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Por que a educação não permite que as pessoas sejam mais criativas?

O físico ganhador do Nobel Richard Feynman aprendeu o conceito de "inércia" por meio de um exemplo prático apresentado por seu pai.
O físico ganhador do Nobel Richard Feynman aprendeu o conceito de "inércia" por meio de um exemplo prático apresentado por seu pai. (Foto: Wikimedia Commons)

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Michael Michalko ficou conhecido no exército americano por organizar uma equipe de especialistas em inteligência da Otan para pesquisar, coletar e categorizar todos os métodos de pensamento inventivo conhecidos.

Anos depois, já fora das forças armadas, ganhou notoriedade também no meio literário, com o best-seller ‘Thinkertoys’, uma coleção de exercícios de criatividade que rapidamente foi adotada por educadores, designers, publicitários e empresários.

Em ‘Pensamento Criativo: Colocando a Imaginação para Trabalhar’ (Editora Hábito), Michalko ensina novas técnicas para libertar as ideias e mostra por que a criatividade natural é muitas vezes limitada pelo sistema educacional vigente. Leia um trecho a seguir.

Vamos à escola e aprendemos sobre Albert Einstein e suas teorias sobre o universo. Contudo, ninguém nos ensina como ele aprendeu a pensar.

Não nos dizem qual era sua atitude em relação à vida, quais eram suas intenções, como ele falava, como determinava o que observar no mundo, como se comportava com outras pessoas, nem de que forma via o mundo.

Simplesmente nos ensinam que ele era um gênio. Aprendemos pouco ou nada sobre seu processo de pensamento, que ele chamou de “jogo combinatório”: a combinação conceitual de imagens no mesmo espaço mental.

Somos apresentados à sua ideia de “jogo combinatório” como o produto de um intelecto geneticamente superior.

Fazendo uma analogia, é como se fôssemos ensinados a medir a precipitação diária pelo aumento da água em um balde, sem nunca percebermos que a chuva chega em gotas individuais.

A análise acadêmica e a medição do pensamento criativo alteraram o nosso conceito sobre ele.

Os pedantes limitaram-se a tomar o simples processo natural da combinação conceitual e fragmentá-lo em partes (por exemplo, o ato de combinar objetos, de combinar opostos, de combinar tese e antítese para criar uma síntese, de combinar diferentes domínios, de combinar ideias ou de combinar um assunto com estímulos aleatórios), dando a cada parte um nome diferente, e produziram a ilusão de que o pensamento criativo envolve vários processos complexos e diferentes.

Na verdade, o que melhor ilustra as diversas teorias acadêmicas é a nossa tendência quase universal de fragmentar um assunto em partes separadas e ignorar a interconexão dinâmica entre as partes.

Imagine essas diferentes teorias como “ondas” no mar da criatividade. Os acadêmicos buscam entender como as ondas se formam estudando apenas uma onda e ignorando o resto.

Eles ignoram a interconexão dinâmica entre todas as teorias. O resultado é confuso e paradoxal, e cria uma barreira para entender o que é pensar criativamente em termos de pensamento e linguagem comuns.

Quando o físico ganhador do Prêmio Nobel Richard Feynman era estudante, ele usou a palavra “inércia” enquanto conversava com o pai.

Este perguntou o que significava tal palavra, e Richard respondeu que ele tinha aprendido que significava “não estar disposto a se mover”.

O pai o levou a um campo aberto, colocou uma bola em uma carriola e pediu que o filho a observasse.

Quando empurrava a carriola, a bola rolava para a parte de trás. E, quando parava subitamente, a bola rolava para a frente.

O pai explicou que o princípio geral é que as coisas que estão em movimento tentam se manter em movimento, e as coisas que estão paradas tendem a ficar paradas, a menos que sejam empurradas com força.

Disse que esse processo é chamado de “inércia”. Para entender o que a palavra significa, é preciso visualizar o processo. Há uma diferença entre saber o nome de algo e entender como funciona.

Os educadores poderiam ajudar os alunos a entender melhor a natureza do pensamento criativo oferecendo exemplos de como as pessoas realmente criam.

A invenção de Jake Ritty é outro exemplo da combinação conceitual de dois elementos de campos não relacionados entre si para chegar a uma solução inovadora.

Em 1879, Jake, dono de um restaurante, estava viajando de navio para a Europa. No decorrer da viagem, os passageiros visitaram as instalações do navio.

Na sala de máquinas, Jake foi cativado por um dispositivo que registrava o número de vezes que a hélice do navio girava. Concluiu que aquilo era “uma máquina que contava”.

Ritty pensou de forma inclusiva. Seu objetivo foi fazer que seu trabalho como dono de restaurante se tornasse mais fácil e lucrativo.

Ele olhava para o mundo e o examinava em busca de padrões e analogias com o que já conhecia.

Quando viu na sala de máquinas o aparelho que contava o número de vezes que a hélice de um navio girava, perguntou: “Como o processo de contar algo mecanicamente pode tornar o meu restaurante mais lucrativo?”.

Pensar na sala de máquinas do navio e em seu restaurante fez que uma faísca surgisse quando ele combinou conceitualmente uma máquina que conta as rotações da hélice com a contagem de dinheiro.

Ele ficou tão empolgado com esse insight que pegou um navio de volta para casa com o objetivo de trabalhar em sua invenção.

De volta a Ohio, usando os mesmos princípios empregados no projeto da máquina do navio, criou um dispositivo que poderia somar números e registrar as quantidades.

A máquina, que funcionava manualmente e que ele começou a usar em seu restaurante, foi a primeira caixa registradora. Entender como surgiu a ideia de Jake é compreender o processo do pensamento criativo.

Dizer que o cortador de grama foi inventado na indústria têxtil pode parecer absurdo, mas foi exatamente assim que aconteceu.

Edwin Budding trabalhava em uma indústria têxtil na Inglaterra no início do século 19.

Naquela época, a superfície dos tecidos produzidos pelas fábricas era rugosa e precisava ser aparada. Isso era feito por uma máquina com lâminas metálicas giratórias que ficavam fixas sobre rodas.

Budding adorava estar ao ar livre e cuidar do gramado de sua propriedade. O que ele achava cansativo era aparar a grama, o que tinha que ser feito com uma ferramenta larga, pesada e de difícil manuseio.

Estabelecendo uma conexão conceitual entre aparar o tecido e aparar o gramado, ele construiu uma máquina com lâminas longas e duas rodas.

Também prendeu um eixo metálico para que pudesse empurrá-la sem ter que agachar. E assim, em 1831, foi construído o primeiro cortador de grama.

Como as técnicas de gestão industrial estão relacionadas à cirurgia cardíaca?

Cirurgiões cardíacos de Maine, New Hampshire e Vermont reduziram a taxa de mortalidade a 1/4 entre seus pacientes com marcapasso incorporando as técnicas de gestão empresarial de W. Edwards Deming, um líder de consultoria industrial.

As técnicas enfatizavam o trabalho em equipe e a cooperação mais do que a competição. Os médicos geralmente funcionam como artesãos individuais, sem compartilhar informações entre si.

Seguindo o modelo industrial de Deming, eles passaram a trabalhar em equipe, visitando e observando-se mutuamente, e compartilhando informações sobre suas práticas.

Os gênios são gênios porque fazem mais combinações novas do que o resto de nós. Este é o pensamento criativo natural que remonta aos primeiros humanos.

Todos nós nascemos com essa habilidade, e todos nós já fomos pensadores criativos, antes de sermos inibidos pela educação.

Conteúdo editado por: Omar Godoy

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