Alguns racismos são menos racistas do que os outros. Priti Patel, secretária do Interior do Reino Unido, é filha de imigrantes indianos que viviam em Uganda. Ela é odiada pela intelligentsia porque acredita no controle migratório, embora não no fim de toda e qualquer imigração.
Recentemente, uma multidão em Glasgow se reuniu para impedir que dois aspirantes ao asilo político fossem deportados pelas autoridades. Uma importante autoridade sindical esquerdista e membro do Partido Trabalhista, Howard Beckett, tuitou: “Priti Patel deveria ser deportada, e não os refugiados. Ela pode ir acompanhada de todos os que apoiam o racismo institucional. Ela é nojenta”.
O Partido Trabalhista suspendeu Beckett (o que significa, claro, que ele voltará em breve) e ele divulgou um pedido de desculpas que não convenceu nem Patel bem o público britânico. Ele disse: “Não foi isso o que quis dizer. Sou contra todas as formas de deportação e jamais imaginaria a secretária do Interior sendo deportada”.
Os dois homens a serem deportados foram submetidos a um demorado processo judicial para provar que tinham direito a asilo político. Isso e o fato de que depois Beckett disse ser contra a deportação de todos, em quaisquer circunstâncias (exceto, talvez, daqueles dos quais ele discorda politicamente), sugere que ele apoia a extinção de qualquer controle migratório, por maior que seja o contingente de imigrantes com esse tipo de medida.
Beckett deu continuidade ao seu “pedido de desculpas” da seguinte forma: “Obviamente, eu estava tentando mostrar que Priti Patel estava sendo elitista e expressando seu privilégio, uma postura racista”. Levando em conta que não mais do que 1% da população compartilha das visões dele sobre imigração, ele deve considerar que 99% dos britânicos são elitistas, privilegiados e racistas. Hora de encontrar um novo povo, então – e uma inversão dos conceitos de “elite” e “povo”, na qual 1% representa o povo e 99% são a elite.
As palavras de Beckett não sugerem qualquer ironia; ao contrário, sugerem raiva. Patel desperta tal fúria insensata nos oponentes não por causa de suas medidas políticas práticas, diante das quais é possível se opor e discordar formalmente, e sim porque representa uma ameaça a uma visão de mundo. Ela é filha de refugiados e sofreu racismo quando criança; portanto, o dever dela seria o de bancar a vítima profissional pelo resto da vida. Em vez disso, ela diz que sua heroína é Margaret Thatcher, que a inspirou a entrar para a política. Ao não se fazer de vítima e ao ascender politicamente por meio da pura determinação, ela provou ser uma traidora de sua classe e raça.
Pior, Patel é uma ameaça a todos os que aspiram ascender social e politicamente denunciando o elitismo, o privilégio e o racismo como as principais fontes da maldade. E há um perigo cada vez maior de que uma proporção importante das várias minorias étnicas venham a pensar como ela.
Por isso é que Beckett disse, com flagrante sinceridade, que Patel era “nojenta”.
Theodore Dalrymple é editor-colaborador do City Journal, médico e escritor.
©2021 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês
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