A primeira cruzada de Karl Marx não foi contra o capitalismo, mas sim contra o sabão. Eu acho que sempre estava bêbado demais todas as vezes que ia tomar banho. Não tem como ser diferente: ele sempre viveu às custas do dinheiro dos outros; nunca trabalhou, nem mesmo quando os próprios filhos estavam morrendo de fome; e ainda assim ele bebia o suficiente para estragar o fígado e a própria consciência. Surpresa: o primeiro marxista era um patife sem-vergonha, o tipo de pessoa que desprezaria todos da classe trabalhadora.
Lênin não era diferente. “Ele sempre foi a criança mimada da família, cercado por mulheres que o tinham como um gênio e dando-lhe suporte financeiro por toda a vida. Ele nunca trabalhou”, disse um dos mais influentes e controversos jornalistas espanhóis da metade do último século, Federico Jiménez Losantos, autor do livro “Memoria del Comunismo”, uma obra colossal publicada em 2018 ainda sem tradução em português.
Jiménez Losantos tenta responder à pergunta chave: “Cem anos e cem milhões de mortes depois, por que o comunismo ainda é uma ideologia respeitada?”
Joe Biden não gostou da resposta: foram os socialistas que resolveram tirar toda a culpa dos crimes do comunismo. Pela primeira vez, um livro esclarece os motivos dessa cumplicidade histórica, que ainda permanece viva, com a ajuda de esquerdistas de todo o mundo, dos democratas dos Estados Unidos aos sociais-democratas de Bruxelas.
E essa cumplicidade segue, apesar de fatos incontestáveis como os descritos por P. J. O’Rourke em “Give War a Chance”: “É impossível conseguir um prato decente de comida chinesa na China, os charutos cubanos são racionados em Cuba, e isso é tudo que você precisa saber sobre o comunismo.”
Que o comunismo anda de mãos dadas com as fraudes e a enganação, isso já é fato bem conhecido, especialmente agora quando sofremos as consequências de uma pandemia secretamente exportada pela China para o mundo todo, sob os auspícios da Organização Mundial da Saúde – tão preocupada com a saúde quanto Xi Jinping em permitir que os chineses vão à missa aos domingos. Vale lembrar: se a China fosse um país livre, seus líderes teriam avisado a tempo, e o coronavírus nunca teria se espalhado da forma como está hoje. O comunismo é o culpado por esta crise mundial.
Golpe contra a democracia
Jiménez Losantos faz questão de nos lembrar que “a primeira mentira sobre a revolução comunista” é que esta era “um levante do proletariado” contra o czarismo. “Em outubro de 1917 não havia czarismo na Rússia, mas sim uma república democrática cujo líder era o socialista [Alexander] Kerensky”, ele escreveu. “O que Lênin derrubou não foi uma tirania, mas uma democracia.” Como bem percebido por Jiménez Losantos: “As únicas coisas que foram realmente tomadas pelas massas foram as bebidas que havia nos porões do palácio.” Talvez porque, na verdade, “os proletários tidos como salvos por Marx, Bakunin ou Lênin não queriam a salvação; eles queriam ter uma casa própria, melhores salários e condições de trabalho e de vida e quem sabe um seguro contra acidentes. Resumindo: eles queriam ser proprietários.” A verdade é que antes de ser comunista você precisa primeiro ser um milionário. Não funciona se não for assim.
Por suas mais de 700 páginas, Jiménez Losantos compõe um perfil politicamente incorreto das feras do comunismo, apoiado por uma bibliografia bem extensa. Ele sabe sobre o que está falando: o autor já foi comunista. Mas em 1976, aos 25 anos, depois de ler “Arquipélago Gulag” e de viajar para a China, felizmente ele rompeu seus laços com o comunismo.
Forças políticas o tiraram de duas rádios espanholas onde trabalhava e fazia bastante sucesso como um líder opinativo – talvez ele tenha sido sacado justamente por sua popularidade. Depois disso, em 2009, ele abriu a própria rádio e o próprio jornal, “EsRadio” e “Libertad Digital.” Nessas mídias, ele passou a defender o papel dos Estados Unidos, onde geralmente passa os verões.
Duas características marcam a personalidade de Jiménez Losantos: a independência e a defesa da liberdade. Ele solidificou sua carreira denunciando os poderosos – lutando contra terroristas, comunistas e os direitistas tímidos. O ressurgimento do comunismo na Espanha, pelas mãos do primeiro-ministro Pablo Iglesias, compeliu Jiménez Losantos a escrever este grande trabalho dedicado às vítimas desta ideologia totalitária.
A maior novidade em “Memoria del Comunismo” é o estudo feito sobre o momento em que os socialistas absolveram os revolucionários comunistas. Dezembro de 1917 foi a data do “provavelmente mais importante debate da esquerda em toda a história.” Dois meses após Lênin tomar à força o poder do socialista Kerensky, um grupo de socialistas russos publicou, no jornal francês “L’Humanité” uma apelação contra o regime Bolchevique; eles descreveram o Bolchevismo como violento, terrível e “capaz de tornar odiado o nome do socialismo.” Seu apelo não teve sucesso. “Também não é possível ignorar a terrível negligência de Kerensky em não condenar o financiamento da imprensa alemã a Lênin depois do malsucedido golpe de julho (um ensaio geral do que aconteceria em outubro).”
