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Ranking

As pequenas, médias e grandes cidades com a menor taxa de homicídios do Brasil

Vista aérea de Amparo (SP): taxa de homicídios em 2022 foi zero. License: https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.0/
Vista aérea de Amparo (SP): quase 70 mil habitantes e zero homicídios em 2022. (Foto: Nadir D'Onofrio)

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Dos 21 critérios usados na elaboração do ranking de cidades da Gazeta do Povo, talvez nenhum seja tão importante quanto a segurança pública. Nesse quesito, a nota (de 0 a 10) de cada cidade foi calculada com base na taxa de homicídios compilada pelo Atlas da Violência dos Municípios 2024, divulgado em junho deste ano pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

A publicação utiliza dados de 2022 porque existe um certo atraso entre a coleta dos dados, a compilação dos números de cada município e as correções que por vezes são feitos posteriormente. Nem todos os estados divulgam as estatísticas de homicídios em tempo real.

Feitas as ressalvas, 1.661 dos 5.565 municípios brasileiros ganharam nota 10 em segurança pública no ranking da Gazeta do Povo. Estas são cidades que não tiveram assassinatos em 2022, de acordo com o IPEA. O grupo é composto sobretudo de pequenos municípios, com uma população média de 6,3 mil habitantes.

Neste grupo, os três maiores municípios são do estado de São Paulo: Amparo, Jaguariúna e São José do Rio Pardo. As cidades têm entre 50 e 70 mil habitantes.

As maiores cidades com nota 10 em segurança pública

Cidade - população

  • Amparo (SP) - 69.952
  • Jaguariúna (SP) - 60.816
  • São José do Rio Pardo (SP) - 51.668
  • Guaxupé (MG) - 51.015
  • Cerquilho (SP) - 44.024
  • São Manuel (SP) - 39.467
  • Piumhi (MG) - 34.834
  • Pomerode (SC) - 34.699
  • Barra Bonita (SP) - 34.430
  • Pitangueiras (SP) - 33.731

São Paulo domina lista das cidades mais seguras com mais de 100 mil habitantes

Quando se leva em conta apenas as cidades com mais de 100 mil habitantes, o primeiro lugar passa a ser de Poá (SP), que tem 109,4 mil moradores e registrou apenas um homicídio em 2022. Das dez primeiras colocadas nesta categoria, oito são do estado de São Paulo.

Em sexto lugar no índice geral, Botucatu merece destaque. A cidade, que registrou uma taxa de 2,75 homicídios por 100 mil habitantes em 2022, tem feito progresso desde que sofreu dois mega-assaltos em 2020 e 2021. A Prefeitura decidiu instalar câmeras de segurança e ampliou a Guarda Civil Municipal.

A média nacional em 2022 foi de 21,7 homicídios por 100 mil habitantes. Em 2023, segundo o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o índice ficou em 22,8.

Para o sociólogo Eduardo Matos de Alencar, presidente do Instituto Arrecife, a instalação de câmeras só se torna totalmente eficaz quando é acompanhada por outras políticas de segurança. "Em sistemas mais avançados as câmeras permitem a identificação de suspeitos com histórico criminal ou procurados pela polícia, possibilitando uma pronta resposta mais eficiente. Isso não se faz sem colaboração com as forças policiais. Esse tipo de integração é muito precária no Brasil", diz.

Mesmo antes das melhorias nas políticas de segurança pública, os números de Botucatu já eram menores que a média.

Fora da Grande São Paulo e da rota do crime organizado, com um bom desempenho econômico e uma infraestrutura urbana de qualidade, o município não passou pela explosão demográfica de outras cidades paulistas, o que permitiu à cidade crescer de forma ordenada.

Entre as cidades com 100 mil habitantes, os dados mais recentes do Atlas da Violência colocam Poá (SP), na região metropolitana de São Paulo, com a menor taxa de homicídios. Assim como a segunda colocada, São Caetano do Sul (SP), Poá tem um território limitado e praticamente 100% urbano. Isso facilita a implementação de políticas de segurança pública.

Alencar diz também que comunidades menores costumam sofrer menos de problemas que tendem a aumentar a criminalidade. "O crime está ligado a problemas como famílias desestruturadas e sem rede de apoio, baixa supervisão parental sobre jovens e convivência com más companhias. Em cidades menores, esses problemas tem menor frequência", analisa.

Veja a lista das dez cidades acima de 100 mil habitantes com melhor nota em segurança pública no ranking da Gazeta do Povo.

