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A visita da vice-presidente Kamala Harris a uma das clínicas de aborto da Planned Parenthood, na quinta-feira passada (14), traça o novo paradigma político do Partido Democrata a meses das eleições nos Estados Unidos. Foi a primeira vez que um presidente ou vice-presidente visitou uma instalação que realiza os assassinatos de bebês no ventre.
Para Harris, o aborto se trata de uma “crise de saúde muito séria”. “E a crise está afetando muitas pessoas no nosso país, muitas das quais, francamente, sofrem em silêncio”, disse a vice-presidente nas instalações de St. Paul, Minnesota.
A clínica visitada é uma das mais frequentadas pelas mulheres da região devido às restrições dos estados vizinhos que proibiram a realização deste procedimento com políticas que Harris diz serem “imorais”.
“Como se atrevem estes líderes eleitos a acreditar que estão em melhor posição para dizer às mulheres o que elas precisam?”, perguntou a vice-presidente. Segundo Harris, os Estados Unidos têm que “ser uma nação que confia nas mulheres.”
Sarah Traxler, diretora médica da Planned Parenthood North Central States, disse estar “orgulhosa por ser a provedora dos serviços de aborto” e descreveu a visita da vice-presidente como um “momento histórico”.
De acordo com a diretora da clínica, o número de mulheres vindas de fora do estado dobrou. “Todos deveriam ter o direito de acesso aos cuidados de saúde”, enfatizou Traxler.
A turnê do aborto
O assassinato de bebês no ventre ocupa uma posição central no debate eleitoral dos EUA. Enquanto Donald Trump propõe a proibição parcial, Joe Biden defende a legalização em nível federal e sua vice-presidente promove centros de aborto da Planned Parenthood.
O atual presidente americano anunciou que, caso seja reeleito, legislará para tornar o aborto um direito em todo o país, apesar da decisão da Suprema Corte que, em junho de 2022, anulou o caso Roe v. Wade, responsável por, durante décadas, dar proteção legal à prática nos Estados Unidos.
No 50º aniversário do caso Roe v. Wade, Harris acusou o Supremo Tribunal de retirar o “direito constitucional fundamental” das mulheres de decidirem sobre os seus próprios corpos, no entanto, garantiu que o governo de Biden lutaria para defender e promover uma lei que o protegesse.
“Como você pode ser livre se uma mulher não pode decidir, se um médico não pode cuidar de seu paciente e se uma pessoa não pode dirigir o curso de sua própria vida?”, perguntou a vice-presidente.
Este ano, a celebração ocorreu em Wisconsin, a primeira parada de Harris no que se espera ser uma turnê federal focada no aborto, composta por mais de 50 eventos em 16 estados com a participação de legisladores, procuradores-gerais, ativistas e médicos.
Cathy Blaeser, co-diretora executiva do grupo antiaborto “Minnesota Citizens Concerned for Life”, disse que “a visita da vice-presidente demonstra a total devoção do governo (do presidente Biden) às políticas extremas pró-aborto”.
O assassinato de bebês no ventre também ganhou destaque no anuncio televisivo do presidente americano, onde aparece Austin Dennard, uma obstetra e ginecologista do Texas que teve que deixar seu estado para que pudesse abortar quando soube que seu bebê tinha anencefalia.
“No Texas, você é forçada a carregar este tipo de gravidez, e isso ocorre porque Donald Trump derrubou Roe v. Wade”, acusa Dennard.
Apesar da probabilidade muito baixa de que os democratas possam restaurar os direitos estabelecidos no caso Roe v. Wade devido à atual composição do Supremo Tribunal e ao controle republicano da Câmara, o tema aborto têm tido sucesso em campanhas em nível federal.
Uma mão lava a outra
Não é coincidência que Harris tenha escolhido uma clínica da Planned Parenthood para dar início à campanha política dos democratas. É de conhecimento público que o partido recebeu uma grande ajuda por parte da organização para vencer as eleições nos últimos anos, assim como os democratas foram os que destinaram mais dinheiro à organização durante a presidência de Joe Biden. No entanto, em seu site, a Planned Parenthood se define como “um grupo sem fins lucrativos e apartidário”.
“A Planned Parenthood foi fundada há mais de 100 anos com base na ideia revolucionária de que as mulheres têm o direito de aceder à informação e aos cuidados de que necessitam para viver uma vida forte e saudável. Hoje, o Planned Parenthood Action Fund (PPAF) luta para proteger esse direito – muitas vezes diante a políticos extremistas que tentam tirá-lo”, descreve a fundação em sua página web.
