Milhões de cidadãos concluíram há muito tempo que o esporte profissional, as universidades e o mundo do entretenimento já não são instituições isentas, e sim instituições de extrema-esquerda deliberadamente hostis à classe média norte-americana.
Ainda assim, os conservadores insistem em apoiar os tradicionais departamentos de investigação, inteligência e policiamento – sobretudo quando eles sofren ataques orçamentários ou culturais. Mas até isso está mudando.
Pelo que me lembro, esta é a primeira vez que conservadores agora associam a hierarquia do FBI à confusão burocrática, tendenciosidade política e até ilegalidade.
Nos últimos cinco anos, o FBI esteve presente no noticiário com histórias envolvendo as carreiras de James Comey, Andrew McCabe, Robert Mueller, Lisa Page e Peter Strzok. Acrescente a essa lista o advogado Kevin Clinesmith.
A mentira do “conluio russo”, criada pelo FBI, foi marcada pelo vazamento de memorandos confidenciais, documentos forjados, operações de vigilância mal conduzidas e desinformação em série.
Houve ocasiões em que os chefes da CIA e do FBI de antigamente, além do diretor da inteligência nacional, não disseram a verdade sob juramento ou usaram a justificativa do esquecimento, sem que houvesse consequências legais por isso.
Mencione o exército para um conservador hoje em dia e ele infelizmente relacionará a liderança do exército à saída desastrosa do Afeganistão. Poucos oficiais do alto escalão, se é que algum, assumiram a responsabilidade pelo maior fiasco militar dos últimos 50 anos.
Em vez disso, o presidente Joe Biden e seus generais trocaram acusações quanto à responsabilidade pela calamidade. Houve também quem insistisse que a saída abjeta do Afeganistão foi uma obra-prima logística.
Nunca antes na história dos EUA tantos almirantes e generais de quatro estrelas reformados saíram por aí acusando o presidente de ser um traidor, mentiroso, fascista ou até nazista. Nunca antes o papel de conselheiro do presidente do Grupo de Líderes foi tão explicitamente usurpado e distorcido.
Nunca antes o secretário de defesa prometeu que excluiria das forças armadas “supremacistas brancos” sem dar qualquer prova da suposta onipresença deles e de suas conspirações perigosas.
Os conservadores sempre se mostraram intrigados com o progressismo da velha imprensa. E eles a contragosto admitem que muitos jornalistas progressistas no último século foram, ao menos, profissionais. O noticiário relatava a notícia, em vez de inventá-la.
Agora, com o jornalismo “lacrador” do século XXI e com as Big Tech, a coisa é diferente. Poucos repórteres pediram desculpas por disseminarem a mentira do conluio russo que paralisou o país por três anos.
Poucos admitiram a culpa por noticiarem como se fosse fato as muitas fantasias que cercavam a ação que envolve o time de lacrosse da Universidade de Duke ou os meninos da Covington Catholic.
Muitos na imprensa continuam sem fazer a autocrítica quanto ao caso Jussie Smollett e as distorções do tipo “mãos para cima, não atire” do caso Ferguson. Os jornalistas promulgaram a desinformação quanto ao encontro “branco-hispânico” entre George Zimmerman e Trayvon Martin, com fotos manipuladas e imagens editadas.
Eles inventaram o mito do supostamente brilhante governador Andrew Cuomo – agora caído em desgraça – e da “milícia russa de desinformação” que supostamente foi responsável pelo laptop do filho de Biden, Hunter Biden. Recentemente, repórteres espalharam mentiras quanto ao julgamento de Kyle Rittenhouse.
Durante a maior parte de 2020, sugerir que o Instituto de Virologia de Wuhan teve algum envolvimento com o surgimento e disseminação da Covid-19 era visto com maus olhos.
Poucos repórteres apontaram que os órgãos de saúde do governo podiam estar espalhando informações contraditórias ou imprecisas sobre a pandemia. Dizer isso rendia condenações pela imprensa, como se você fosse um conspiracionista ou maluco.
Raramente o setor da comunicação – instrumentos confiáveis do debate público – censurou tanto e de forma tão assimétrica, aplicando padrões tendenciosos para suprimir a liberdade de expressão.
Os conservadores costumavam se opor à regulamentação das grandes empresas. Agora, ironicamente, a maioria deles pede a regulamentação e a quebra dos monopólios bilionários das redes sociais e dos conglomerados de tecnologia que cerceiam a comunicação entre entes privados.
O sistema de justiça penal dos Estados Unidos também era respeitado pelos conservadores. Promotores, chefes de política e prefeitos das grandes cidades eram vistos como protetores da ordem pública. A população confiava que eles manteriam a paz, impediriam e investigariam crimes e prenderiam e processariam os criminosos.
Novamente, agora a situação é bem diferente. Depois de 120 dias de badernas, incêndios criminosos, saques e protestos violentos realizados no verão de 2020, o público perdeu a confiança em seus órgãos de segurança.
Os promotores de diversas cidades — Chicago, Los Angeles, San Francisco e St. Louis — defendem que as ações criminais sejam processadas de acordo com a ideologia, raça ou carreirismo.
Diante da onda de crime atual, bandidos gozam de imunidade. Os saques seguem sem punição. A acusação é feita mais contra pessoas que se defendem do que contra os que atacam inocentes.
Os conservadores perderam a confiança tradicional na administração da justiça, nos órgãos de inteligência e investigação, na liderança militar, na imprensa e no sistema penal.
Ninguém sabe que efeito terá o fato de metade do país ter perdido a fé nos pilares da civilização norte-americana.
Victor Davis Hanson é classicista e historiador em Stanford.
© 2021 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês
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