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Por que a Revolução Cubana era uma “máquina de matar” – e não poupava nem os próprios aliados

Fidel Castro e Che Guevara executaram, prenderam e exilaram milhares de cubanos a partir de 1959.
Fidel Castro e Che Guevara executaram, prenderam e exilaram milhares de cubanos a partir de 1959. (Foto: Wikimedia Commons)

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O texto a seguir integra o livro 'A Máquina de Matar: Biografia Definitiva de Che Guevara', do jornalista argentino Nicolás Márquez, lançado em agosto pela Vide Editorial. O fragmento mostra como o regime catrista prendeu e executou milhares de pessoas a partir 1959, incluindo aliados que deixaram de ter serventia para a Revolução Cubana.

Os expurgos não terminaram com os dissidentes. Embora pareça uma contradição (e este é mais um dos elementos “impuros” e silenciados pela caricatura oficial da revolução), muitos ex-apoiadores de Fulgencio Batista [derrubado do poder pela Revolução Cubana em 1959] aderiram às novas autoridades e, em sentido contrário, muitos membros do Exército Rebelde, diante da surpreendente virada comunista do novo governo que ajudaram a criar, começaram a distanciar-se, sendo, portanto, crivados de balas, presos por décadas ou, nas melhores hipóteses, forçados ao ostracismo e ao exílio.

Apenas passando em revista os castro-guevaristas mais notáveis que caíram em desgraça, encontramos os seguintes episódios por ordem cronológica: a renúncia de José Miró Cardona (13/2/1959) à presidência do Conselho de Ministros (substituído por Fidel Castro); 17 de maio, o ministro da Agricultura, Humberto Sori Marín, autor da Lei de Reforma Agrária promulgada por Castro na Sierra Maestra, renunciou e foi para o paredão em março de 1961, acusado de ser anticomunista; 30 de junho, renúncia e fuga do major Pedro Díaz Lanz, chefe da Força Aérea cubana do novo governo; 17 de julho, o presidente Manuel Urrutia, que havia denunciado o perigo comunista, é forçado a renunciar e refugia-se na embaixada venezuelana (substituído pelo ex-secretário do ministro de Batista, chefe do Partido Comunista, Juan Martinello, o Dr. Osvaldo Dorticós Torrado); Huber Matos, comandante da coluna do Movimento 26 de Julho que tomou a província de Santiago, renunciou em outubro por não aceitar a influência comunista no Exército Rebelde e permaneceu preso por 20 anos.

Ao mesmo tempo, em 28 de outubro, o avião em que viajava Camilo Cienfuegos “desapareceu”, sem que seus restos mortais fossem encontrados. Em novembro, os líderes antibatistas José Pellón, Octavio Louit e Reinol González foram eliminados. O secretário-geral, David Salvador, permaneceu no cargo até 5 de abril de 1960, quando foi detido e encarcerado.

Em 26 de novembro, Felipe Pazos foi substituído na presidência do Banco Nacional de Cuba por Che Guevara. Em 11 de março de 1961, o comandante William A. Morgan, que havia liderado a expedição de Castro contra Santo Domingo, foi executado em La Cabaña, porque, como ele observou em sua carta de despedida: “Sou o último anticomunista com o posto de comandante do Exército Rebelde”. Só naquele ano (1961), as execuções de “ex-amigos” atingiriam a cifra de 995 casos.

Ironicamente, verificamos que um grande número de homens que acompanharam Fidel Castro e Che Guevara, arriscando a vida, na aventura que os levou à tomada do poder absoluto, foram posteriormente assassinados e/ou presos por ordem destes, enquanto, paradoxalmente, o novo governo colocou em lugares importantes como funcionários muitos dos inimigos de outrora, que depois da revolução passaram a lisonjear e bajular os homens da nova direção para desfrutar de algumas migalhas de um poder que não ajudaram a conquistar.

No entanto, as execuções dos guerrilheiros do Exército Rebelde não se deram apenas pelo estranhamento que ocorreu ao perceberem a fraude comunista de seus ex-patrões, mas, às vezes, o padrão utilizado, por exemplo, por Guevara para acabar com seus ex-companheiros de luta também obedecia à relação mantida com eles durante suas andanças na Sierra.

