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Por que alguns imigrantes têm maior probabilidade de cometer crimes do que outros?

Refugiados sírios tentam atravessar a Macedônia rumo à União Europeia: Refugiados de países como Síria, Iraque e outras nações do Oriente Médio afligidas por guerras são muito menos propensos ao crime do que outros imigrantes | Foto: Forças de Segurança da Macedônia/Fotos Públicas.
Refugiados sírios tentam atravessar a Macedônia rumo à União Europeia: Refugiados de países como Síria, Iraque e outras nações do Oriente Médio afligidas por guerras são muito menos propensos ao crime do que outros imigrantes (Foto: Foto: Forças de Segurança da Macedônia/Fotos Públicas.)

Houve uma época em que a atitude acolhedora em relação às centenas de milhares de refugiados que entravam no país parecia inquebrantável.

Dois anos depois, a maioria dos alemães agora diz que seu país chegou ao limite e muitos mencionarão uma data específica quando demandados a explicar por que: a véspera de ano novo em 2015. Naquela noite, centenas de homens imigrantes violentaram sexualmente mulheres em Colônia e outras cidades, levando a uma reconsideração das políticas para refugiados.

No exterior, a mudança de atitude não passou despercebida. Durante sua campanha, o presidente Donald Trump usou múltiplas vezes crimes cometidos por refugiados na Alemanha como suposta evidência em apoio de suas posições anti-imigração. “Você sabe que desastre a imigração em massa tem sido para a Alemanha e o povo da Alemanha – a criminalidade subiu a níveis que ninguém jamais pensou ver”, Trump disse em um comício em agosto do ano passado.

Há uma clara divisão entre aqueles que vêm para cá por razões econômicas, a maioria do norte da África, e aquelas que fugiram de guerras

Rudolf Egg criminologista

Mas será que a suposição de que refugiados têm sempre uma maior probabilidade de cometer crimes do que nativos é justificada, com base na experiência alemã ao longo dos últimos dois anos? Criminologistas dizem que a resposta é mais complicada e que as lições vindas da Alemanha na verdade sugerem que a entrada de refugiados do Oriente Médio nos Estados Unidos dificilmente aumentaria a taxa de criminalidade.

Embora um relatório da agência federal alemã de combate ao crime BKA que vazou recentemente tenha concluído que crimes cometidos por imigrantes estavam em ascensão, avaliações anteriores também revelaram uma tendência bastante diferente. Refugiados de países como Síria, Iraque e outras nações do Oriente Médio afligidas por guerras são muito menos propensos ao crime do que outros imigrantes. Criminologistas dizem que os números correspondem aos de suas próprias pesquisas, o que sugere que certos grupos de imigrantes na Alemanha têm uma probabilidade muito maior de cometer crimes do que outros.

“Há uma clara divisão entre aqueles que vêm para cá por razões econômicas, a maioria do norte da África, e aquelas que fugiram de guerras”, disse o criminologista Rudolf Egg. “Muitos africanos do norte são homens jovens que vieram para cá sozinhos sem se darem conta de que suas esperanças de permaneceram na Alemanha nunca se tornarão realidade. Foram atraídos para cá com falsas promessas.”

Pedido de asilo rejeitado

Refugiados precisam fornecer às autoridades evidências de que suas vidas estão em risco em seus países de origem para que tenham permissão para permanecer e sejam oficialmente autorizados a trabalhar.

Contudo, ser incapaz de fornecer tais evidências muito frequentemente não resulta em deportação imediata. Dado o número bruto de imigrantes que vieram à Alemanha durante os últimos anos, as autoridades têm tido dificuldade em deportar indivíduos cujos pedidos de asilo foram rejeitados – deixando muitos em um limbo de longo prazo que aumenta o risco de que se tornem criminosos.

Você sabe que desastre a imigração em massa tem sido para a Alemanha e o povo da Alemanha – a criminalidade subiu a níveis que ninguém jamais pensou ver

Donald Trump presidente dos EUA

Uma série de casos recentes colocaram as dificuldades das autoridades em deportar pessoas que tiveram seus pedidos de asilo rejeitados sob os holofotes do debate público na Alemanha e em outros lugares. Semana passada, um ganês supostamente estuprou uma mulher de 23 anos e obrigou seu namorado a assistir à agressão. O incidente aconteceu poucos dias depois de o pedido de asilo do suposto agressor ter sido rejeitado.

O homem uzbeque suspeito de ter sido o responsável pelo ataque com um caminhão em Estocolmo sexta-feira passada também tinha tido seu pedido de asilo negado recentemente, disseram investigadores suecos.

Em alguns países, o aumento no número de crimes cometidos por imigrantes que correm o risco de serem deportados ou têm pouca chance de terem seus pedidos de asilo aprovados tem sido agravado por outros fatores.

Seleção falha

No caso da Alemanha, por exemplo, a entrada de quase um milhão de pessoas no país em 2015 resultou em longas filas de espera por atendimento com funcionários, criando medo e incerteza entre os imigrantes encurralados no processo de aplicação e incapazes de trabalhar. Egg e outros criminologistas disseram que um aumento nas taxas de criminalidade poderia ter sido evitado se as autoridades tivessem pré-selecionado novos entrantes de maneira mais sistemática em 2015 e 2016.

É simplesmente impossível para as autoridades alemãs checar com as autoridades sírias ou iraquianas se a identidade informada é correta ou se a pessoa é acusada de crimes

Daniel Koehler diretor do Instituto Alemão de Estudos em Radicalização e Desradicalização

Daniel Koehler, diretor do Instituto Alemão de Estudos em Radicalização e Desradicalização, também questionou em uma entrevista antiga se as autoridades checaram todos os refugiados recém chegados tão minuciosamente quanto dizem tê-lo feito. “É simplesmente impossível para as autoridades alemãs checar com as autoridades sírias ou iraquianas se a identidade informada é correta ou se a pessoa é acusada de crimes”, ele disse.

Meio termo

Agora o país está tentando encontrar um caminho do meio, algum lugar entre suas práticas anteriores e a abordagem húngara nas quais refugiados agora estão sendo automaticamente detidos no momento em que entram no país.

Até o momento, “para as autoridades alemãs, a vida de um refugiado ‘começa’ no momento em que ele ou ela entra no país”, disse Koehler.

Dadas as rigorosas checagens de antecedentes nos Estados Unidos, a taxa de criminalidade daqueles que recebem asilo lá seria provavelmente muito baixa

Rudolf Egg

Embora isso provavelmente venha a apresentar um desafio preocupante à Alemanha, criminologistas têm apontado que os Estados Unidos dificilmente veriam aumentos semelhantes nas taxas de criminalidade se aceitassem mais refugiados de países do Oriente Médio afligidos por guerras.

Ao contrário do que acontece na Alemanha, refugiados do Oriente Médio que chegam aos Estados Unidos são quase todos pré-selecionados e passaram por um dos processos de pedido de asilo mais difíceis do mundo. Se eles conseguem entrar nos Estados Unidos, suas chances de serem empregados são altas.

“Dadas as rigorosas checagens de antecedentes nos Estados Unidos, a taxa de criminalidade daqueles que recebem asilo lá seria provavelmente muito baixa”, disse o criminologista alemão Egg.

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