Logo depois, em 1918, quando Kerensky reapareceu em Londres e Paris, “suas críticas ao golpe leninista e ao terror desencadeado contra a oposição produziu um fenômeno que dura até hoje,” mais especificamente “a insistência dos socialistas e da burguesia de esquerda em negar as evidências das ilegalidades e das brutalidades do regime comunista.” Corolário: se você quer destruir sua última esperança, coloque-a nas mãos de um socialista francês.
A chave para esta armadilha histórica aparece nos próprios discursos de Kerensky: “Este regime, que chama a si próprio de socialismo mesmo seguindo os piores métodos do czarismo, é o pior inimigo do socialismo, porque a burguesia explora o exemplo que ela mesma dá e o usa para desacreditar os nossos ideais.”
A tese de Jiménez Losantos é bem rígida nesse ponto: com suas palavras, Kerensky mostra que a esquerda nunca se preocupou com os “crimes dos quais os próprios socialistas foram vítimas.” Não. A maior preocupação da esquerda era que esse leninismo sinistro pudesse estragar a reputação de seus ideais socialistas.
"Deturparam o comunismo"
Quando confrontada com a sequência de falhas do comunismo através dos tempos, a esquerda contemporânea usa de uma defesa de certo ponto surpreendente: ninguém foi capaz de compreender o comunismo da forma correta.
É uma hipótese tão razoável quanto afirmar que os assassinos em série atiram em suas vítimas porque ninguém nunca sugeriu a eles que fossem caçar patos. Pense nesta situação: você tentando pela décima vez martelar um prego numa tábua, daí aparece um “especialista” gritando “me dá o martelo, seu idiota inútil”. Ao tentar acertar o prego, ele acaba martelando o dedão. Sobre o “suposto desvio do Marxismo-Leninismo original para o Stalinismo”, Jiménez Losantos escreveu:
“Em todos os países onde o comunismo foi aplicado o resultado tem sido, e é ate hoje, crimes e miséria. ‘Ah, mas isso é porque o comunismo não foi aplicado direito’. A chave é esse ‘mas’, que evita qualquer tipo de condenação. Ninguém consegue nos explicar por que deveríamos insistir nessa receita que sempre falhou, e a razão é uma só: a vida só é maravilhosa, saborosa e aveludada quando estamos do lado do bem.”
Em outras palavras, você conhece algum líder comunista que não melhorou consideravelmente sua vida financeira graças a seus ideais comunistas? Eu não conheço nenhum.
Movidos pelo ódio
Não é fácil compreender o comunismo sem dar uma boa olhada de perto nas personalidades de seus líderes. A força motriz de Lênin era o ódio. Jiménez Losantos lembra o que o criador do realismo socialista, o escritor russo Máximo Gorky, disse a respeito disso: “Não conheço ninguém que tenha sentido um ódio tão profundo, tão grande pela dor, pela miséria e pelo sofrimento humano quanto Lênin.”
Jiménez Losantos acrescentou que Lênin “era indiferente ao fato de os outros viverem ou morrerem, exceto se fosse pela Causa, isto é, por ele.” E aqui está a razão de ele ser uma má pessoa. “Outro aspecto que era dividido entre Lênin e Marx era a ‘somatização de suas falhas’”, escreveu Jiménez Losantos. “Ambos tinham acessos de raiva quando alguém discordava deles ou quando as coisas não aconteciam do jeito que eles esperavam.” Quase como a Nancy Pelosi chorando com o discurso “O Estado da Nação” de Donald Trump.
Talvez essa mesma somatização explique o desprezo visceral de Marx pelos trabalhadores, algo que os professores nunca dirão a você nas salas de aula das universidades:
“Os autônomos, que em uma sociedade baseada na prestação de serviços como era Londres, representavam quase um terço dos trabalhadores, foram extirpados da classe dos escolhidos: o proletariado. Os camponeses – e era assim também para Lênin e os comunistas russos – eram para Marx um coletivo reacionário obsoleto, destinado a desaparecer com o início da industrialização.”
Em 1921, “as imagens de centenas de pessoas morrendo nas ruas; outras pessoas cambaleantes ou mesmo prostradas, incapazes de se mover; os ataques aos cemitérios e o canibalismo, erigiram um sentimento de horror por entre a sociedade. Pelo menos entre aqueles ainda com condições de sentir esse horror.”
Este não foi o caso de Lênin, que desprezava os que ainda se mantinham sensíveis e quem, no meio da grande fome em julho de 1921, ordenou uma campanha “de propaganda intensa entre as populações rurais explicando a eles a importância política e econômica de pagarem seus impostos em dia e sem descontos.” Não é difícil chegar ao mesmo destino por diversos caminhos: um dos grandes problemas da esquerda é que aqueles que morrem de fome não conseguem mais pagar impostos.
