Quando se é várias décadas mais velho do que Greta Thunberg, o alerta desesperado dela quanto ao apocalipse iminente não o atinge como talvez atinja um universitário ou uma pessoa de vinte e poucos anos. Em resumo, aquilo soa como “algo que você já ouviu antes”.
Não estou falando apenas do movimento contra as mudanças climáticas nem me refiro apenas à esquerda do espectro político. Tenho ouvido falarem sobre o apocalipse iminente que só pode ser revertido por aumentos no tamanho e alcance do governo por toda a vida, tanto da direita quanto da esquerda.
Os catastrofistas de direita
O primeiro exemplo de que lembro vem da direita. Nos anos 1980, o noticiário estava cheio de notícias sobre a superioridade militar da União Soviética. Não estou falando da capacidade nuclear deles, que eram e ainda são motivo de preocupação, como, aliás, é a capacidade nuclear de todo país que tenha armas nucleares. Não, o público norte-americanos estava cheio de notícias sobre a superioridade da União Soviética em guerras convencionais, com aviões, tanques, tropas em solo, etc.
A única solução, dizia a administração Reagan, era aumentar os gastos militares que não só dobraram o tamanho do governo federal como um todo durante os dois mandatos de Reagan como também deram início a uma tendência de gastos militares que se mantêm até hoje. A sabedoria tradicional da direita diz que foi este gasto o que causou o colapso da União Soviética porque eles tentaram acompanhar os gastos e não conseguiram. Não foi isso. A União Soviética entrou em colapso por causa de seu sistema econômico comunista, o que o ex-agente da KGB Vladimir Putin admitiu em 2009, quando disse:
No século XX, a União Soviética transformou o Estado num governo absolutista. No longo prazo, isso tornou a economia soviética completamente incapaz de ser competitiva. Essa lição nos custou caro. Tenho certeza de que ninguém quer que isso se repita.
A verdade é que os soviéticos nunca foram uma ameaça militar para além de suas ogivas, algo que os gastos de Reagan não fizeram nada para deter. Países pobres em geral não ganham guerras convencionais contra países ricos. Sabendo disso hoje em dia, você gostaria que o país não tivesse desperdiçado trilhões em gastos militares?
Nos anos 1980 houve ainda um aumento de gastos na chamada “guerra às drogas”. Usando a morte trágica do jogador de basquete Len Bias, os guerreiros contra as drogas conseguiram convencer o povo norte-americano de que apenas leis draconianas e sentenças duras podiam salvar as crianças de uma morte certa por causa da iminente epidemia nacional de vício em drogas. A legislação aprovada no encalço desse catastrofismo levou ao encarceramento em massa de gerações de negros e pardos, muitos dos quais de posse de maconha, droga que hoje é legalizada em mais da metade dos estados norte-americanos.
Sabendo o que se sabe hoje, você gostaria que milhões de vidas e famílias tivessem sido destruídas?
Em 2003, com o povo norte-americano ainda assustado com os ataques de 11 de Setembro, a administração de George W. Bush embarcou numa campanha de medo semelhante à da administração Reagan, mas com um bicho-papão ainda menos plausível: Saddam Hussein. Hussein foi um ditador impiedoso e um vilão, mas ele nunca ameaçou a segurança nacional dos Estados Unidos. A administração Bush usou imagens de grandes ataques com armas químicas e até de um “cogumelo de fumaça” numa grande cidade dos EUA. Tudo era mentira.
Sabendo disso hoje, você ainda gostaria de termos travado a Guerra do Iraque?
Os catastrofistas de esquerda
Mas o que tudo isso tem a ver com as mudanças climáticas? Os ambientalistas estão usando as mesmas táticas, só que com finalidades diferentes. Os direitistas geralmente reverenciam o exército e os policiais. Apesar de tudo o que eles dizem sobre “Estado mínimo”, nenhum aumento do exército ou das polícias seria demais para eles.
Eles geralmente conseguem o que querem usando uma tática muito melhor que funciona mais ou menos assim: Ah, meu Deus! Descobri uma ameaça horrível contra nossas vidas e contra a civilização como a conhecemos. E, acreditam ou não, a única solução para isso é você me dar tudo o que quero politicamente.
Toda pessoa racional deveria suspeitar disso, não? Não teria sido melhor para os norte-americanos, de direita ou de esquerda, se tivéssemos sido mais céticos em relação a afirmações como essa antes da guerra às drogas e a Guerra do Iraque?
Não estou tentando convencer os progressistas de que não há nada de antropogênico nas mudanças climáticas. Mas estou chamando a atenção para o fato de que a mesma tática que nos rendeu a Guerra do Iraque, a maior população prisional do mundo e a dívida pública descontrolada por causa de gastos militares desnecessários está sendo agora usada para se alcançar objetivos políticos para resolver as mudanças climáticas.
Não nos esqueçamos de que, antes da queda da União Soviética e do afastamento drástico da China em relação ao comunismo e sua aproximação de uma economia de mercado, o principal argumento da esquerda linha-dura contra o livre mercado não tinha nada a ver com o meio ambiente. Durante a maior parte do século XX, eles disseram que o comunismo ou socialismo era o melhor sistema econômico. Só depois do fracasso inegável disso em vários países é que o foco se voltou para o meio ambiente. A Convenção das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas só começou a funcionar a partir de 1992, ano seguinte ao fim da União Soviética e pouco depois das reformas pró-mercado da China.
Coincidência? Talvez, mas não é de se desconfiar? Como se pode culpar alguém por ser cético ao perceber as mesmas pessoas que queriam uma economia centralizada de repente descobrindo que essa economia é a única forma de “salvar o planeta”? Até mesmo alguém que acredite nas mudanças climáticas deveria parar e pensar sobre isso.
Isso antes mesmo de perguntar se dar todo esse poder ao governo (sem falar nos trilhões de dólares a mais) realmente resolverá o problema. As experiências deveriam nos tornar céticos quanto a isso também. A Guerra às Drogas resultou em menos drogas nas ruas? A Guerra do Iraque resultado em menos terrorismo? Acreditar que o governo agora será extremamente bem-sucedido por fazer o que a outra tribo política pede me parece mais uma questão de fé do que de razão.
Os pobres sofrerão mais
Uma coisa honesta no discurso de Greta Thunberg é que, ao menos indiretamente, a adoção das medidas ambientais drásticas pedidas pela esquerda linha-dura nos deixará mais pobres. Ela pergunta como podemos continuar falando em “crescimento econômico”. É fácil para Thunberg e outras pessoas do Primeiro Mundo dizerem, levando em conta o custo disso para eles em relação ao que isso custará aos pobres de verdade, que não estão nos Estados Unidos nem na Suécia.
A verdade é que eliminar os combustíveis fósseis à taxa sugerida pela esquerda linha dura poderá custar a bilhões de pobres suas vidas, e não apenas seus hambúrgueres. Levando em conta essa realidade assustadora e o péssimo histórico de soluções governamentais drásticas numa atmosfera de medo, um ceticismo saudável em relação ao que a esquerda linha-dura fala e exige relacionado às mudanças climáticas deveria ser algo não só tolerado, mas também estimulado.
*Tom Mullen é escritor.