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O saci não precisa ter medo das bruxas. Nem o contrário. O confronto que surge entre as duas “forças” a cada dia 31 de outubro contraria a “amálgama”, a grande mistura que forma a identidade cultural do Brasil moderno.

Este é o dia em que alguns países, em especial os Estados Unidos, comemoram o Dia das Bruxas, ou Halloween em inglês (leia mais abaixo).

Uma festa que vem sendo incorporada pelo povo brasileiro desde os anos 1980. Há, contudo, quem olhe com reservas. Como se o braço longo do imperialismo cortasse pessoalmente os rostos nas abóboras.

Muita gente defende que, numa atitude de “resistência cultural”, o país homenageie seu próprio folclore. A discussão chegou à politica.

Em 2003, um projeto de lei do então deputado Aldo Rebello (PC do B) propôs a instituição do “Dia do Saci” no calendário brasileiro justamente no dia 31 de Outubro.

Na justificativa do projeto, o parlamentar escreveu que a “a comemoração do Halloween no Brasil – como tantas outras celebrações da cultura norte-americana de forte apelo comercial – tem atraído cada vez maior número de jovens e crianças que precisam aprender que o país também tem seus mitos, difundindo a tradição oral, a cultura popular e infantil, os mitos e as lendas brasileiras”.

A lei seria, portanto, um antídoto contra a invasão da cultura estrangeira, em favor da preservação dos valores auriverdes. Existem leis similares no Estado de São Paulo e em diversos municípios do país.

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Em dois pontos, o parlamentar estava certo.

A festa movimenta o comércio. Segundo o jornal gaúcho Zero Hora, um levantamento realizado pelo Sindilojas de Porto Alegre com lojas de fantasias e de decoração mostra que 85% dos consultados consideram o Halloween mais importante para as vendas do que o brasileiríssimo Carnaval.

Também é verdade que crianças são o alvo principal. Ainda que a boêmia adulta também use a data como pretexto para festas.

Na maior parte das escolas brasileiras, o dia é celebrado e muito esperado pelos estudantes, que têm atividades especiais ou vão às aulas fantasiadas.

Antropofagia

A questão, no entanto, permanece: será que o Halloween é tão nocivo à identidade cultural do país a ponto de ser combatido?

Para a antropóloga Simone Meuci trata-se de um “falso dilema”. “Os modernistas já pregavam, desde a década de 1920, a antropofagia cultural. Não vejo problema em festejar o Dia das Bruxas e ainda acho muito legal trazer o Saci para a festa”.

Ela observa que o Halloween, em boa parte do país , como a região Nordeste, tem uma pegada carnavalesca. “Já há uma incorporação cultural nossa. A cultura brasileira tem a capacidade de assimilar e transformar.”

O historiador Filipe Figueiredo também prega a antropofagia no Dia das Bruxas.

“As tradições, mesmo as inventadas, trazem uma bagagem. Podemos comemorar nossas festas tradicionais e o Halloween também. Aprendamos sobre outras culturas. E façamos algo em que já fomos muito bons e que contribuiu, e muito, para a cultura nacional: devoremos”.

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Origem

No dia 31 de Outubro celebra-se, nos países de língua inglesa, o Dia das Bruxas, ou Halloween no original.

A origem da festa vem da mitologia celta ( povos que habitavam a Europa Ocidental desde o ano 2000 A.C.)

Para os celtas, no dia equivalente ao 31 de outubro era celebrado o festival de Samhain, que marca o fim da época das colheitas.

No calendário católico, o dia 1º de novembro é o Dia de Todos os Santos.

A festa pagã na véspera de uma importante data cristã misturou antigos elementos celtas com aspectos cristãos.

O nome deriva de “All Hallows’ Eve”.“Hallow” é um termo antigo para “santo”, e “eve” é o mesmo que “véspera”.

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