Ou seja, entravam na lista os camaradas com quem Che havia tido atritos verbais ou conflitos de interesse (algo absolutamente normal em meio a tanta tensão e pela convivência prolongada nos acampamentos). A esse respeito, o capitão do Exército Rebelde Elías Nazario conta que, no calor da luta pela revolução, na província de Las Villas, houve um acalorado desentendimento entre Guevara e o comandante rebelde Jesús Carreras: “Quando Che Guevara entrou na província de Las Villas, nós o encontramos lá, onde ele estava acampado com o Diretório Revolucionário, junto com o comandante Cubelas […]. Ele e o comandante tiveram uma boa discussão sobre a área que disputavam
[…]. E a discussão foi dura […] porque Jesús Carreras disse: ‘Sua área é sua e minha área é minha. Se você entrar na minha área, teremos problemas’. Guevara nunca respondeu, limitando-se a baixar a cabeça”. A vingança não demorou a chegar: uma vez realizada a revolução, Jesús Carreras foi fuzilado por ordem de Che em La Cabaña.

Em suma, a nova oligarquia dominante em Cuba ficou reduzida ao bando formado por Fidel, Raúl e Che, auxiliados por carreiristas de plantão (sobretudo ex-batistas) e os velhos dirigentes comunistas, que não só não lutaram contra Batista, como, ao contrário, estiveram ao lado dele nas eleições, ocupando secretarias e ministérios do demonizado governo deposto.

Como exemplo do que foi dito acima, basta mencionar que absolutamente todos os guerrilheiros que arriscaram suas vidas viajando no Granma [embarcação que levou o Exército Rebelde até a província cubana de Oriente, para iniciar a revolução] em apoio a Castro e que conseguiram permanecer de pé após o combate imediatamente posterior ao desembarque (no qual morreram cerca de 70 guerrilheiros e apenas 12 sobreviveram), dessa dúzia sobrevivente, descontando Raúl, Che, o domesticado Juan Almeida (mais tarde vice-ditador de Cuba até sua morte em 2009) e, obviamente, Fidel, os oito restantes receberam as seguintes “condecorações”:

Chanes, Mário. Esteve na prisão de 1965 a 1985 (ou seja, 20 anos de prisão).

Diaz Torres, Raul. Comandante do Exército Revolucionário. Refugiou-se na embaixada do Equador em Havana em março de 1962.

Gómez Calzadilla, Jesús. Comandante do Exército Revolucionário. Refugiou-se em outubro de 1963.

Gómez Hernández, César. Subsecretário de Trabalho do Governo Revolucionário. Refugiou-se na embaixada venezuelana em Havana em 1961.

Rodríguez Moya, Armando. Refugiou-se quando estava no México em missão oficial.

Sanchez Amaya, Fernando. Funcionário do Ministério do Trabalho do Governo Revolucionário. Delegado em 1959 à Conferência Internacional da OIT. Foi preso no final de 1959.

Santaya Reyes, Rolando. Encarregado de negócios do Governo Revolucionário em Varsóvia em 1960 e em Montevidéu em 1963. Obteve asilo em 1963.

Como podemos ver, nessa lista há sete que caíram em desgraça e, portanto, falta um. Claro, o sobrevivente do Granma Camilo Cienfuegos está desaparecido, “acidentado” em 1959, após questionar a prisão de Huber Matos.

A guerrilha anticastrista dos ex-castristas

Não foram poucos os cubanos que começaram a sentir saudades dos tempos de Batista, e é compreensível. Além do bem-estar econômico que se desfrutava até pouco tempo antes e que agora diminuía consideravelmente, nos tempos do governo anterior algumas liberdades foram restringidas, é verdade, mas na época de Castro todas as liberdades foram sumamente anuladas: em apenas um ano do regime castro-guevarista, mataram mais do que o dobro de pessoas em comparação com os 17 anos em que Batista esteve no poder .

Mais uma vez, porém, a lenda revolucionária difundiu o mito do “oligarca” Batista deslocado pelo “proletariado triunfante”: Fidel Castro era filho de um rico proprietário de terras, fora educado pelos jesuítas e tinha formação universitária.

Por outro lado, Fulgencio Batista era um mulato descendente de camponeses modestos que, ainda por cima, permitia aos comunistas controlar ministérios e sindicatos: “Essa complexidade da sociedade cubana inviabiliza a explicação da revolução castrista do ponto de vista estritamente classista do marxismo-leninismo, como se pretenderia fazer anos depois”, relata [o sociólogo e escritor argentino Juan José] Sebreli.

