A medicina socializada claramente vem com inúmeros efeitos colaterais, muitos dos quais são extremamente desagradáveis. As nações nórdicas veem isso, mas parece que seus admiradores nos EUA não veem.| Foto: Pixabay
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Aos olhos dos jovens eleitores e dos socialistas de todas as tendências, Bernie Sanders é um super-herói, advogando apaixonadamente por sua visão de uma utopia socialista na América. Com a Dinamarca como um exemplo brilhante, ele defende a ideia de que os EUA deveriam se inspirar nas conquistas de países como Suécia e Noruega, especialmente quando se trata de "beneficiar a classe trabalhadora".

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Durante os debates presidenciais de 2016, ele declarou enfaticamente: "Deveríamos olhar para países como Dinamarca, Suécia e Noruega e aprender com o que eles alcançaram para seu povo trabalhador", mantendo o mesmo sentimento até hoje.

O sistema de saúde nórdico frequentemente foi associado ao socialismo, mas uma análise mais detalhada revela que ele não se adequa à definição de socialismo. O dicionário Merriam-Webster define o socialismo como um sistema econômico igualitário no qual os meios de produção são de propriedade coletiva do Estado ou da sociedade. No entanto, os modelos econômicos dos países nórdicos incorporam elementos tanto públicos quanto privados.

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Enquanto as nações nórdicas fornecem cuidados de saúde financiados pelo público, também permitem opções de planos de saúde privados para seus cidadãos. Estes planos de saúde permitem que indivíduos evitem longos tempos de espera e tenham acesso a cuidados de melhor qualidade. Na Suécia, mais de 643.000 pessoas são exclusivamente cobertas por planos de saúde privados.

Da mesma forma, na Dinamarca, o plano de saúde Sygeforsikring Danmark cobre mais de 14% da população dinamarquesa, com 42% tendo pelo menos alguma cobertura fornecida pelo setor privado.

É importante ressaltar que empresas de saúde privada, como a Aleris, têm uma presença significativa nos países nórdicos, indicando o crescimento do setor privado na região. Com sete empresas privadas na Dinamarca e mais quatorze na Noruega, a Aleris opera em diversos países da Escandinávia, com mais de 4.500 funcionários e quase US$ 1 bilhão em receita anual.

Apenas para esclarecer, todas essas opções de saúde privada mencionadas acima seriam eliminadas sob o Medicare for All [uma tentativa do governo americano criar algo semelhante ao SUS brasileiro]. A proposta levaria, portanto, a uma intervenção ainda maior do governo na área da saúde, ainda mais do que nas nações que os democratas socialistas elogiam.

Principais políticos dos países nórdicos também enfatizaram suas estruturas econômicas orientadas para o mercado, destacando a combinação de elementos públicos e privados dentro de seus sistemas de saúde.

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Enquanto Bernie Sanders e seus apoiadores elogiavam a Dinamarca por suas políticas socialistas igualitárias, o primeiro-ministro dinamarquês, Lars Løkke Rasmussen, afirmou categoricamente que sua nação é, na verdade, uma economia de mercado (embora uma com regulamentação significativa do governo na economia, muito semelhante aos Estados Unidos).

A resposta clássica à medicina socializada é o óbvio aumento nos tempos de espera, mas muitos progressistas apontam para os sistemas nórdicos como prova de que eles podem ser gerenciados eficazmente pelo Estado. Mas o que os próprios escandinavos dizem?

Em 2009, alguns anos após o auge dos estados de bem-estar nos países nórdicos, surpreendentemente poucos dinamarqueses aprovavam os tempos de espera em suas nações. Quase 50% dos dinamarqueses entrevistados achava os tempos de espera injustos.

Os entrevistados também observaram que uma razão principal para escolher planos de saúde privados era a redução no tempo de espera, ou seja, o menor risco de morrer em uma lista de espera sancionada pelo governo.

Isso é particularmente chocante, já que o governo dinamarquês promulgou uma lei limitando os tempos de espera a um mês, dois anos antes da conclusão da pesquisa.

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Será que o Estado é incapaz de alocar eficazmente recursos, mesmo quando se trata de saúde? Parece que o problema de cálculo econômico se aplica a todas as indústrias, inclusive à saúde.

As ineficiências da medicina socializada sueca são evidentes também. Mesmo depois de garantir que os suecos não esperariam mais do que 90 dias para receber atendimento médico, mais de 46% dos residentes no condado de Jämtland, na Suécia, ainda esperaram mais tempo. A espera por cirurgia potencialmente salvadora de próstata foi mais do que o dobro da média global em alguns condados suecos, com 271 dias de espera.

Para combater essas ineficiências, os planos de saúde privados suecos se tornaram um negócio em expansão. Cada vez mais hospitais estão sendo comprados e administrados por grupos de private equity [forma de investimento que envolve a compra e a gestão de empresas privadas, com o objetivo de gerar lucro a longo prazo]. A entrada desses grupos de private equity no mercado de saúde permitiu mais competição e melhorou o serviço para todos os suecos. O mercado de private equity sueco se tornou o segundo maior de toda a Europa, avaliado em quase US$ 8 bilhões, graças a essa privatização.

Essas observações destacam que os sistemas de saúde dos países nórdicos operam dentro de um quadro de economia de mercado, apesar da significativa intervenção governamental e dos muitos monopólios sancionados pelo governo.

A medicina socializada claramente vem com inúmeros efeitos colaterais, muitos dos quais são extremamente desagradáveis. As nações nórdicas veem isso, mas parece que seus admiradores nos EUA não veem.

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Ulyana Kubini é uma empresária e ativista política ucraniano-americana.

©2023 Foundation For Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês: Why Private Healthcare Is Booming in Scandinavian Countries