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Pessoas comemoram, durante manifestação, a decisão da justiça uruguaia de suspender a vacinação de crianças menores de 13 anos, em Montevidéu (Uruguai), no dia 07 de julho de 2022.
Pessoas comemoram, durante manifestação, a decisão da justiça uruguaia de suspender a vacinação de crianças menores de 13 anos, em Montevidéu (Uruguai), no dia 07 de julho de 2022.| Foto: EFE/Raúl Martínez

Se o desemprego já era uma preocupação crescente entre os jovens latino-americanos, a Covid-19 veio a intensificar essa tendência, que se mantém até hoje. Os países da América Latina e do Caribe têm em comum o fato de que a taxa de desemprego juvenil duplica a média geral da região. Além da pandemia, influenciam a falta de oportunidades, a lacuna de conhecimento e a informalidade.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT), em seu relatório “Panorama Laboral 2023”, sublinhou que a criação de empregos para os jovens representa um “desafio importante” na América Latina e no Caribe, “onde sua entrada na vida laboral está marcada por altas taxas de desemprego e informalidade”.

O relatório destacou que a crise gerada pela pandemia nos mercados de trabalho aumentou a taxa de desemprego entre os jovens latino-americanos e caribenhos, em alguns países, para mais de 20%. Isso significa o triplo da taxa dos adultos e mais do dobro da taxa geral de desemprego na região. Em números absolutos, são mais de 10 milhões de jovens em busca de trabalho sem sucesso.

A OIT alertou ainda que seis em cada dez jovens que conseguem um emprego terminam na economia informal, o que implica – em geral – más condições de trabalho, ausência de benefícios e baixos salários. Além disso, os jovens sofrem uma notável “intermitência laboral”, com frequentes entradas e saídas do mercado de trabalho.

Costa Rica e Uruguai, os mais afetados

Em meados de 2021, a OIT já alertava que o impacto da pandemia colocava a população jovem da América Latina e do Caribe em risco de se tornar uma “geração sem oportunidades laborais ou educacionais para construir um futuro melhor”. Naquele momento, os números mostravam uma taxa de desemprego de 23,8% entre os jovens de 15 a 24 anos no primeiro trimestre de 2021, o nível mais alto desde 2006, ano em que começaram esses registros. A cifra representava um aumento de mais de três pontos percentuais em relação ao nível pré-pandemia.

Em maio passado, representantes dos ministérios do Trabalho de 22 países da América Latina e do Caribe se reuniram no Equador para analisar e buscar soluções para essa situação. Com dados atualizados da OIT, destacaram que o desemprego juvenil atinge 14,4%. Essa média é o dobro do percentual geral de desemprego na América Latina, que é de 6,5%.

Nesse encontro, também foi revelado que sete países da região têm níveis de desemprego juvenil ainda mais elevados, como Costa Rica (27,4%), Uruguai (26%), Chile (20%), Colômbia (20%), Brasil (18%), Panamá (18%) e Argentina (16%).

“A recuperação do emprego tem se baseado em trabalhos informais. Praticamente, metade dos trabalhadores da região atua hoje em condições de informalidade, com toda a precariedade que isso implica”, afirmou Marcos Pinta Gama, secretário adjunto Ibero-Americano da Secretaria-Geral Ibero-Americana (Segib), presente na cúpula equatoriana.

O efeito da pandemia

A pandemia de covid-19 afetou duramente o emprego dos jovens não só na América Latina, mas também a nível global.

O Banco Mundial (BM) indicou, em fevereiro de 2023, que, no final de 2021, 40 milhões de pessoas em todo o mundo que poderiam ter tido um emprego em condições normais não o conseguiram, o que agravou as tendências de desemprego juvenil. De fato, “a oportunidade para abordar os retrocessos na acumulação de capital humano é pequena, pois as lacunas registradas nas primeiras etapas do ciclo de vida tendem a se ampliar com o tempo”, alertou o BM.

E isso é mais preocupante se considerarmos que “as pessoas que hoje têm menos de 25 anos, ou seja, as mais afetadas pela erosão do capital humano, formarão mais de 90% da força de trabalho em plena idade produtiva em 2050”, afirmou Norbert Schady, economista-chefe de Desenvolvimento Humano do BM e um dos principais autores do relatório. Por isso, “reverter o impacto da pandemia sobre eles e investir em seu futuro deve ser uma das principais prioridades dos governos. Caso contrário, essas coortes não só representarão uma geração perdida, mas várias gerações perdidas”, acrescentou.

