Nesta semana, o pedófilo condenado Jeffrey Epstein foi encontrado morto em sua cela depois de aparentemente ter se enforcado. Um dia antes, um tribunal tinha revelado documentos comprometedores encontrados num processo contra sua suposta namorada, Ghislaine Maxwell.
Entre os documentos estavam depoimentos de Virginia Roberts Giuffre, a autora do processo, dizendo que Epstein a teria oferecido como mercadoria sexual a importantes nomes, incluindo o ex-governador do Novo México Bill Richardson, o príncipe Andrew e o ex-líder da maioria no Senado, George Mitchell.
Epstein supostamente tentara cometer suicídio no fim de julho, quando aparentemente tentou se enforcar em sua cela. Ele foi retirado da cela e posto sob vigilância. Apenas 11 dias antes de conseguir se matar, ele foi retirado da vigilância antissuicídio.
As falhas foram sistêmicas. De acordo com a Associated Press, os guardas na unidade de Epstein estavam “trabalhando num regime extremo para compensar a falta de funcionários”.
Os carcereiros de Epstein deveriam checá-lo a cada meia hora, mas não o fizeram, de acordo com o New York Times. Epstein também deveria estar na companhia de outro interno para não ficar sozinho, mas isso nunca aconteceu.
Levando em conta o interesse público em Epstein – ele era o prisioneiro federal mais famoso sob custódia – não é de se admirar que tantos norte-americanos suspeitem do suicídio.
Epstein era publicamente associado tanto ao presidente Donald Trump quanto ao ex-presidente Bill Clinton; Clinton voou no avião de Epstein várias vezes. Em poucas horas, as hashtags #ClintonBodyCount e #TrumpBodyCount (a “contagem de corpos” de Clinton e Trump, respectivamente) apareceram como tendência no Twitter.
Trump, aparentemente incomodado com a hashtag que o tinha como alvo, chegou até a retuitar o comediante Terrence K. Williams: “Ele SE SUICIDOU mesmo estando sob VIGILÂNCIA? Ah, claro. Como isso pode acontecer? #JefferyEpstein tinha informações sobre Bill Clinton & agora está morto. Vejo #TrumpBodyCount nos trending topics, mas sabemos quem fez isso! Retuíte se você não está surpreso”.
Por outro lado, a jornalista Joy Reid, da MSNBC, insinuou que o Procurador-geral William Barr, “conselheiro de Trump (...) cujo principal trabalho é proteger Donald Trump de qualquer coisa”, podia estar encobrindo o assassinato de Epstein.
Nada disso é bom para o país, claro. Mas a pergunta é por que os norte-americanos parecem tão aptos a acreditar em teorias da conspiração ultimamente. Isso tem a ver com as redes sociais, nas quais bolsões limitados de opinião marginal se fundem para criar grandes bolsões de opinião marginal.
Boa parte disso tem a ver com a desconfiança generalizada da imprensa – desconfiança que é em boa medida justificada pela indisposição da imprensa em questionar o conspiracionismo de um dos lados envolvidos.
Na mesma semana em que Trump retuitou a teoria da conspiração Clinton-Epstein, no mínimo três candidatos presidenciais democratas sugeriram que Michael Brown, o menino de 18 anos atingido por um tiro disparado por um policial em Ferguson, Missouri, em 2015, foi na verdade assassinado.
Nenhum repórter aparentemente se deu ao trabalho de perguntar por que os candidatos estavam ignorando o relatório do Departamento de Justiça de Barack Obama, que não encontrou nenhum indício de assassinato.
Isso tem a ver mais é com a incapacidade humana de aceitar a incompetência generalizada.
Todos sabem que é difícil criar uma conspiração. As peças envolvidas são simplesmente numerosas demais. Aqueles que acreditam em teorias da conspiração tendem a atribuir uma capacidade de controle muito maior do que as pessoas geralmente têm. É melhor acreditar em conspirações do que aceitar a realidade de que as pessoas que deveriam fazer seu trabalho geralmente fracassam nele.
Em termos políticos, o conspiracionismo bota mais lenha na fogueira. Isso porque toda falha se torna prova de malevolência por parte de seu oponente; toda estranheza se transforma em mais um dado em favor da maldade toda-poderosa daqueles com os quais você discorda.
Melhor, então, se submeter à Lei de Hanlon: “Nunca atribua maldade ao que pode ser explicado pela estupidez”. Vivemos numa época extremamente estúpida. E eis a boa notícia: a estupidez é algo com o que sabemos lidar. Já a maldade é outra história.
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Ben Shapiro é apresentador do "Ben Shapiro Show" e editor-chefe do DailyWire.com.
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