Há exatos quarenta e nove anos nesta sexta-feira (20), a nave Apollo 11 levou os primeiros astronautas à superfície da Lua. As pegadas que Buzz Aldrin deixou em solo lunar ainda estão por lá – assim como a multidão de teóricos da conspiração que afirmam que o todo o pouso foi uma farsa. Uma evidência, eles argumentam, é que a bandeira que a equipe plantou parecia tremular em vídeos, o que não deveria acontecer, já que não há vento na lua. Além disso, mini-meteoros não teriam matado os astronautas no momento em que se aventuraram para fora da nave?
A “farsa do pouso na lua” esteve entre as primeiras teorias da conspiração a ganhar força com o público americano. Nos anos seguintes, as teorias se multiplicaram, fervilhando em todos os cantos da paisagem cultural. Depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, alguns ativistas marginais insistiram que o governo dos EUA, e não a Al Qaeda, havia planejado os ataques. Conspirações sobre os laços de Donald Trump com a Rússia competem com todas as notícias reais sobre o assunto. Os conspiracionistas do "Pizzagate" alegaram que Hillary Clinton estava operando uma rede de pedofilia em uma pizzaria em Washington, D.C., levando um adepto a disparar uma arma no restaurante.
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É tentador descartar os teóricos da conspiração como se fossem malucos. Mas as teorias devem ser levadas a sério pelos seus efeitos no discurso político e social – e pesquisas sugerem que, sob as circunstâncias certas, muitas pessoas são suscetíveis ao fascínio delas.
Embora a atração das pessoas pelas teorias da conspiração possa parecer ilógica, ela decorre de um desejo muito lógico de dar sentido ao mundo. Atribuir significado ao que acontece ajudou os seres humanos a prosperar como espécie, e as teorias de conspiração são histórias internamente coesas que “nos ajudam a entender o desconhecido sempre que acontecem coisas assustadoras ou inesperadas”, disse Jan-Willem van Prooijen, psicólogo social da Universidade Vrije, em Amsterdã. Para alguns adeptos, a sensação de conforto e clareza que essas histórias trazem pode anular a questão do seu valor de verdade.
Contradições
Os teóricos da conspiração frequentemente têm um alto grau de tolerância à contradição que lhes permite ignorar evidências contra suas teorias. Em um estudo da Universidade de Kent, no Reino Unido, pessoas que disseram que Osama bin Laden havia morrido antes do ataque dos EUA ao seu complexo também estavam mais inclinadas a dizer que ele ainda estava vivo. As histórias podem ser conflitantes, mas ambas as versões negaram o relatório do governo Obama de que Bin Laden havia sido morto durante o ataque.
As teorias da conspiração também fornecem um sedutor afago no ego. Os adeptos frequentemente se consideram parte de um seleto grupo que – ao contrário das massas iludidas – descobriu o que realmente está acontecendo. Em um estudo realizado na Universidade Johannes Gutenberg, na Alemanha, a crença em teorias conspiratórias era mais forte entre pessoas que disseram querer se destacar da multidão. Pessoas com uma “mentalidade de conspiração” alta também expressaram mais crença em uma teoria de conspiração quando foram informadas que a minoria dos entrevistados acreditava nela, ao invés de uma maioria.
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A rejeição e as dificuldades podem intensificar a necessidade das pessoas de acreditar em uma história que as fortaleça ou justifique, seja ou não a história verdadeira. As pessoas que estão insatisfeitas com o estado do mundo – como os desempregados ou aqueles que defendem ideologias extremas – são altamente vulneráveis às teorias da conspiração, disse van Prooijen: “Se as pessoas estão satisfeitas, elas são menos propensas a seguir esse tipo de teoria”.
Embora as teorias da conspiração tenham existido por milênios, elas estão prosperando em um momento político que recompensa aqueles que rejeitam o conhecimento estabelecido. “As teorias da conspiração estão se tornando parte do nosso diálogo nacional”, disse Joseph Uscinski, cientista político e pesquisador da teoria da conspiração da Universidade de Miami.
Quando tais teorias se tornam enraizadas na consciência pública, porém, elas erodem a confiança das pessoas nas autoridades e no status quo. Em um ciclo vicioso, isso cria um terreno fértil para o surgimento de teorias da conspiração cada vez mais estranhas.
