O psicólogo James R. Flynn é um especialista em inteligência. Seus estudos sobre os testes de QI (quociente intelectual) lhe renderam notoriedade no meio acadêmico e reconhecimento com a popularização do conceito por ele elaborado — o Efeito Flynn. De acordo com a teoria desenvolvida por Flynn, os testes de QI devem ser atualizados a cada 25 anos para refletir a melhoria na nutrição, na educação e os ambientes mais estimulantes a que estão expostos os seres humanos.
Era sob a perspectiva da evolução da inteligência que Flynn escreveu o aguardado livro In Defense of Free Speech: The University as Censor [Em defesa da liberdade de expressão: a universidade como censora]. O livro estava programado para ser lançado este mês pela prestigiada editora Emerald Press. Só que em junho a editora decidiu não publicar mais o livro.
Na obra, Flynn fala da universidade como ambiente destinado a dar aos estudantes as capacidades intelectuais necessárias para ele expor um raciocínio crítico. “A liberdade de debate é fundamental para o desenvolvimento do pensamento crítico, mas nos campi universitários de hoje a liberdade de expressão sofre restrições por medo da ofensa. James Flynn analisa como as universidades censuram o ensino, como o ativismo estudantil tende a censurar o lado oposto e como os acadêmicos se censuram”, lê-se na sinopse do livro.
No e-mail enviado ao autor por Tony Roche, diretor da Emerald Press, diz que a publicação do livro, sobretudo no Reino Unido, seria “preocupante”. “Por causa do tema, o livro trata de assuntos sensíveis como raça, religião e gênero. A forma como o senhor lida com esses assuntos, sobretudo no começo da obra, embora editorialmente impactante, aumenta o risco de reações”.
O editor prossegue dizendo que o livro, embora sem nenhum conteúdo racista, “pode despertar o ódio racial”. Ele manifesta preocupação com algumas passagens do livro que, tiradas do contexto, podem circular nas redes sociais. Por fim, o editor diz temer ações legais porque o livro, que fala de como a universidade pode atuar como censora, menciona nomes, atitudes e instituições para basear a tese de que o meio acadêmico está contaminado por uma mentalidade censora. “Levando em conta os assuntos envolvidos, [o livro] pode causar danos sérios para a reputação da Emerald”, diz o e-mail.
O e-mail do editor temeroso levou o autor a mudar o nome do livro para A Banned Book: Free Speech and Universities [Um livro proibido: liberdade de expressão e as universidades]. Ele agora espera que um editor menos amedrontado pelas redes sociais e pelos ativistas virtuais tenha a coragem necessária para defender a liberdade de expressão com a publicação do livro.
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