Tenho um Celta 2008, moro de aluguel em uma cidade do interior de São Paulo e recentemente apostei em um pequeno empreendimento, a fim de subsistir com mais conforto, e, assim, comprar as roupas que minha esposa encontra nesse Instagram, os brinquedos que meu enteado vê na Shopee, e as fraldas do meu filho que, literalmente, não colabora com nenhuma redução de custos aqui em casa. Obviamente que minhas outras atuações me dão certo conforto financeiro. Por exemplo, às vezes tenho o luxo de poder viajar com a família no fim de semana, posso comprar livros sem minha esposa saber e ostentar minha coleção de quatro cachimbos e tabacos internacionais – comprados legalmente. Por tudo isso, para Lula, eu sou um “porco capitalista”, um pequeno burguês da classe média que perpetua esse sistema de exploração e – como ele diz – “ostenta um padrão de vida acima do necessário”. Claramente Lula ainda não superou o já completamente antiquado – até mesmo para a esquerda – Karl Marx, muito menos dignou-se a olhar-se no espelho existencial para perceber que hoje ele é um daqueles que há uns 40 anos chamaria de “burguês safado”.
Duvido muito que o ex-presidente tenha lido Karl Marx, talvez nem Engels tenha lido para além do Manifesto do Partido Comunista e de suas colaborações editoriais enfadonhas. Se Lula tivesse lido, por exemplo, A Ideologia Alemã, teria visto que o ódio da esquerda analógica à classe média advém justamente do óbvio sucesso e benefícios que a industrialização capitalista trouxe para os afegãos médios da Europa. Literalmente o pessoal que vivia em condição de subsistência começou a ter acesso a bens que nem os mais ricos reis e aristocratas do século XVI sonhariam em ter.
Para Marx, essa nova classe de pessoas que começaram a ter bens, benefícios e salários que jamais conseguiriam adquirir em suas manufaturas nos campos, acabou impedindo a celeridade natural da revolta socialista, a “iminente da revolução comunista”. Ele – o alemão – contava que o capitalismo injetaria ódio nos trabalhadores ante seus patrões e que, assim como os escravos ansiavam por massacrar seus senhores, os operários naturalmente sonhariam em pisotear seus patrões. Bom, como vimos, não aconteceu... Dessa maneira, a Revolução Comunista, para Marx, não acontecia conforme suas previsões porque a classe média a impedia. Eis de onde vem esse velho ódio comunista, eis de onde surge esse dogma que Lula repete com ar de superioridade moral.
Essa mesma classe média, hoje majoritariamente formada por trabalhadores e micro/pequenos empresários, não só negaram as teses de Marx e seus posteriores bajuladores, como formaram uma espécie de resistência natural contra as teses progressistas. O Bastião e a dona Ana “cagaram” para as teses academicistas da Escola de Frankfurt; não toleram as invencionices progressistas e nem acreditam que o Estado seja alguma espécie de messias político. Ao contrário, a classe média geralmente ansiava pela cultura material e status social da aristocracia, ao mesmo tempo que ostentava a fé piedosa dos pobres, tornando-se, assim, o elo social que assombra o idealismo da esquerda tradicional, por sua atávica recusa aos construtos ideários dos ideólogos de esquerda. Ideólogos esses que, numa só patada, queriam minar a cultura aristocrática e a moral religiosa.
A esquerda simplesmente odeia o meu clã... e eu acho isso fabuloso!
No entanto, o mais fabuloso mesmo sempre será a hipocrisia pomposa da esquerda reacionária que de manhã chora abraçada com mendigos para de noite arrotar caviar no casamento do Lula. Trata-se de um esporte digníssimo acompanhar como o discurso dissimulado sequer move o ímpeto dos mais aguerridos militantes da ideologia esquerdista. Somente em bebidas o casamento do ex-presidiário/presidente pode ter custado 100 mil reais – segundo a assessoria de Lula “tudo foi bancado pelos noivos”; a lua de mel foi em um hotel cinco estrelas, Grand Mercure, cuja noite custa cerca de 3 mil reais; e, para findar, os pombinhos devem morar em um bairro NOBRE de São Paulo, Alto Pinheiros, num imóvel de 700 metros quadrados avaliado em 5 milhões de reais. Segundo a Revista Oeste, o casal será inquilino, o aluguel custará cerca de 20,5 mil por mês ao proletário Lula.
A irônica coerência que podemos extrair daqui é que Lula realmente não é de classe média, é claramente da aristocracia, ou, como ele mesmo denominou, da “elite escravagista”. Outra coerência, por sua vez, está no modelo de vida luxuosa que ele levará, muito próximo a que seus ídolos, Mao Tsé-Tung, Fidel Castro e Nicolás Maduro levam ou levaram em seus respectivos países subjugados.
Fico aqui pensando, em minha nova cadeira de escritório presidente, parcelada em 12x sem juros, como a posse desse bem – segundo o petismo – me faz um inimigo da pobreza e um algoz dos miseráveis, e como apenas uma garrafa de champagne do casamento do Lula, avaliada entre 800 e 1.200 reais, além de não fazer dele um “porco capitalista” ainda poderia comprar a minha cadeira à vista... Com doze ou treze garrafas dessas, poderíamos facilmente fazer negócio no meu Celta.
Como funcionam os lóbulos cerebrais de um militante petista, está aí uma pesquisa que eu pessoalmente financiaria. E, para além da minha eterna ironia, o fundo do questionamento é profundamente sincero: como aliar as palavras, as convicções clássicas do petismo marxista, que o Lula ressuscita para essas eleições, e sua glamourosa vida real? Me parece que, da mesma forma que o operário do século XIX e XX é exemplo de como o capitalismo e o livre mercado gestaram uma prosperidade material assustadora, Lula se tornou um exemplo perfeito de como o socialismo está assentado numa hipocrisia galopante, numa cegueira hipnótica que beira o fanatismo religioso.
Enquanto o meu Celta e meus pequenos luxos forem o problema econômico do país, e o luxo bizarro e hipócrita do pai do socialismo brasileiro for solenemente ignorado, a esquerda nacional e sua trupe midiática padecerão dessa infantilização medonha de seus discursos. Lula tem um discurso acriançado, atrasado, hipócrita e abobalhado. Sinceramente acredito que, para recusar as ideias de Lula, basta tão somente olhar sua vida em paralelo aos seus discursos.
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