Parte do alicerce da democracia, como ressalta o escritor Stephen Harrington, é um amplo consenso sobre fatos básicos que persistem mesmo quando o significado desses fatos é debatido calorosamente. Mas os teóricos da conspiração operam a partir de um conjunto de fatos desvinculados da realidade, e as pessoas que os expõem são frequentemente ignoradas ou rotuladas como parte da conspiração proposta. Quando as pessoas acreditam que “não há fonte confiável de notícias”, disse Peter Kreko, diretor do Instituto de Capital Político em Budapeste, “não pode haver uma fonte real de desmascaramento”.
Combatendo as conspirações
Em 2016, Kreko e seu colega, o psicólogo social Gabor Orosz, da Universidade Eötvös Loránd, de Budapeste, testaram a utilidade de várias maneiras de combater as teorias da conspiração. Primeiro, eles tocaram aos participantes uma gravação de uma “superteoria” conspiratória afirmando que judeus, banqueiros e a União Europeia estavam explorando a Hungria. Em seguida, os pesquisadores tentaram três estratégias de desmascaramento: argumentar racionalmente contra a teoria da conspiração; ridicularizar aqueles que acreditavam na teoria; e ser solidário com o povo alvejado pela teoria.
Descobriu-se que tanto argumentar racionalmente quanto ridicularizar foram de certa forma eficazes na redução da crença dos participantes na teoria, enquanto a empatia era em grande parte ineficaz. Mostrar preocupação com as vítimas da teoria da conspiração, sugere o estudo, não é uma boa estratégia de desmascaramento – especialmente quando a teoria é racista, discriminatória ou nociva de alguma maneira.
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Qual é a melhor maneira de colocar em prática táticas efetivas? (Buzz Aldrin uma vez socou alguém que o acusou de fingir o pouso na lua, mas essa provavelmente não é a melhor solução.) Se alguém em sua família ou círculo social é uma fonte constante de teorias da conspiração, vale a pena contestar suas histórias com a verdade – o que muitas vezes estará ao seu alcance. “Basta verificar em nosso celular a história que o outro cara acabou de nos contar”, disse Orosz. “Podemos usar essas estratégias racionais em situações cotidianas, 'Estes são os fatos, meu amigo'". O adepto da teoria pode ou não estar disposto a aceitar a realidade, mas de qualquer forma, outros que estão ouvindo poderão ouvir evidências contra uma conspiração.
Faz sentido se inocular contra as teorias da conspiração também, e as pessoas que exercitam as partes lógicas de seus cérebros parecem ter alguma imunidade. Em um estudo da Universidade de Westminster, as pessoas que foram preparadas para pensar analiticamente ao jogar um jogo de decifrar frases foram menos propensas a endossar teorias de conspiração depois.
Você também pode dar uma olhada de perto em como a salsicha é feita. Kreko deu a alguns de seus alunos uma tarefa única: pegar dois eventos completamente desconectados (o 11 de setembro e os testes nucleares da Coreia do Norte, por exemplo) e inventar uma conexão plausível entre eles – o que, como mostra a internet, é exatamente o que os teóricos da conspiração reais fazem. “Pense em qualquer evento trágico nos últimos 100 anos”, disse Kreko. “Coloque no Google esta tragédia e 'judeus', e você vai encontrar alguma coisa”. Seus alunos acham o exercício de geração de teorias surpreendentemente fácil, e ele espera que eles fiquem cautelosos com as supostas futuras conspirações que encontrarem.
Embora seja difícil lembrar no calor de uma tentativa de desmascaramento, muitos motivos dos teóricos da conspiração são nobres, mesmo que os seus métodos não sejam. “As pessoas que acreditam em teorias da conspiração estão profundamente preocupadas com o futuro da sociedade”, disse van Prooijen. “Por que tentaríamos entender os eventos com os quais não nos importamos?”
Ainda assim, Uscinski não prevê muita evolução para os crentes mais fanáticos. “Eles estão vivendo em um mundo diferente”, ele disse, “e é muito difícil trazê-los de volta”.