Embora seja difícil chegar a uma conclusão quanto ao número total de vítimas, Jiménez Losantos conclui que:
“A terrível imagem do extermínio comunista só pode ser desvelada pela estatística fria da matemática. Em 1924 deveria haver 17 milhões de pessoas a mais na Rússia, mas depois das medidas tomadas por Lênin elas não estavam mais lá. Além das pessoas que foram mortas diretamente pelo regime ainda há aquelas a quem não foi permitido nascer, crescer, envelhecer nem mesmo sobreviver com uma doença. Todos estes também foram mortos pelo comunismo.”
Ele também faz considerações sobre os registros nefastos da China comunista: “A única diferença entre Mao e Lênin e Stalin é que os chineses eram muito mais numerosos que os russos, e que ao fazer a mesma coisa que os dois, Mao conseguiu matar muito mais pessoas.”
Violência contra os cristãos
Entre todos os massacres do comunismo, se destaca uma violência em particular contra os cristãos. O antagonismo entre o comunismo e o cristianismo é incondicional, a despeito das tentativas absurdas de reconciliação feitas pelos apoiadores esquerdistas da “teologia da libertação.”
No cristianismo, cada vida é única e investida de uma dignidade especial; cada pessoa é um filho de Deus, criado para viver sua vida em liberdade. No comunismo, o indivíduo não tem nenhum valor e as liberdades são proibidas. “Para Lênin e os seus infinitos filhos, a propriedade e a liberdade são a mesma coisa”, disse Jiménez Losantos. “Não se pode tirar a propriedade de alguém sem tiram também sua liberdade, de forma moral, e sua vida, de forma física. É por isso que o comunismo é a forma mais atroz de escravidão moderna.”
A terrível perseguição religiosa lançada contra os católicos, durante a guerra civil espanhola, é paradigmática. Nos massacres de Paracuellos em 1936, Jiménez Losantos enxerga uma réplica dos massacres perpetrados pelas Chekas, as forças de segurança bolcheviques que massacraram milhares de “contrarrevolucionários” durante a revolução russa. “Embora a ação na Espanha, cuja população era seis vezes menor, tenha sido a pior da história contra os cristãos desde a Perseguição de Diocleciano, a ação soviética também atingiu números impressionantes.” “Memoria del Comunismo” nos faz recordar do massacre religioso na Espanha e da imagem funesta dos corpos em decomposição de freiras, apoiados em um muro à beira de uma calçada, ante os olhares indiferentes dos pedestres.
Aliança com o Islã
Faz poucos dias que Joe Biden prometeu mais islamismo nas escolas americanas. Ninguém mais fica surpreso com esse flerte entre a esquerda e o Islã. Primeiro, por causa do ódio destes aos cristãos. Segundo, por causa da aliança histórica entre a esquerda e os crentes em Alá.
O comunismo russo “desde 1917 fez um pacto com suas versões mais seculares, e depois da queda do muro, os regimes comunistas fizeram um pacto com os radicais,” explicou Jiménez Losantos. “A aliança fechada entre o pós-comunismo de Fidel Castro e Hugo Chavez com os aiatolás do Irã é evidente” – a mesma conexão que os iranianos têm hoje com os comunistas espanhóis do partido Podemos.
O comunismo não está morto. “Se o grande êxito do demônio (ou do mal) é convencer as pessoas de que ele não existe, a sobrevivência do comunismo é baseada na sua própria certidão de óbito – e o consequente perdão – lavrada por tantos historiadores que se referem a ele como um cadáver requintado e infinitamente pesquisado”, disse Jiménez Losantos. “O comunismo não é lembrado, sua história não foi esquecida, mas sim destruída.”
Nestes tempos de hoje, os Estados Unidos seguem lutando a mesma batalha contra o Marxismo cultural que vem sendo travada na Europa, embora o Velho Continente venha seguindo do lado dos perdedores por um longo tempo. O livro conclui:
“Para saber se um país está doente e sofrendo com o totalitarismo, se ele está incubando o ovo da serpente leninista, alguém precisa checar as relações deste país com a própria história. Se, em nome do multiculturalismo, gêneros gramaticais são eliminados para satisfazer o sexismo LGBT ou feminista; se as referências à raça são omitidas em notícias de crimes praticados por gangues; se a Reconquista [Espanhola] é condenada a não incomodar mais os islâmicos ou culpada pelo horroroso crime de islamofobia; se, ao final, a literatura clássica, de Cervantes a Mark Twain, cujas obras foram lidas por séculos pelas crianças, é banida das escolas por não ser inclusiva, filósofos gregos são sufocados por não se adequarem a critérios do multiculturalismo impostos pela esquerda e apenas observados pela direita, então o comunismo ainda segue vivo e aliciando a sociedade para implantar sua tirania.”
Se você acha que o seu país está livre desses horrores, vá até as ruas, vá a um bar ou a um campus universitário, tente falar como Jordan Peterson, e depois venha me dizer quão grande é o ovo dessa serpente.
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