Partidos anti-imigrantes há tempos estão relacionando a imigração ao crime, mas dados verificáveis que sustentassem seus argumentos eram escassos, especialmente porque os serviços policiais e agências de estatísticas estavam relutantes em rastrear este tipo de crime para não aumentar a tensão na sociedade. Isso faz de um recém publicado estudo alemão um importante ponto de referência. Ele é um dos primeiros a tentar mensurar os efeitos da onda de refugiados em 2015 e 2016 em crimes violentos na Alemanha, e embora possa ser utilizado para reforçar a agenda dos anti-imigrantes, ele também sugere políticas razoáveis para mitigar os problemas.
Conduzido por Christian Pfeiffer, Dirk Baier e Soeren Kliem da Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique, o estudo encomendado pelo governo usa dados do quarto estado mais populoso da Alemanha, a Baixa Saxônia, casa da Volkswagen. Cerca de 750 mil dos 8 milhões de residentes de lá não possuem cidadania alemã e, de acordo com dados oficiais do fim de 2016, aproximadamente 170 mil deles solicitaram asilo. Este também é o quarto maior número na Alemanha.
Os pesquisadores utilizaram dados especificamente sobre os imigrantes que haviam requerido asilo, que tiveram a solicitação atendida ou não, e que chegaram no país em 2015 e 2016. A polícia do estado não tem publicado tais estatísticas, mas eles auxiliaram a equipe de pesquisa. Os dados mostraram que os refugiados que buscavam asilo tinham revertido a tendência decrescente de crimes violentos na Baixa Saxônia. Enquanto que entre 2007 e 2014 o registro destes crimes tinham caído 21,9%, no fim de 2016 o número havia aumentado em 10,4%. 83% dos casos foram resolvidos - e 92,1% do aumento foi atribuído aos recém chegados.
Este é um número que o partido anti-imigrantes Alternativa para a Alemanha (AfD), que conquistou espaço no parlamento graças a sua forte oposição à decisão da chanceler Angela Merkel em permitir a entrada de mais de um milhão de refugiados, poderia escrever em seus cartazes. Outros pontos dos dados também são condenatórios. Entre 2014 e 2016, a parcela de crimes violentos solucionados atribuídos aos refugiados em busca de asilo aumentou de 4,3% para 13,3% - uma parcela desproporcionalmente alta comparada à população estrangeira do estado.
De acordo com os argumentos dos políticos anti-imigrantes, o aumento no número de crimes violentos podem parcialmente ser explicados pela estrutura demográfica dos recém chegados. Aproximadamente 27% deles eram homens com idade entre 14 e 30 anos; este grupo representava apenas 9% da população geral da Baixa Saxônia em 2014. E são esses jovens homens que cometeram cerca de metade dos crimes violentos na Alemanha.
Conclusões
Se o governo da Alemanha tivesse admitido essa dura realidade, a punição de Merkel pela sua generosidade com os refugiados poderia ser mais severa e a Alternativa para a Alemanha poderia ter feito ainda melhor. As agências do governo alemão estavam despreparadas para lidar com tamanho fluxo de imigrantes buscando asilo, e a sociedade alemã está pagando o preço por esta falta de preparo.Os alemães, entretanto, são bons em reconhecer e corrigir erros, e a pesquisa de Pfeiffer providencia algumas dicas de qualidade no que pode ser feito para melhorar a situação. Diferente do que a Alternativa para a Alemanha tem feito.
Uma valiosa conclusão que pode ser tirada dos dados é que os crimes violentos cometidos pelas pessoas em busca de asilo variam nitidamente conforme o país de origem. Enquanto genuínos refugiados de zonas de guerra da Síria, Iraque e Afeganistão cometem uma proporção menor dos crimes em relação a sua parcela na população total que busca por refúgio, recém chegados do Marrocos, da Algéria e da Tunísia estão muito mais visíveis nas estatísticas criminais por seu pequeno número. Isto pode ser atribuído ao seu histórico regional: uma pesquisa feita na Holanda, que possui uma grande população marroquina, tem mostrado que às vezes há uma conexão entre a cultura do país de origem dos imigrantes e a sua propensão à violência, embora a situação econômica deles tenha sido apontada como um fator de contribuição muito maior.
Pfeiffer e seus colaboradores, entretanto, oferecem explicações diferentes: a baixa probabilidade de os norte africanos ficarem no país e em especial a grande presença de homens jovens aguardando asilo.