Cidade - taxa de homicídios por 100 mil habitantes - nota

  • 1. Poá (SP) - 0,91 - nota 9,82
  • 2. São Caetano do Sul (SP) - 1,20 - nota 9,76
  • 3. Jaraguá do Sul (SC) - 1,55 - nota 9,69
  • 4. Valinhos (SP) - 2,26 - nota 9,55
  • 5. Nova Lima (MG) - 2,55 - nota 9,49
  • 6. Botucatu (SP) - 2,75 - nota 9,45
  • 7. Salto (SP) - 2,82 - nota 9,44
  • 8. São Paulo (SP) - 2,82 - nota 9,44
  • 9. Atibaia (SP) - 2,91 - nota 9,42
  • 10. Itapecerica da Serra (SP) - 3,47 - nota 9,31

O ranking das cidades acima de 500 mil habitantes

Na lista das grandes cidades (com mais de 500 mil habitantes), a capital paulista aparece no topo — e com folga. A taxa de homicídios registrada em 2022, de 2,8 assassinatos por 100 mil habitantes, está muito abaixo da segunda colocada, Santo André (SP), que teve 4,5 homicídios por 100 mil habitantes.

Para efeitos de comparação, São Paulo está mais perto de Paris (1 homicídio por 100 mil habitantes) do que de Nova York (4,4), Los Angeles (8,4) e Chicago (22,5).

Cidade - taxa de homicídios - nota

  • 1. São Paulo (SP) - 2,82 - nota 9,44
  • 2. Santo André (SP) - 4,51 - nota 9,10
  • 3. Uberlândia (MG) - 4,55 - nota 9,09
  • 4. Guarulhos (SP) - 5,93 - nota 8,81
  • 5. Sorocaba (SP) - 6,64 - nota 8,67
  • 6. São Bernardo do Campo (SP) - 6,85 - nota 8,63
  • 7. São José dos Campos (SP) - 7,44 - nota 8,51
  • 8. Osasco (SP) - 7,85 - nota 8,43
  • 9. Florianópolis (SC) - 8,36 - nota 8,33
  • 10. Joinville (SC) - 9,55 - nota 8,09

As 10 piores com mais de 500 mil habitantes

No extremo oposto da lista, as dez cidades acima de 500 mil habitantes com a menor nota estão em nove estado das regiões Sudeste, Nordeste e Norte. Com uma taxa de 61,7 assassinatos por 100 mil habitantes, Feira de Santana (BA) teve o pior resultado entre os 44 municípios nesta categoria.

Cidade - taxa de homicídios - nota

  • 35. Serra (ES) - 35,32 - nota 2,77
  • 36. Fortaleza (CE) - 35,36 - nota 2,77
  • 37. Duque de Caxias (RJ) - 38,71 - nota 2,63
  • 38. Maceió (AL) - 39,45 - nota 2,60
  • 39. Teresina (PI) - 39,49 - nota 2,59
  • 40. Aracaju (SE) - 39,65 - nota 2,59
  • 41. Recife (PE) - 42,49 - nota 2,47
  • 42. Manaus (AM) - 55,00 - nota 1,93
  • 43. Salvador (BA) - 60,05 - nota 1,71
  • 44. Feira de Santana (BA) - 61,75 - nota 1,64

Outras estatísticas de segurança

A taxa de homicídios é o indicador mais importante da segurança pública — não só porque sobreviver é a primeira meta de qualquer ser humano, mas porque os dados sobre crimes letais são registrados de forma uniforme ao redor do globo.

Excluídos os homicídios, os indicadores de criminalidade se tornam menos confiáveis. A subnotificação de casos de furto e roubo, por exemplo, costuma ser alta e varia muito de cidade para a cidade.

Uma exceção são os roubos e furtos de veículos — que, por serem de maior valor e por em grande parte das vezes envolverem bens segurados, são formalmente registrados.

Entre as dez cidades da lista de municípios acima de 100 mil habitantes, Botucatu tem os melhores números nesse critério: os índices de roubos (6,2) e furtos de veículos (46,1) por 100 mil habitantes são muito abaixo da média. Nesses critérios, Poá tem um desempenho muito inferior: 219,2 e 246,7, respectivamente.

A evolução de Nova Lima (MG) também merece destaque. Em 207, a cidade teve 93 carros roubados. Em 2023, foram apenas 12.

Os números de 2023

Os homicídios são o único dado de segurança pública confiável no nível municipal. Por isso, não é possível comparar as 5.570 cidades brasileiras usando como critério o tráfico de drogas ou o índice de furtos.

Recém-divulgados, os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública analisam as regiões, e não os municípios. Nese caso, a base são as estatísticas colhidas em 2023.

