofreram. Toda perda causa sofrimento, então mesmo aquelas que alardeiam os próprios abortos para protestar contra as restrições devem ter feridas profundas e cruas, nas quais sem dúvida a política bota sal.
Numa época em que a Rússia está dando ao mundo flashbacks da ameaça soviética, e na qual ouvimos diversos chamados à paz – inclusive do chefe do Partido Democrata, o presidente Biden –, os democratas fazem de sua prioridade um voto eleitoreiro pela expansão do aborto nos Estados Unidos, buscando passar por cima de estados que são melhores que isso.
Não espere a paz no mundo antes de fazermos algo melhor do que o aborto. Perdoem-me por citar Madre Teresa, que falou diante do presidente Clinton à época. Antes de pararmos de desumanizar a criança não-nascida no útero, esperemos mais, não menos, violência em nossas casas, em nossos países e pelo mundo.
©2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.