A organização abortista não atua somente nos Estados Unidos, mas também junto a outras fundações ao redor do mundo “para promover o acesso aos cuidados de saúde sexual e defender os direitos reprodutivos”.
Além de receber dinheiro do governo americano através de “programas”, ela também recebe “doações” da Open Society de George Soros, Fundação Ford, Fundação Rockefeller, Fundação Gates, entre outras.
Um relatório divulgado recente pelo Government Accountability Office (GAO) revelou que entre 2019 e 2021, quase 2 bilhões de dólares em fundos dos contribuintes foram destinados ao financiamento de abortos.
De acordo com o estudo, a Planned Parenthood e suas afiliadas faturaram US$ 1,78 bilhão: “os membros da Planned Parenthood Federation of America receberam cerca de US$148 milhões em subsídios do HHS ou acordos de cooperação e US$ 1,54 bilhão em pagamentos do Medicare, Medicaid e CHIP. Os membros da Planned Parenthood também receberam 44 empréstimos do Programa de Proteção ao Salário, totalizando aproximadamente US$ 89 milhões”.
De acordo com o GAO, “este relatório descreve o financiamento federal para centros de saúde, afiliados da Planned Parenthood, quatro organizações nacionais (…) também descreve o financiamento recebido e gasto por estas organizações de 2019 a 2021”. Para tal, foram analisados os dados do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS), do Sistema de Gestão de Pagamentos da Agência para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e do Sistema Uniforme de Dados da Administração de Recursos e Serviços de Saúde do HHS.
A publicação do relatório alarmou os congressistas republicanos, que observaram que os empréstimos do Programa de Proteção de Pagamento (PPP) foram concebidos para ajudar pequenas empresas com menos de 500 funcionários – e alegou que a Planned Parenthood solicitou “ilegalmente” a assistência financeira.
“É terrível que os grandes provedores de aborto continuem a receber bilhões de dólares em financiamento dos contribuintes federais”, expressou a senadora Marsha Blackburn, republicana do estado de Tennessee.
O deputado Chris Smith, republicano de Nova Jersey, também denunciou que "a Planned Parenthood recebeu US$1,78 bilhão (...) enquanto a nação lutava contra a pandemia de Covid-19".
“Os dólares dos contribuintes federais não deveriam ser canalizados para grandes empresas de aborto como a Planned Parenthood, que matou mais de 9,3 milhões de crianças em gestação desde 1970, incluindo 1,11 milhão entre 2019 e 2021”, afirmou o deputado republicano.
As declarações dos congressistas refletem a opinião da maioria dos americanos. Uma pesquisa da Marist Poll revelou que cerca de 60% dos cidadãos rejeitam e se opõem ao uso do dinheiro dos impostos para financiar o aborto.
Considerado como o presidente mais pró-aborto da história dos Estados Unidos, de acordo com Connor Semelsberger, diretor de assuntos federais para a vida e dignidade humana no Family Research Council, Biden destinou nos primeiros quatro meses de governo quase 20 vezes mais recursos públicos para a indústria do aborto do que o ex-presidente democrata Barack Obama, considerando-se o mesmo período de tempo das presidências.
Foram destinados quase US$ 500 bilhões (equivalente a R$ 2,5 trilhões) em fundos federais para a indústria do aborto por meio de legislação e ordens executivas, em alguns casos contornando restrições de longa data que impediam que o dinheiro do contribuinte fosse usado para pagar diretamente por abortos.
Essa ajuda financeira se reflete na campanha política realizada pela organização para a eleição da fórmula “Biden-Harris”. Além de sugerir explicitamente em sua página web em quem votar, também classificou Joe Biden como “a escolha certa para presidente”, Kamala Harris como “uma heroína pelos direitos reprodutivos”, Donald Trump como “um pesadelo de presidência” e Mike Pence como um “extremista perigoso”.
Entre 2019 e 2020, a Planned Parenthood gastou mais de US$ 45 milhões na eleição de candidatos que apoiassem os direitos reprodutivos. “Quem elegermos determinará o nosso acesso ao controle da natalidade, exames de câncer, educação sexual, acesso ao aborto e muito mais”, disse Kelley Robinson, diretora executiva da Planned Parenthood Votes, em um comunicado.
“É por isso que a Planned Parenthood Vote usará todas as ferramentas à nossa disposição para eleger defensores dos direitos reprodutivos em todas as votações”, acrescentou. “Sabemos que esta é uma luta que podemos vencer.”
Por sua vez, a organização gastou um valor recorde de US$ 50 milhões nas eleições de meio de mandato de 2022, que elegeu deputados e senadores, quebrando o recorde anterior de gastos em 2020.