“Foi uma coisa muito engraçada o ato do Bolsonaro. Parecia uma reunião da Ku Klux Klan. Só faltou o capuz". Assim o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à Presidência pelo PT, classificou a participação de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, no último 7 de setembro. "Não tinha negro, não tinha pardo, não tinha pobre, trabalhador. O artista principal era o velho da Havan, que aparecia como se fosse o Louro José da campanha do Bolsonaro”, provocou Lula, durante um ato em Nova Iguaçu, no estado do Rio de Janeiro.
Não é a primeira vez que Bolsonaro é associado à organização racista cuja origem remonta ao final da Guerra Civil nos Estados Unidos, no século XIX. Às vésperas da eleição de 2018, o ex-líder da Ku Klux Klan, David Duke, declarou que o então candidato à presidente "soava como os membros da organização". Duke é um dos mais proeminentes membros do grupo que surgiram depois da década de 1970, após os movimentos pelos direitos civis. Bolsonaro, contudo, publicou em sua conta no Twitter que "rejeita qualquer tipo de apoio vindo de grupos supremacistas". Poucos dias após a declaração, seria eleito com mais de 55% dos votos válidos.
Conhecida pela túnica branca com um capuz pontudo que cobre todo o rosto, a organização com a qual Lula comparou os apoiadores de Bolsonaro não se parece em nada com o que se viu nos atos que marcaram o Bicentenário da Independência pelo Brasil. Conforme o texto de Juliana Tiraboschi, publicado originalmente em setembro de 2018, o grupo começou a se reunir no sul dos Estados Unidos para perseguir e violentar os negros libertados com a abolição oficial da escravatura, em 1863, e ficou conhecida por agredir, matar e estuprar pessoas negras e brancas que tentavam ajudar os ex-escravos.
Na década de 1920, quando viveu seu auge, a Ku Klux Klan (KKK) chegou a arregimentar cerca de 6 milhões de membros. “Isso aconteceu porque, nessa época, a organização expandiu seus inimigos para outros grupos, como judeus e católicos”, diz a historiadora Linda Gordon, professora da Universidade de Nova York. Estima-se que o grupo tenha assassinado brutalmente cerca de quatro mil pessoas no sul dos EUA, entre 1870 e 1920.
A atuação do grupo era notória pela crueldade. Muitas vítimas eram enforcadas ou espancadas até ficarem desconfiguradas e alguns homens eram castrados. Em 1963, membros da KKK explodiram com dinamite uma igreja Batista em Birmingham, Alabama, matando quatro meninas negras de 11 a 14 anos e ferindo pelo menos mais 14 pessoas. Uma das meninas foi decapitada com o impacto da explosão e os corpos ficaram mutilados a ponto de dificultar seu reconhecimento.
De acordo com Linda Gordon, a KKK teve quatro momentos importantes na história: sua criação, logo após a abolição da escravatura, depois uma ascensão e queda durante os anos 1920, um novo fortalecimento entre os anos 1950 e 1960, durante os movimentos pelos direitos civis, e o período contemporâneo, quando coexiste com outros grupos de supremacia branca. Hoje, de acordo com a organização americana Southern Poverty Law Center (SPLC), especializada em direitos civis, o grupo agrega de 5 a 8 mil membros, divididos entre dezenas de subgrupos que usam a mesma denominação. As manifestações de 7 de setembro transcorreram de maneira pacífica, com grande participação de famílias.
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