Durante um discurso em Harvard, há muitos anos, o empresário Charlie Munger contou a história de um cirurgião que tinha tirado “cestos e mais cestos cheios de vesículas” dos seus pacientes. O médico foi finalmente demitido, só que muito depois do que seria aceitável.
Munger, vice-presidente do conglomerado Berkshire Hathaway, se perguntava o que havia motivado o médico a fazer aquilo. Então ele decidiu perguntar a um cirurgião que participara do processo de demissão do colega.
“Ele achava que a vesícula era a fonte de todos os males para a saúde e que, se você realmente amava seus pacientes, tinha de tirar a vesícula deles imediatamente”, explicou o médico.
O cirurgião não era motivado por dinheiro ou sadismo; ele realmente acreditava que estava fazendo o certo.
A falácia da virtude
A história ilustra perfeitamente a falácia da virtude que, de acordo com o professor de economia Barry Brownstein, está em ascensão na política moderna e é uma das principais justificativas do socialismo democrático.
A Falácia da Virtude (também conhecida como a falácia das boas intenções) é descrita pelo escritor dr. Bo Bennett como a ideia de que uma pessoa tem razão somente porque suas intenções são puras.
Recentemente, me dei conta de que a Califórnia é o exemplo perfeito dessa falácia. Reflita sobre esses três dados a respeito do Golden State:
- A Califórnia gasta cerca de $98,5 bilhões por ano em programas assistenciais – o maior valor entre os estados norte-americanos – mas também tem a maior taxa de pobreza dos Estados Unidos.
- A Califórnia tem a maior alíquota de imposto de renda dos Estados Unidos, 13,3%, mas tem também a quarta maior desigualdade de renda entre os 50 estados.
- A Califórnia tem um dos mercados imobiliários mais regulamentados dos Estados Unidos, mas ao mesmo tempo tem a maior população de moradores de rua do país e é o penúltimo colocado entre os estados quando se trata de oferta de moradia.
O perigo de privilegiar a intenção, não o resultado
O fato de os políticos insistirem em medidas prejudiciais não surpreende ninguém. O economista e vencedor do Prêmio Nobel Milton Friedman disse certa vez que os políticos são incrivelmente hábeis em “avaliar políticas e programas com base em suas intenções, não resultados”.
Em seu livro Capitalismo e Liberdade, Friedman descreveu os perigos de tal ideia.
[A ameaça vem] de homens de boas intenções e boa vontade que querem nos mudar. Impacientes com a lentidão da persuasão e ansiosos por alcançarem as grandes mudanças sociais que imaginam, eles querem usar o poder do Estado para alcançar os fins e confiam demais em sua capacidade de gerar tais mudanças. Ainda assim, o poder concentrado não deixa de ser danoso apenas pelas boas intenções daqueles que o criaram.
Não duvido que os legisladores da Califórnia, como o médico que tirava vesículas saudáveis dos pacientes, acreditam que estejam fazendo a coisa certa. Ainda assim eles, como o médico, precisam entender a realidade e perceber que não estão melhorando a vida das pessoas.
Jonathan Miltimore é editor-executivo do site FEE.org.
© 2019 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês.
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