Experiência, habilidades e demanda

Federico Muttoni, analista de mercado de trabalho e diretor e sócio da consultoria de recursos humanos Advice Uruguay, apontou a falta de experiência, a lacuna de habilidades e uma demanda limitada – a proporção de oportunidades de emprego direcionadas a pessoas com menos de 30 anos é baixa – como razões pelas quais a taxa de desemprego entre os jovens na América Latina é muito superior à taxa geral.

“Uma das principais razões é a falta de experiência. Muitos empregadores buscam candidatos com experiência prévia, mesmo para cargos de entrada”, disse. Com base no Monitor Laboral de outubro de 2023, que a Advice elabora, 72,4% das oportunidades de emprego em posições de entrada no mercado de trabalho exigem essa condição, uma cifra que aumentou desde os 60,5% em 2019. São números uruguaios, mas que podem ser extrapolados para toda a região.

Em relação à lacuna de habilidades, Muttoni mencionou que existe uma discrepância entre as habilidades adquiridas na formação acadêmica e as demandadas pelo mercado de trabalho. “49,4% das oportunidades de emprego em posições de entrada exigem pelo menos uma habilidade interpessoal, e 19,1% exigem conhecimentos em ferramentas tecnológicas”, afirmou.

O especialista também acredita que a falta de formação específica impacta na geração de empregos para os jovens, com uma formação acadêmica que “nem sempre está alinhada” às necessidades do mercado de trabalho: “A demanda por competências, tanto interpessoais quanto técnicas, é alta, e muitas vezes os jovens não possuem essas habilidades ao terminar seus estudos”.

“Muitos países enfrentam desafios semelhantes com o desemprego juvenil em nível mundial. No entanto, a taxa de desemprego juvenil em algumas regiões (como América Latina e Caribe) pode ser exacerbada por sistemas educacionais que não evoluem no ritmo das demandas do mercado de trabalho global”, acrescentou.

Muttoni também entende que a informalidade laboral afeta “significativamente” o emprego dos jovens, pois estes não costumam exigir contratos formais, benefícios nem proteções laborais, “o que pode ser atraente para empregadores que buscam reduzir custos”. Mas esses trabalhos não oferecem “estabilidade nem oportunidades de desenvolvimento profissional”, o que perpetua o ciclo de desemprego e subemprego juvenil. Isso também aumenta a possibilidade de serem demitidos.

O incentivo como solução

Diante desse panorama, Muttoni destacou que no Uruguai já são aplicadas algumas soluções com diferentes níveis de sucesso em seus resultados, e que outras estão pendentes. O especialista disse que é necessário melhorar a formação e a educação, para alcançar uma aliança educacional em que os programas estejam em consonância com o mercado de trabalho e incluam habilidades interpessoais e competências tecnológicas.

Ao mesmo tempo, chamou a fomentar a criação de programas de estágios e aprendizagens que permitam aos jovens adquirir experiência laboral relevante antes de se formarem, e a realizar um teste de orientação vocacional para convidar as pessoas a “realizar uma viagem de autoconhecimento para se aproximar de seus interesses e habilidades com o objetivo de encontrar a melhor opção para seu futuro”.

“Seus resultados fornecerão uma visão geral dos tipos de conhecimentos que combinam com a personalidade e seus interesses. Essas ferramentas poderiam mitigar a evasão dos jovens do sistema educacional e incentivar sua educação”, afirmou Muttoni.

As políticas de inclusão laboral, como incentivos a empregadores, devem ser integradas à equação. “Trata-se de oferecer incentivos fiscais e subsídios às empresas que contratem jovens sem experiência”, assim como “implementar programas que combinem educação teórica com formação prática em empresas”, disse o especialista em mercado de trabalho.

Para reduzir a informalidade, recomendou criar políticas que facilitem a regularização de empregos informais, para assegurar “proteções e benefícios laborais para os jovens”, informá-los sobre “seus direitos laborais e os benefícios de empregos formais”, e prover-lhes financiamento e programas de mentoria aos empreendedores, ajudando-os a iniciar e gerenciar seus próprios negócios. Essas medidas podem “ajudar a reduzir a taxa de desemprego juvenil e melhorar as perspectivas laborais dos jovens na região”, afirmou Muttoni.

Copyright Aceprensa 2024. Publicado com permissão. Original em espanhol: El persistente impacto de la pandemia en el desempleo juvenil en América Latina

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