
Cinco anos depois de a pandemia de Covid-19 levar governos mundo afora a restringir a circulação de pessoas, um novo livro demonstra que as medidas trouxeram benefício nulo e não justificaram os custos financeiros, sociais e educacionais.
Embora a tese já fosse defendida há muito tempo por especialistas, a admissão chegou ao mainstream acadêmico e jornalístico.
Nesta quinta-feira (20), o podcast diário do jornal The New York Times entrevistou dois professores do Departamento de Ciência Política da Universidade de Princeton que acabam de lançar um livro sobre o assunto. A obra ganhou o título de “In Covid's wake: how our politics failed us” (em tradução livre, “Na esteira da Covid: como nossa política falhou conosco”.
Stephen Macedo e Frances Lee, analisaram a eficácia das políticas que restringiram a circulação de pessoas e obrigaram escolas, igrejas e estabelecimentos comerciais a fecharem as portas durante o auge da pandemia.
O veredito deles: o jornalismo e a ciência falharam em sua missão de questionar se os lockdowns eram mesmo necessários.
O foco do livro é os Estados Unidos, mas as lições se aplicam a outros países que optaram por uma abordagem semelhante.
Falta de evidências a favor dos lockdowns deixou pesquisador chocado
Durante a entrevista, Macedo disse que começou a investigar o tema mais a fundo apenas em 2022, e que ficou “chocado” com o que encontrou.
Segundo ele, vários relatórios anteriores à Covid-19, elaborados inclusive pela Organização Mundial de Saúde, eram céticos quanto à eficácia de fechar espaços públicos e restringir a circulação de pessoas no caso de uma epidemia de grandes proporções.
"Este estudo da Organização Mundial da Saúde tinha como objetivo examinar, intervenção por intervenção, quais delas têm evidências de eficácia contra uma pandemia respiratória. Todas as medidas foram classificadas como tendo evidências muito fracas. Em outras palavras, não sabemos se essas medidas funcionam", reforça Lee.
Os autores afirmam que, logo no início da pandemia, cientistas, autoridades e comunicadores trataram de excluir qualquer ponto de vista que colocasse em dúvida a necessidade de lockdowns.
"Essas instituições, que chamamos de perseguidoras da verdade, não funcionaram tão bem quanto deveriam durante a Covid. Houve um consenso prematuro sobre as políticas, uma relutância em reexaminar suposições e uma intolerância à crítica e a pontos de vista divergentes", analisa Macedo.
“Tornou-se o mantra da pandemia que deveríamos seguir a ciência, mas simplesmente não havia um corpo de trabalho científico que fundamentasse a resposta e nos levasse a concluir que essas medidas provavelmente seriam eficazes", afirma Lee.
Modelo chinês influenciou outros países
Mas, se não havia indícios de que os lockdowns eram eficazes, por que tantos governos decidiram restringir a circulação de pessoas? Para os autores do novo livro, a resposta tem a ver com o país onde a pandemia teve início: a China. Previsivelmente, a reação do regime chinês ao surgimento da Covid-19 foi reprimir a população.
Mas, com a chancela da Organização Mundial da Saúde, o modelo se espalhou para outros países junto com o vírus. "A Organização Mundial da Saúde enviou uma equipe para a China e, após passar apenas uma semana lá, emitiu um relatório endossando totalmente a abordagem chinesa", diz Macedo.
Em pânico com a chegada do vírus, o governo italiano logo copiou a abordagem chinesa. "A Itália demonstrou que uma população ocidental estava disposta a aceitar um lockdown nacional e isso, eu acho, teve um efeito demonstrativo", Macedo afirma.
O professor de Princeton acredita que o debate sobre as consequências dos lockdowns deveria ter sido feito com mais equilíbrio. Na visão dele, boa parte dos formadores de opinião desenvolveu uma forma distorcida de ver a realidade na qual o único indicador levado em conta era a propagação da Covid, sem que outros fatores fossem considerados — entre eles, a opinião da população.
Estados com políticas mais restritivas não salvaram vidas
Os autores do livro também compararam o desempenho dos estados democratas (onde as restrições foram mais severas durante a pandemia) com o dos republicanos. A conclusão deles é que não houve diferença no índice de mortalidade.
Ela disse que a diferença na mortalidade começou a aparecer depois do início da vacinação. Estados governados por republicanos tiveram uma adesão menor à vacina, e como consequência mais mortes por Covid-19 que estados democratas.
De forma geral, segundo Macedo, os lockdowns atrasaram a propagação do vírus, mas não evitaram as mortes: "Há algumas evidências de que as intervenções não farmacêuticas de vários tipos, as medidas de lockdown, fechamento de escolas, etc., reduziram um pouco a propagação do vírus, mas mesmo os relatórios otimistas que enfatizam isso e chamam isso de sucesso não mostram evidências de redução significativa de mortes", ele afirma.
Os benefícios dos lockdowns foram nulos, mas os custos são visíveis. Segundo os autores, eles incluem a queda no nível de aprendizado das crianças e, gastos financeiros massivos para compensar o impacto econômico dos lockdowns.
Apenas 10% dos trilhões de dólares gastos pelo governo americano com a pandemia foram aplicados em medidas sanitárias. O restante custeou medidas de auxílio financeiro à população e ao setor privado.
Para Macedo, a principal conclusão a ser tirada do episódio é que devemos confiar menos na elite científica. "Precisamos considerar os custos e os benefícios esperados das políticas adotadas, especialmente essas medidas de distanciamento social. E precisamos ter uma deliberação mais ampla e mais tolerante sobre essas questões, sem depositar tanta autoridade em especialistas que distorcem a realidade", afirma.
Esta reportagem utilizou o Google NotebookLM como ferramenta de apoio para compilação e análise de dados durante o processo de apuração jornalística. O texto foi integralmente redigido pelo autor, sem uso de ferramentas automatizadas de redação.
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