Aos poucos, os desatinos de Batista foram reduzidos à categoria de travessura subalterna se os compararmos com o empobrecido e repressivo Estado policial imposto por Castro a partir de 1959. Vale lembrar que Fidel e sua família, quando foram presos após tentarem tomar um quartel em 1953 para derrubar o governo, foram perdoados por Batista e ficaram presos por apenas alguns meses.

Castro no poder, ao contrário, não apenas fuzilou milhares de camponeses, simples dissidentes, barqueiros desnutridos ou “inimigos” imaginários, mas também prendeu ou executou seus próprios camaradas do Exército Rebelde quando eles não eram mais úteis para ele.

Como resposta desesperada ao clima adverso reinante, seja por razões políticas, econômicas, religiosas ou, em muitos outros casos, por rebelar-se contra a perda de liberdades fundamentais, um fenômeno notável foi observado na Cuba de Fidel a partir de 1960: uma brava guerrilha anticastrista formada por cubanos que, depois de terem apoiado Castro desde o início, reagiram à fraude marxista, lutando e defendendo os mesmos ideais pelos quais haviam lutado ao lado de Castro, mas contra Batista.

Ou seja: numerosos cubanos de todas as classes sociais reagiram a partir de março de 1960 e apareceram em cena agrupados em organizações guerrilheiras que questionavam o novo governo. Ainda que sem coordenação, elas atuaram em diversas frentes, refugiando-se na Sierra del Escambray. Segundo a inteligência que informava Fidel Castro, os grupos rebeldes eram um total de 179 e seu irmão Raúl acrescentou que o número total de “bandidos” revoltados somava pelo menos 3,5 mil homens.

Levará vários anos para que as “operações de limpeza” consigam conter essa resistência. Naquela época, além de grupos rebeldes como o “30 de novembro”, o “Diretório Estudantil Revolucionário”, o “Alpha 66”, o “Grupo Montecristi” ou o “Movimento de Recuperação Revolucionária”, a maior parte da insurreição anticastrista foi caracterizada por um forte conteúdo religioso, pois, das organizações que atuavam, duas das mais destacadas eram de raízes católicas: o MRR (Movimiento de Recuperación Revolucionaria) e a ACU (Agrupación Católica Universitaria).

Segundo o cientista político e escritor cubano Carlos Montaner, esse ousado impulso insurgente “vem do caráter apostólico que certos grupos orientados pelos jesuítas quiseram dar à conspiração […]. Nas lutas internas cubanas, as pessoas morriam com um grito um tanto heróico de ‘Viva Cristo Rei’ […]. Aqueles jovens católicos demonstraram uma enorme coragem, enfrentando a morte ou a prisão com total integridade”.

Vítimas do desespero e da inferioridade de condições perante o impiedoso inimigo comum, os rebeldes anticastristas decidiram unir-se em 1960, formando um corpo de combate conjunto que ficou conhecido como “Frente Revolucionária Democrática” (FRD). A nota distintiva dessa resistência é que ela foi, em sua maioria, dirigida e composta por ex-castristas que haviam sido enganados.

Seus líderes mais conhecidos foram Tony Varona (ex-primeiro-ministro de Prío); Manuel Artime (líder do grupo de sabotagem MRR, católico tradicionalista); e Justo Carrillo, o primeiro presidente do Banco de Desenvolvimento durante a ditadura incipiente de Fidel. E em novembro juntou-se a eles Manuel Ray, ex-líder da resistência urbana contra Batista.

Essa reação foi acompanhada por uma dura repressão comunista, executada por meio de forças-tarefa encarregadas de seqüestrar e exterminar os rebeldes, que ficaram conhecidas como LCB (Luta Contra Bandidos), operando efetivamente por cinco anos: apenas na prisão

Mil “contra-revolucionários” de Escambray foram fuzilados. Da mesma forma, a categórica represália marxista foi disfarçada sob a fachada legal sancionada em julho de 1959 com a Lei 425 (ainda em vigor), que condena como “contra-revolucionário todo aquele que luta contra o partido comunista ou discorda de um ato de governo”, e a Lei 988 (também vigente) de 26 de novembro de 1961, que impôs a pena de morte e cuja elástica penalidade estende-se a situações diversas, como a norma que terminou com a execução de três barqueiros que tentaram fugir de Cuba no final de 2003, notícia que, em meio ao boom das comunicações, chocou o mundo livre, enquanto o establishment transnacional dos direitos humanos olhava para o lado.

