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liberdade de expressão

Por que banir neonazistas da internet pode ser perigoso

Uma série de companhias recentemente recusou serviço a supremacistas brancos ou negócios ligados a eles, incluindo a Apple, Cloudfare e Paypal | THE WASHINGTON POST/The Washington Post
Uma série de companhias recentemente recusou serviço a supremacistas brancos ou negócios ligados a eles, incluindo a Apple, Cloudfare e Paypal (Foto: THE WASHINGTON POST/The Washington Post)

Nem todo mundo no Silicon Valley concorda com o modo como grandes empresas de tecnologia tem lutado contra a supremacia branca depois da violência em Charlottesville, Virginia.

“Todas as pessoas justas devem se posicionar contra a violência e agressão abominável que parece estar crescendo no nosso país”, disse a EFF. “Mas nós também devemos reconhecer que na internet, qualquer tática utilizada para silenciar neonazistas, em breve será usada contra outros, incluindo pessoas com opiniões que concordamos.” 

Para ilustrar o seu argumento, a EFF apontou que, na era dos direitos civis, foi atacado o direito da NAACP (Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor) de expressar o seu ponto de vista. 

A crítica da EFF cria um contraste ao crescente antagonismo do Silicon Valley à supremacia branca, acentuando a sua abordagem contraditória e duelista de combate a discursos extremistas que sucederam os eventos em Charlottesville. 

Uma série de companhias recentemente recusou serviço a supremacistas brancos ou negócios ligados a eles, incluindo a Apple, Cloudfare e Paypal. Mas até mesmo algumas dessas companhias reconhecem a complexidade de escolher não discriminar com base no conteúdo. “É importante que o que fizemos hoje não sirva como precedente”, disse o executivo chefe da Cloudfare, Matthew Prince, em um email para os seus empregados depois de optar por encerrar os serviços ao site neonazista The Daily Stormer. “A resposta certa é que nós sejamos consistentemente neutros quanto ao conteúdo.” 

Consequências

A EFF não contesta que as plataformas de tecnologia tem o direito de decidir que tipo de discurso hospedam ou protegem. Mas a organização disse que as escolhas dos decisores da internet, como a GoDaddy e a Google, tem consequências vastas que ecoam no mundo todo. Uma dessas consequências, de acordo com a EFF, é que outras entidades, como governos estrangeiros, possam usar o mesmo poder para excluir sites com base em considerações políticas. E mais abaixo na cadeia alimentar na internet, empresas continuam banindo contas sem explicação ou responsabilização, segundo a EFF. 

Em nota, a Google confirmou que cancelou o registro do The Daily Stormer por violação dos termos de serviço, mas se recusou a comentar sobre o post da EFF. 

As ações agressivas de empresas da web também traz o questionamento acerca do poder das plataformas de tecnologia controlarem os espaços públicos. “Nós subestimamos muitos desses sites e espaços, mas eles são operações privadas”, diz Roy Gutterman, diretor do Tully Center for Free Speech na Syracuse University. 

Ao contrário do governo, que é guiado pela Primeira Emenda, que garante a liberdade de expressão, as corporações tem mais poder para suprimir discursos, segundo Gutterman. Uma abordagem assertiva contra grupos extremistas tem aumentado a preocupação de que grandes plataformas de tecnologia estão se tornando árbitros efetivos da liberdade de expressão na América. “Eles não gostam dos nazistas hoje, mas amanhã podem ser outras pessoas”, disse. “Podemos chegar ao ponto de ter um CEO excêntrico que quer banir um movimento ou grupo político inteiro.” 

“Proteger a liberdade de expressão não é algo que fazemos porque concordamos com todos os discursos que são protegidos”, disse a EFF. “Nós fazemos isso porque acreditamos que ninguém – nem o governo, nem empreendimentos comerciais privados – devem decidir quem pode falar e quem não pode.” 

GoDaddy e Cloudfare não responderam aos questionamentos.

Tradução de Andressa Muniz

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