A divisão de crimes específicos cometidos por aqueles que buscam refúgio é igualmente provocadora. Em 91% dos assassinatos e ¾ dos casos envolvendo graves danos corporais as vítimas são também migrantes. E em 70% dos assaltos e 58,6% dos estupros e abusos sexuais, as vítimas são alemãs.
As explicações são intuitivas. Os refugiados geralmente dividem quartos apertados, o que frequentemente resulta em conflitos. Por meses após a chegada, eles são proibidos de trabalhar e suas habilidades no novo idioma e condições geralmente fazem com que eles não consigam emprego mesmo depois que as restrições são retiradas -- então assaltos são motivados pelo ciúme dos habitantes locais e falta de meios legítimos para conseguir dinheiro. Quanto aos crimes de sexo, é desconcertante pensar que isto reflete um comportamento que não é punido, ou até é encorajado, em seus países de origem; este certamente é o caso que os refugiados não tem certeza de como se comportar em relação às mulheres locais - e muitos deles não levam suas esposas com eles para lá.
A grande maioria dos jovens homens refugiados vivem aqui sem suas companheiras, mães, irmãs ou outras mulheres pelas quais tem carinho. Como resultado, a prevenção da violência, efeito civilizatório que vem das mulheres, é muito limitada. Grupos de homens jovens com uma dinâmica interna orientada para a violência podem ser formados entre os refugiados. As demandas pela reunificação das famílias encontram aqui uma justificativa criminológica
Uma possível saída
Políticos anti-imigrantes não possuem as respostas; seus instintos estão propensos a exacerbar muitos destes problemas. Na Áustria, o programa da coalizão de governo, que inclui o Partido da Liberdade, da extrema-direita, demanda que seja negada aos refugiados habitação no setor privado - presumidamente para que possa ser mais fácil controlá-los. Isto, entretanto, pode apenas aumentar a claustrofobia que leva a confrontos mortais. Um albergue cheio de jovens homens frustrados é um barril de pólvora.
Em março de 2016, o governo alemão suspendeu a reunificação das famílias dos refugiados que possuíam status de “proteção subsidiária”, o que se aplica a mais de 20% dos solicitantes em 2017. Naturalmente, aqueles cujas inscrições foram recusadas mas que ainda estão na Alemanha tentando recursos (mais de um terço dos solicitantes em 2017) não podem levar suas famílias para lá. A suspensão acaba em março, e a Alternativa pela Alemanha e o liberal Democratas Livres querem prorrogá-la, enquanto que os partidos de esquerda se opõem a qualquer ampliação. Se o estudo de Pfeiffer é alguma indicação, os esquerdistas têm a melhor ideia. Os pesquisadores escreveram:
“A grande maioria dos jovens homens refugiados vivem aqui sem suas companheiras, mães, irmãs ou outras mulheres pelas quais tem carinho. Como resultado, a prevenção da violência, efeito civilizatório que vem das mulheres, é muito limitada. Grupos de homens jovens com uma dinâmica interna orientada para a violência podem ser formados entre os refugiados. As demandas pela reunificação das famílias encontram aqui uma justificativa criminológica”.
Sob pressão para pacificar os eleitores, o governo da Alemanha tem recusado uma grande porcentagem de requerimentos de asilo do que em 2015 e 2016 e tem tentado expulsar mais imigrantes indesejáveis. O que não necessariamente reduziu a criminalidade: aqueles que já estão na Alemanha mas sabem que será difícil encontrar um meio legal para ficar estão mais frustrados e motivados a se juntar ao submundo.
Não há como negar que a imigração desordenada de 2015 e 2016 tem resultado em danos mensuráveis para a sociedade alemã. Apesar do seu enorme problema com o envelhecimento da população e sua necessidade por imigrantes, a Alemanha tem aprendido, do jeito mais difícil, que deve ter mais controle sobre quem entra no país.
Mas também deve seguir adiante do trauma da impactante decisão de Merkel para trabalhar mais significativamente com os recém-chegados, que estão lá, em sua maioria, para ficar, independentemente do que os políticos possam pensar. Isto significa propiciar forte treinamento profissional e do idioma, oferecer mais opções de moradia e permitir que as famílias se reúnam para fazer frente ao desequilíbrio de gênero. Ações policiais fortes e transparentes também são requeridas para proteger as normas sociais e manter a sociedade adequadamente informada, mesmo se os dados pareçam estimular atitudes anti-imigrantes. Integração inclui recompensa e repreensão para que os recém chegados aprendam sobre as oportunidades que vem com a mudança para a Europa e os limites que ela impõe.
*Bershidsky é colunista do Bloomberg View.
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