Para a maior parte das famílias dos Estados Unidos, o Dia de Ação de Graças, celebrado no dia 23 de novembro, é um momento para se reunir, comer bem e talvez assistir futebol. Mas nem todos estão felizes com a celebração este ano: algumas pessoas chegaram a criticar os criadores da festa, os Peregrinos (nome dado para os colonos ingleses calvinistas que se estabeleceram na região da Nova Inglaterra em 1620).
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Em um editorial, a emissora de televisão Al Jazeera afirmou que o Dia de Ação de Graças é “nauseante” e “repleto de desgraça”. Outros artigos disseram que os Peregrinos promoveram o genocídio dos povos nativos da região ou argumentaram que a ideia original do feriado é apenas um “mito”. Rebaixar a natureza e a origem do Dia de Ação de Graças parece ter se tornado uma pequena indústria por si só.
Mas a história da Ação de Graças dos Peregrinos é baseada em fatos. O pequeno grupo de dissidentes religiosos que cruzou o oceano para um novo e perigoso mundo tem, com todo direito, uma proeminência especial na história do surgimento dos Estados Unidos.
Um ano depois dos Peregrinos terem chegado onde hoje é o Massachusetts, o governador William Bradford declarou um dia para dar graças e celebrar a colheita. Como afirmou o historiador Rod Gragg, “os Peregrinos não foram os primeiros europeus a organizarem um dia de ação de graças no Novo Mundo - ainda que tudo indique que eles tenham sido os primeiros a fazer isso na Nova Inglaterra. Foram eles, porém, que receberam o crédito da criação do feriado de Ação de Graças tipicamente americano que celebramos hoje - provavelmente em algum momento do outono de 1621”.
Nessa data, os Peregrinos se encontraram para um banquete de três dias com cerca de 90 índios Wampanoag para celebrar a farta colheita depois de um ano de muito trabalho (precisamos lembrar que mais da metade dos Peregrinos morreram desde a chegada do grupo nos Estados Unidos, em 1620).
Ainda que pratos mais modernos, como torta de abóbora e molho de cranberry, ainda não estivessem no menu das festividades, é provável que as pessoas que se reuniram para esse primeiro dia de Ação de Graças tenham comido peru e outras comidas comuns na região, como carne de veado e marisco.
Mais tarde, vários conflitos surgiriam entre os descendentes dos Peregrinos e os descendentes dos índios que estavam no banquete. Mas, no começo, o contato entre as culturas foi positiva e benéfica. Os mal-entendidos políticos levariam, infelizmente, a conflitos - principalmente a Guerra do Rei Felipe - nos quais atrocidades foram cometidas pelos dois lados.
Os Peregrinos estranhariam muito as convenções atuais dos EUA. Eles eram, apesar de tudo, pessoas diferentes que viviam num mundo muito mais cruel que o atual. Mas não é por isso que eles merecem ser taxados de monstros genocidas, assim como não devemos ignorar o fato de que eles participaram da criação de normas culturais e sociais que são usadas até hoje.
Ainda que as convenções americanas de Ação de Graças tenham se transformado e evoluído ao longo dos anos, o feriado tem uma conexão permanente com os Peregrinos da Nova Inglaterra. Muitas tradições que vieram deles são uma parte grande da herança cultural dos EUA.
Os Peregrinos foram para os EUA como parte de uma jornada para serem distintos. O plano era estabelecer uma nova religião e uma nova ordem política e social - livre das restrições da Igreja da Inglaterra e do que viam como influências negativas da Holanda, onde ficaram temporariamente.
Não era exatamente a liberdade ou o pluralismo religioso que eles buscavam, mas sim espaço para criar uma sociedade baseada estritamente nos ensinamentos cristãos protestantes. Como o líder da baía de Massachusetts, John Winthrop, disse em um sermão, as novas colônias poderiam ser como “cidades no topo de montanhas”, sendo vistas e servindo como exemplo para todos. Eles queriam ser um farol em um mundo destruído. “Os olhos das pessoas estão em nós”, disse Winthrop.
“Terra Prometida”
Quase 400 anos depois, a ideia dos EUA como uma espécie de terra prometida continua ecoando.
Outro grande legado dos Peregrinos é a tradição do consentimento político e as sementes do governo republicano. Eles fizeram o Pacto de Mayflower, um documento relativamente simples que estabeleceu um tipo de compromisso entre cidadãos da nova colônia. Foi o primeiro documento escrito que criou uma “política civil” com diretrizes claras no Novo Mundo. É um antecedente direto da Constituição dos EUA e da tradição americana de colocar a lei acima dos homens.
Sem dúvidas, o feriado moderno de Ação de Graças deixou de ser um feriado regional e aleatório para se transformar em um feriado celebrado nacionalmente. Oradores notáveis, como Daniel Webster, mantiveram a chama dos Peregrinos acessa até o começo do século 19, cantando músicas em memória do grupo.
Mas o dia de Ação de Graças como conhecemos não se tornaria um feriado nacional até 1863, quando o presidente Abraham Lincoln o reconheceu oficialmente. A editora Sarah Josepha Hale já tinha defendido a criação do feriado por décadas antes dessa data.
O dia de Ação de Graças se tornou uma parte significativa da herança cultural compartilhada dos EUA. Ainda que os costumes tenham mudado ao longo dos anos, o feriado manteve uma relação próxima a sua origem com os Peregrinos da Nova Inglaterra - uma das coisas pelas quais ser gratos.
Conteúdo publicado originalmente em The Daily Signal.
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