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Banda "Delito"

O passado roqueiro (e com letras misóginas) do ex-ministro Silvio Almeida

Ministro foi guitarrista da banda de rap-metal Delito, influenciada por artistas americanos que cantavam letras machistas e violentas.
Ministro foi guitarrista da banda de rap-metal Delito, influenciada por artistas americanos que cantavam letras machistas e violentas. (Foto: Agência Brasil/Marcelo Camargo)

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Denunciado por suposto assédio sexual, o ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, já foi guitarrista de uma banda de som pesado cujo nome agora soa irônico: Delito.

O grupo esteve na ativa durante parte da década de 1990, e tocava composições autorais e de alguns expoentes norte-americanos do que se convencionou chamar de “rap metal” – Body Count, Rage Against the Machine, Suicidal Tendencies e Infectious Grooves. 

O próprio Almeida contou essa história no X, em 2020, durante uma troca de mensagens com seu grande ídolo, o rapper Mano Brown, dos Racionais MC’s (igualmente incluído no repertório de seu antigo conjunto). 

Na ocasião, ele ainda revelou que dois músicos do Delito também passaram pela veterana banda de rock paulista Velhas Virgens, muitas vezes acusada de apresentar canções machistas (sua faixa mais famosa se chama “Abre Essas Pernas pra Mim”). 

Aliás, os já citados Body Count e Racionais também gravaram temas não muito elogiosos às mulheres – apesar de serem lembrados por seus discursos contra o racismo e a opressão policial. 

As letras do grupo americano (que revoltariam os apoiadores politicamente corretos do ex-ministro) são impublicáveis. Mas títulos como “KKK Bitch” (“Cadela da KKK”), “Evil Dick” (“Pinto Mau”) e “Momma’s Gotta Die Tonight” (“Mamãe Tem que Morrer Esta Noite”) dão uma ideia de seu teor, no mínimo, deselegante com as damas.

“KKK Bitch” é sobre um homem negro impressionado com a performance sexual da filha de um membro da Ku Klux Klan. Em “Evil Dick”, o narrador é flagrado traindo a parceira, porém coloca a culpa em sua genitália endemoniada. E “Momma’s Gotta Die Tonight” descreve um matricídio com requintes de crueldade.

Do lado nacional, as faixas “Mulheres Vulgares” e “Estilo Cachorro” ainda hoje obrigam a turma de Brown a se explicar paras as feministas. 

“Mulheres só querem, preferem o que as favorecem / Dinheiro, Ibope, te esquecem se não os tiverem” e “Mulher finge bem, casar é negócio / Cê vê quem é quem só depois do divórcio” são alguns dos versos dessas duas músicas “seminais” do hip-hop tupiniquim. 

Cansados de dizer que a faceta misógina de sua obra é fruto de outro contexto, quando ainda eram jovens e inexperientes, os rappers optaram por excluir qualquer tema “sensível” de seus shows. 

E como o Delito não deixou registros fonográficos ou audiovisuais, fica no ar a dúvida sobre quais canções dos artistas adorados por Almeida o grupo interpretava. Ainda mais a partir de agora, com o ex-ministro encalacrado em denúncias e prestes a ser investigado pela Polícia Federal. 

Almeida se enveredou pela carreira de youtuber antes de assumir o ministério 

Silvio Almeida é advogado, tem 48 anos e se notabilizou pela defesa jurídica de grupos minoritários, além de possuir um destacado currículo acadêmico – graduado em Direito e Filosofia, fez mestrado em Direito Político e Econômico e doutorado em Filosofia e Teoria Geral do Direito. 

Mas ficou realmente conhecido a partir de 2019, com a publicação do livro ‘Racismo Estrutural’ rapidamente adotado como uma espécie de bíblia por boa parte dos professores universitários. Seus críticos, no entanto, apontam que a obra carece de bases científicas e promove o conflito entre negros e brancos. 

Graças à fama adquirida nos meios progressistas, Almeida viu uma oportunidade para se lançar como comentarista e entrevistador. E produziu 130 conteúdos no YouTube entre 2020 e 2023, quando assumiu o ministério.

Sua obsessão, além do racismo, é o neoliberalismo, tema de uma dezena de vídeos. Filmes de terror, videogames e quadrinhos também eram discutidos, confirmando seu interesse pela cultura pop – porém sem perder a pegada “cabeça” e politizada. 

Em “Por que gosto do Capitão América”, por exemplo, ele faz uma ponte entre o personagem da Marvel e o conceito de “dupla consciência” – criado pelo sociólogo negro americano W. E. B. Du Bois (1868-1963) para definir o conflito interno dos “indivíduos colonizados em uma sociedade opressora”.

“É a experiência de sempre enxergar a si mesmo pelos olhos dos outros, de medir a própria alma pela régua de um mundo que se diverte ao encará-lo com desprezo e pena”, escreveu Du Bois. 

Silvio Almeida ainda recebeu em seu canal ícones da esquerda como Lázaro Ramos, Emicida, Leonard Boff, Ailton Krenak e sua referência maior, Mano Brown.

“Você foi meu professor. Muitas decisões que tomei na vida, na academia e na advocacia foram ouvindo os Racionais. Vocês me educaram”, disse para o rapper durante uma live.

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