O estudo leva em conta as chamadas "Mortes Violentas Intencionais", que incluem crimes letais não tipificados como homicídios (como lesões corporais seguidas de morte). Por esse critério, as regiões de Pouso Alegre (MG), Marília (SP), Presidente Prudente (SP), Sorocaba (SP) e São Paulo (SP) são as mais seguras do país.

Já as mais violentas são as regiões de Macapá (AP), Ilhéus-Itabuna (BA), Salvador (BA), Redenção (PA) e Juazeiro (BA).

O levantamento também compilou o índice de roubo e furto de celulares, mas apenas para as cidades com mais de 100 mil habitantes.

Nessa categoria, o pior índice ficou com Manaus (AM), seguida por Teresina (PI), São Paulo (SP), Salvador (BA) e Lauro de Freitas (BA).

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, esse tipo de crime é "peça-chave
no crescimento do medo e da insegurança da população". Mesmo que a taxa de homicídios seja baixa, o alto risco de perder um bem de valor faz com que os brasileiros se sintam inseguros, sobretudo nas grandes cidades.

Sensação de segurança não acompanha estatísticas

O fato de que São Paulo tem a menor taxa de homicídios entre as grandes cidades brasileiras pode surpreender quem não acompanha as estatísticas de perto. Mas essa tem sido a tendência há alguns anos.

Isso não significa que os paulistanos estão seguros, e muito menos que eles se sintam seguros.

"O homicídio não é um indicador adequado para medir o tipo de crime que mais afeta a sensação de segurança, que é roubo. Isso porque enquanto o homicídio se concentra em regiões principalmente sujeitas a disputa por tráfico de drogas, o roubo é mais difuso, afetando rico e pobre", afirma Eduardo Matos.

A regularidade também é um fator importante. Ao contrário das estatísticas, a sensação de segurança não oscila mês a mês. Ela depende de tendências de longo prazo. Alguém que teve um familiar morto durante uma tentativa de assalto dificilmente vai se sentir seguro em São Paulo, mesmo que os números mostrem uma queda na criminalidade.

Além disso, como o São Paulo divulga estatísticas completas de segurança pública quase em tempo real, é possível comparar o desempenho da capital paulista com o de outros municípios utilizando outro critérios. 

Por exemplo: a taxa de roubo a veículos de São Paulo (122,8 mil por 100 mil habitantes) é muito superior à de cidades como São Caetano do Sul (56, 9), Valinhos (37,6), Atibaia (35,5) e Botucatu (6,2). Em Nova Lima (MG), o índice ficou em 10,2.

Já o índice de furto a veículos (332,1) é três vezes a da cidade do Rio de Janeiro (109,4)

Além disso, o aspecto caótico de partes da cidade não contribui. A existência de cracolândias, o alto número de moradores de rua e de favelas contribui para a sensação de desordem, que por sua vez reduz a sensação de segurança.

Saiba mais sobre o ranking da Gazeta do Povo

O levantamento da Gazeta do Povo inclui dez categorias diferentes, e utiliza um total de 21 indicadores. Alguns deles, por serem mais relevantes, ganharam peso maior no cálculo da nota final de cada cidade. Veja abaixo a lista das estatísticas levadas em conta no ranking, além das fontes utilizadas.

1. Educação - Peso 1,5

-IDEB Ensino Fundamental - anos finais (2021)

-IDEB Ensino Médio (2021)

-Índice de analfabetismo (Censo 2022)

-Vagas de ensino superior (Censo da Educação Superior 2022)

2. Taxa de homicídios (IPEA, 2022) - Peso 1,5

3 . Saúde - Peso 1,5

-Número de leitos hospitalares (DataSUS, 2024)

-Mortes evitáveis (DataSUS, 2024)

-Número médicos (DataSUS, 2024)

4. Economia - Peso 1,5

-PIB (Produto Interno Bruto) per capita  (IBGE, 2021)

-População empregada (Caged, 2024)

5. Infraestrutura - Peso 1,5

-Vias públicas com pavimentação e meio-fio na área urbana (IBGE, 2021)

-Domicílios ligados à rede de esgoto (IBGE, 2021)

-Abastecimento de água (IBGE, 2021)

-Aglomerados subnormais (favelas) (IBGE, 2021)

-Domicílios com coleta de lixo 2022 (IBGE, 2021)

6. Expectativa de vida (IBGE, 2021) - Peso 1

7. Mortes no Trânsito (DataSUS, 2022)- Peso 1

8. Suicídios (IPEA, 2021) - Peso 1

9. Cultura - Peso 1

-Salas de cinema (Ancine, 2023)

-Bibliotecas públicas (Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, 2023)

10. Famílias em situação de rua (Cadastro Único para Programas Sociais, 2023) - Peso 1

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