Pode-se contar com a máquina de propaganda norte coreana para fazer afirmações anti-americanas usando formulações como “imperialista”, “agressor” e “hostil” em qualquer dia da semana.
A família Kim manteve a Coreia do Norte em rédeas curtas por quase sete décadas perpetuando a ideia que os americanos estão prontos para pegá-los. Desde cedo, crianças norte coreanas são ensinadas que os astutos lobos americanos - ilustrados como homens pálidos, loiros e com narizes grandes - querem matá-las.
Jardins de infância e creches são decorados com animais segurando granadas e armas. Desenhos animados mostram esquilos soldados corajosos (e norte coreanos) triunfando sobre os lobos (americanos).
“Os norte coreanos vivem em guerra mentalmente e a propaganda anti-americana é o mesmo tipo de propaganda propaganda de uma época de guerra”, disse Tatiana Gabroussenko, especialista em propaganda da Coreia do Norte e professora da Universidade da Coreia em Seoul.
Mas o fato é: existe alguma verdade na versão norte coreana dos eventos. É só um caroço, e é muito exagerado, mas norte coreanos lembram muito bem de algo que boa parte dos americanos já esqueceu ou nunca soube: a Guerra da Coreia foi particularmente bruta.
“A Coreia é conhecida como a guerra esquecida, e parte do que foi esquecido foi a devastação e ruína absoluta que nós lançamos na população norte coreana”, disse John Delury, professor do departamento de relações internacionais da Universidade Yonsei em Seoul. “Mas isso está marcado na psyche norte coreana”.
Primeiro um pouco de história
A península coreana, anteriormente ocupada pelo Japão, foi dividida no fim da Segunda Guerra Mundial. Dean Rusk, então coronel do exército (ele se tornaria depois Secretário de Estado), pegou um mapa e fez uma linha que acompanhava o Paralelo 38 N. Para a surpresa dos americanos, a União Soviética concordou com a fronteira, e em 1948 foram estabelecidas. A Coreia do Norte, apoiada pelos soviéticos, e a Coreia do Sul, apoiada pelos americanos, como uma medida temporária.
Em junho de 1950, Kim II Sung, nomeado pelos soviéticos para liderar a Coreia do Norte, tentou reunificar a península pela força e invadiu o sul. (Na versão norte coreana, o sul e seus patronos imperialistas que começaram o conflito).
O sul era surpreendente bem sucedido antes do general Douglas MacArthur chegar com suas tropas nas margens de Incheon, mandando as tropas do norte de volta para casa. Os chineses então se envolveram, conseguindo mandá-los de volta até onde começaram, no Paralelo 38 N.
Tudo isso aconteceu nos primeiros seis meses. Nos dois anos e meio seguintes, nenhum lado conseguiu fazer nenhum progresso. A guerra acabou em 1953, depois de muito sangue.
"O número de coreanos mortos, feridos ou desaparecidos perto do fim da guerra chegava ao número de três milhões, o que representa 10% da população", escreveu Charles K. Armstrong, um professor de história coreana na Universidade Columbia em um ensaio. "A maior parte dos mortos era do norte, que tinha metade da população do sul".
Mas a guerra terminou com um armistício, não um tratado de paz. O que significa que, até o dia de hoje, as Coreias do Sul e do Norte continuam em um estado técnico de guerra.
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