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A pandemia do novo coronavírus colocou a Organização Mundial da Saúde (OMS) no centro dos noticiários. Políticos do mundo inteiro procuraram esse braço da ONU para obter informações e aconselhamento político e técnico para a implantação de medidas de combate ao vírus. Mas quem é o líder dessa organização que está no centro dessa crise mundial?
Tedros Adhanom Ghebreyesus venceu a eleição para o cargo de diretor geral da OMS em maio de 2017, quando conseguiu 133 votos dos 185 Estados-membros habilitados a votar. Ele se tornou o primeiro africano a liderar a agência da ONU. O chefe da OMS tem doutorado em Saúde Pública pela Universidade de Nottingham, Inglaterra.
Durante a campanha política, em seu discurso na Assembleia Mundial da Saúde, o dr. Tedros afirmou que responderia às emergências futuras “de maneira rápida e eficaz” e estenderia “a cobertura universal de saúde”.
A OMS recebe dinheiro do mundo inteiro para ações coordenadas na área de saúde. A organização internacional teve um orçamento de US$ 4,4 bilhões para o biênio de 2018-2019. Esse orçamento direciona recursos para ações de combate a doenças, promoção da saúde e programas especiais, como a erradicação da pólio. O dinheiro é arrecadado a partir de contribuições voluntárias ou programadas dos Estados-membros. Apesar do crescimento da China, os EUA ainda são o maior contribuidor para o fundo.
O orçamento para 2020-2021 ainda não foi fechado.
Cólera
O dr. Tedros é dono de um passado controverso. Antes de se eleger como diretor da OMS, ele foi acusado de encobrir três epidemias de cólera em seu país de origem, a Etiópia, quando ministro da Saúde. O país era então governado por Meles Zenawi, um dos principais líderes do partido de origem marxista Frente de Libertação do Povo Tigré (partido que se baseou em experiências da Rússia dos bolcheviques, da China maoísta e de Ho Chi Minh. Vietnã), ao qual o dr. Tedros é filiado. Zenawi foi acusado de governar desrespeitando as liberdades civil e impondo uma cultura de repressão política intolerante às dissidências.
Na ocasião da eleição do dr. Tedros para o cargo de diretor-geral da OMS, Lawrence O. Gostin, diretor do Instituo O’Neill de Direito Nacional e Global de Saúde na Universidade Georgetown e conselheiro do principal adversário do dr. Tedros ao cargo de diretor da OMS, o britânico dr. David Navarro, chamou a atenção para a longa história da Etiópia de negar surtos de cólera. Alguns desses surtos ocorreram sob o olhar do dr. Tedros.
À época, Gostin afirmou que “ele [dr. Tedros] tinha o dever de dizer a verdade e identificar e relatar honestamente os surtos de cólera verificados por um período prolongado”. O dr. Tedros se defendeu dizendo que os surtos, ocorridos em 2006, 2009 e 2011, eram apenas “diarreia aguda aquosa” em áreas remotas, onde testes laboratoriais “são difíceis”.
Mas as bactérias de cólera foram encontradas em amostras de fezes testadas por especialistas externos. Além disso, os surtos de cólera atingiram também países vizinhos, dando a entender que a doença se espalhou a partir da Etiópia.
Relação com a China
O dr. Tedros trabalhou estreitamente com a China durante seu tempo como ministro da Saúde da Etiópia. O país asiático foi o principal apoiador de sua candidatura para dirigir a OMS em 2017. Segundo a colunista do Sunday Times Rebecca Myers: “Diplomatas chineses fizeram uma campanha árdua pelo etíope, usando a influência financeira de Pequim e o orçamento de ajuda meio obscuro para criar apoio para ele entre os países em desenvolvimento”. Também Frida Ghitis do Washington Post apontou para o trabalho incansável nos bastidores de Pequim para ajudar o dr. Tedros a vencer o candidato do Reino Unido, David Nabarro.