Huber Matos lembra que “as revoltas camponesas contra o comunismo nos primeiros anos da década, particularmente na zona montanhosa de El Escambray, foram persistentes e numerosas. O regime dominou-os implacavelmente, na base de operações em que participaram milhares de soldados, vasculhando montanhas e florestas metro a metro. Eles realizaram fuzilamentos em massa, aplicaram longas penas de prisão aos suspeitos e expulsaram populações inteiras […]. Milhares de famílias camponesas na província central de Las Villas foram desenraizadas e até dissolvidas, seguindo os padrões bárbaros do stalinismo […]. Ricardo Olmedo, que, após ser preso por suas atividades contra o regime, foi ameaçado de ser levado ao paredão, a menos que aparecesse diante das câmeras de televisão incitando os cubanos a abandonar a resistência contra o regime, respondeu: ‘Não sou ator’. Ele preferiu a morte a prestar-se a tal espetáculo. Olmedo era veterano do assalto ao palácio presidencial durante a luta contra Batista”.

Jorge Gutiérrez Izaguirre, membro dos grupos anticastristas do MRR em Matanzas e que depois foi condenado a 30 anos de prisão, conta: “As tropas antiguerrilheiras exerceram uma repressão implacável contra os camponeses da área. Eles assassinavam uma família inteira para obter informações valiosas”.

O poeta Armando Valladares (que sofreu 22 anos de tortura e confinamento), por sua vez, lembra que, para a repressão, “foram usados helicópteros trazidos da Rússia e cães da Alemanha Oriental. Os rebeldes capturados eram rapidamente fuzilados […]. Buscando seu extermínio, fuzilavam não só os guerrilheiros, mas também os camponeses que serviam de guias, mensageiros e contatos […]. Todas as famílias assentadas no Escambray e seus sopés foram despejadas […]. As mulheres e crianças foram separadas dos homens e levadas para Havana […]. Essa situação durou anos, e em todo esse tempo eles nunca viram suas esposas ou seus irmãos. Crianças em idade escolar foram separadas de suas mães e receberam ‘bolsas de estudo’ em escolas públicas para ‘reeducá-las’ e assim anular a influência ‘nociva’ dos mais velhos”, enquanto “os homens foram levados para a península de Guanahacabibes”.

A guerrilha anticastrista poderia ter tido mais sucesso não fosse o rumor persistente de que contingentes armados de exilados cubanos de Miami viriam em breve, o que relaxou ou travou grande parte das ações planejadas: “A palavra de ordem era esperar, que eles seriam apoiados por uma invasão, que o momento chegaria muito em breve. Assim, paralisaram boa parte das guerrilhas e levaram os guerrilheiros à derrota, prisão e morte. Guerrilha que não se move, não atira, não luta, não ganha experiência e não amplia seu campo de ação perece. E foi o que aconteceu”, disse [o jornalista e ativista] Carlos Franqui.

Ao final, após prolongadas campanhas de extermínio, a rebelião foi liquidada em 1965. Em maio de 1970, o jornal Granma (órgão oficial do Partido Comunista) publicou um balanço feito por Raúl Castro sobre o ocorrido naqueles anos, em que ele admitiu que “a perda de vidas do exército ultrapassou 500 e custou cerca de 800 milhões de pesos”. E quanto ao número de organizações guerrilheiras existentes, confirmou-se que chegavam a 179.

Quanto aos autores intelectuais da repressão comunista, ela estava sob a liderança soviética, e foi desenhado um megaplano para a construção de unidades prisionais , projetadas para abrigar exatamente 79.850 detentos, embora a repressão tenha prendido e encarcerado dissidentes em número muito maior.

Presos formavam a principal força de trabalho da ilha

Desde 1959, o que mais se desenvolveu em Cuba não foi o setor industrial, mas o sistema prisional. Em uma comunidade muito pequena como a do país, em 1980, entre prisões e campos de concentração, o número de estabelecimentos chegava a 93, cujos internos eram submetidos a trabalhos forçados: “Os presos constituem a principal força de trabalho da ilha”, exclamou com orgulho Papito Struch [responsável pelas prisões do sul do território cubano] em 1974.

Vale acrescentar que, dada a natureza dos ataques e sequestros, esses estabelecimentos eram escassos. Por exemplo, o Reclusorio Nacional de la Cárcel Modelo na Isla de Pino, planejado para receber duas mil pessoas, abrigava entre seis e oito mil dissidentes . E entre os órgãos de espionagem e repressão que coordenavam tarefas de controle, punição e execuções, havia um total de 17 instituições estatais que operavam em rede.

