Protestos do lado de fora do Congresso Nacional foram tímidos durante votação da denúncia contra Temer| Foto: Sérgio Lima/AFP

Quem esperava uma multidão no gramado do Congresso Nacional durante a votação da denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) na Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (2), se decepcionou. Diferentemente do dia em que se votou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em que protestos com milhares de cidadãos pró e contra a medida ganharam destaque, o que chamou a atenção do lado de fora da Câmara foi a ausência quase completa de manifestantes. A votação poderia ter sido o ápice da força do movimento “Fora, Temer”, mas os movimentos sociais, embora tenham comentado sobre protestos nesta quarta, não apareceram. O mesmo ocorreu com grupos organizados que costumam encabeçar manifestações contra a corrupção. 

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A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal já contava com a baixa adesão de manifestantes em frente ao Congresso e não montou nenhuma operação especial. A segurança foi reforçada apenas dentro do prédio. Cerca de 200 pessoas foram até o local segurar cartazes e faixas defendendo o avanço da denúncia contra o presidente Michel Temer.

Raimundo Bonfim, coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP) e da Frente Brasil Popular, reconheceu que os atos foram tímidos. “Teve pouca gente, mas marcamos nossa participação”, afirmou. Na Avenida Paulista, em São Paulo, a manifestação convocada pela CMP reuniu algumas dezenas de pessoas para acompanhar a votação em frente ao escritório da presidência da República. 

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Os protestos contra Temer já vinham perdendo força. A greve geral convocada pelas centrais sindicais para o último dia 30 de junho teve resultados pífios. “O presidente Temer é mal avaliado nas pesquisas, mas a sua queda não é uma causa que tenha sido abraçada pela sociedade civil”, avaliou o cientista político Rogério Schmitt. “Por outro lado, movimentos sindicais e partidos de esquerda perceberam que todas as últimas manifestações em que se engajaram fracassaram, e que são minoria no Congresso e na população”, acrescentou. 

Sem paixão

Para Schmitt, há uma resistência da classe média e de grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL) de se alinhar ao discurso da esquerda, mesmo que seja supostamente um discurso anticorrupção - tema que levou milhões às ruas contra a ex-presidente Dilma Rousseff. “Dilma era tão impopular quanto Temer, mas o caso dela despertava paixões muito mais fortes – as pesquisas não mediam só a ‘avaliação negativa’, mas sim uma virtual ‘taxa de ódio’ acumulada em 13 anos”, explicou. 

“Seria o caso de questionar quem estava por trás dos movimentos de outrora, quando tantos movimentos, recursos e pessoas se mobilizaram”, afirmou o cientista político Humberto Dantas, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “O presidente tem 4% de aprovação e não acredito que o brasileiro tenha perdido o poder de indignação. Mas acredito que possa estar mergulhando na descrença e apatia, uma vez que as chances de se realizar eleições diretas tende a zero”. 

Horário de votação

O líder do Movimento Vem Pra Rua, que marcou presença massiva nos protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff, Rogério Chequer, acredita que a mobilização presencial não teve força por conta dos horários de votação, que costumam se estender pela noite. “Mas manifestações não se fazem apenas nas ruas. As pessoas estão cobrando diretamente os deputados, principalmente os indecisos. O que defendemos é que as pessoas se manifestem de alguma maneira, não são apenas as ruas que fazem a diferença”, disse. O Vem Pra Rua marcou um evento para o próximo dia 27 de agosto, a Marcha contra a Impunidade e Pela Renovação. “Os parlamentares que ficaram indecisos na votação desta quarta-feira serão lembrados e pressionados”. 

Com a vitória de Michel Temer no Congresso, caberá à esquerda se reorganizar em termos de discurso, avaliou Humberto Dantas. “O governo dá todas as razões para engrossar esse discurso”, disse ele, acrescentando que nos próximos meses será possível compreender “o que significa a investida da Justiça contra o ex-presidente Lula”, outro item que leva, diferente da situação desta quarta, movimentos sociais às ruas.

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