Logo após sua vitória, o dr. Tedros fez uma visita à China. Durante uma reunião com a ministra da Saúde e Família, Li Bin, a China assinou uma carta de intenções com a OMS, se dispondo a contribuir com US$ 20 milhões para a organização.
Alguns meses depois de assumir a OMS, o dr. Tedros chamou o ex-ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, notório violador dos direitos humanos, para ser embaixador da Boa Vontade da ONU. Ele só recuou após um clamor internacional. Isso apontou para uma possível recompensa política aos 50 estados africanos que ajudaram a garantir sua eleição.
Mas as simpatias do dr. Tedros pela China vêm de longe. Há pelo menos uma manifestação pública em seu Facebook, de 5 de dezembro de 2015, quando ainda era ministro das Relações Exteriores da Etiópia, que comprova isso. “Sob o programa "Go Global" da #China, esperamos um aumento no fluxo de investimentos chineses para a #Etiópia. Os 8 parques industriais identificados na Etiópia, alguns já em construção, facilitarão a migração de empresas chinesas para a Etiópia”, escreveu ele. Sem contar a sua filiação à Frente Democrática Revolucionária do Povo Etíope, coalizão de partidos inspiração marxista, entre os quais a própria Frente de Libertação do Povo Tigré já mencionada anteriormente.
Atuação criticada
Hoje, o dr. Tedros enfrenta um grande desafio em relação à pandemia do novo coronavírus e também está sendo acusado de ocultar informações e fazer o jogo do Partido Comunista Chinês.
O vice-primeiro-ministro do Japão, Taro Asos, criticou a OMS por sua “avaliação inadequada para combater o surto de coronavírus”. De fato, a OMS demorou a alertar o mundo sobre a periculosidade da doença.
Em 14 de janeiro deste ano, quando já havia notícias de que o surto do novo coronavírus estava se espalhando na província Wuhan, na China, a OMS, por meio de seu Twitter oficial, simplesmente repassou a informação do Partido Comunista Chinês de que “as investigações preliminares conduzidas pelas autoridade chinesas não encontraram evidência que novo coronavírus é transmitido entre humanos”.
Em 30 de janeiro, a OMS informou que “a transmissão do vírus de pessoa para pessoa fora da China era muito limitada”. O dr. Tedros e sua agência não aconselharam o fechamento de fronteiras, a limitação de contato social, nada.
Até o dia 11 de fevereiro, a maior preocupação da instituição era dar um nome para vírus antes que algum senhor de cabelos laranjas não o ligasse à Wuham ou à China, chamando-o de chinese virus ou algo do gênero. Assim, a doença recebeu o simpático nome de Covid-19 - e continuou se alastrando. Só no mês de janeiro, 7 milhões de pessoas deixaram Wuhan, espalhando o vírus por toda a China e pelo mundo.
Ainda em 3 de fevereiro, o chefe da OMS clamava aos países para não fecharem as fronteiras para com a China.
Hoje em dia, a OMS, sob o comando do dr. Tedros, se limita a divulgar as alegações da China de que o país reduziu o número de novas infecções a zero. Mas já se sabe que as autoridades chinesas (que usaram isso como propaganda para exportar o modelo de quarentena para o mundo) mentiram sobre o tamanho real da epidemia.
As antigas relações entre o dr. Tedros e a China mostraram-se desastrosas nessa crise do coronavírus. Um estudo constatou que “se as intervenções na [China] tivessem sido realizadas uma semana, duas ou três semanas antes, os casos poderiam ser reduzidos em 66%, 86% e 95%, respectivamente - limitando significativamente a propagação geográfica da doença”.
A gestão da OMS, por meio de seu diretor geral, tem se mostrado desacertada até o momento. Já existe na Internet um abaixo-assinado com 700 mil assinaturas pedindo pedindo a renúncia do dr. Tedros. É bem provável que, após a resolução do surto de Covid-19, a atuação do dr. Tedros e o papel da OMS como farol da resolução de crises globais de epidemias sejam revisados.