A repressão obviamente não se limitou à zona rural e passou por passagens tão drásticas quanto avassaladoras, como o caso das jornadas realizadas entre 15 e 17 de abril de 1961, nas quais mais de 100 mil pessoas foram presas em Havana: o Teatro Blanquita, La Cabaña, o campo de beisebol de Matanzas e o Castillo del Príncipe estavam cheios de dissidentes reais ou suspeitos.

Dezenas de líderes rebeldes foram executados naqueles dias, extremos que foram verificados e apontados não pela “propaganda da CIA”, mas pelo apologista de Guevara, Jorge Castañeda . Entre as execuções mais emblemáticas desses dramáticos momentos, encontramos muitos indivíduos declaradamente leais a Castro, como o caso do comandante William Morgan (batizado, meses antes, pelo próprio Fidel como “Herói da Revolução Cubana”) ou o ex-ministro da agricultura de Castro, Sorí Marín: “Tanta gente era fuzilada que não havia caixão suficiente e as pessoas eram enterradas em sacos de náilon” , recorda Valladares. Enquanto isso, os tribunais revolucionários, inexoravelmente formados por comunistas confessos, deveriam emitir uma sentença dentro de 72 horas a partir do início da audiência.

Só na década de 1960, e de acordo com estimativas de social-democratas franceses documentadas na exaustiva obra intitulada 'O Livro Negro do Comunismo', cerca de 10 mil pessoas foram fuziladas, e outras 30 mil, condenadas à prisão por dissidência política. Com mais um agravante: em Cuba, a responsabilidade é considerada coletiva e a punição também. Os familiares do detido pagavam socialmente pelo “desvio” de seu parente: seus filhos não podiam ingressar na universidade e seu cônjuge perdia o emprego.

É impossível determinar com exatidão o número total de mortos vítimas do regime castrista, pois Cuba nunca forneceu dados oficiais e o regime impedia a entrada de comissões de direitos humanos ou da Cruz
Vermelha para realizar relatórios pertinentes. Convenhamos que as organizações da comunidade internacional também não se empenharam muito para denunciar esses crimes, já que, por serem execuções não de uma ditadura de direita, mas de esquerda, havia a desculpa, negação ou conivência da hipocrisia global.

Portanto, podemos nos basear somente nas diferentes fontes e trabalhos de pesquisa elaborados de forma independente, embora notemos uma disparidade de critérios entre eles em termos dos números fornecidos. Por exemplo, por volta de 1970, os números totais levantados pela embaixada espanhola, considerada a mais confiável (por ter acesso às estatísticas dos cemitérios), calculou posteriormente que 22 mil cubanos haviam sido mortos ou haviam morrido na prisão e 2 mil se afogaram tentando fugir.

Bem mais tarde, em 1997, a minuciosa obra francesa já mencionada ('O Livro Negro do Comunismo'), no capítulo dedicado a Cuba, indicava que até aquela data cerca de 17 mil cubanos haviam sido executados desde 1959, e mais de 109 mil, enviados para os campos de concentração, cifra posteriormente complementada ou ampliada em outro relatório elaborado em um audiovisual, cujo detalhamento também foi publicado em 23 de abril de 2006 no jornal Miami Herald, que apresentou uma lista discriminada por categoria (execuções com sentença, execuções sem sentença, desaparecidos etc.). Número total de mortos: 31.173.

Também foram divulgadas na época as cifras elaboradas pelo Archivo Cubano , paciente trabalho dirigido pelo professor Armando Lago (economista doutorado pela Universidade de Harvard), que, juntamente com a analista política María Werlau , identificou 41.695 homicídios por causas políticas desde 1959, embora o número fosse aumentar drasticamente se incluíssemos os barqueiros desaparecidos ou assassinados no mar enquanto tentavam fugir.

Nessa categoria, o número de emigrantes que caíram em desgraça chegaria a 77.879 vítimas. Se os somarmos aos diferentes números de executados mencionados anteriormente, o número final de mortos teria proporções industriais. Algum dia, quando cair a cruel dinastia dos Castro, talvez tenhamos acesso a um número definitivo e materialmente verificável.

Por ora, vale dizer que enquanto esse feroz sistema se impunha na ilha, a URSS concedia a Fidel Castro o “Prêmio Lênin da Paz”: o comunismo internacional não perdia a crueldade, nem o humor (negro).

Conteúdo editado por: Omar Godoy

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