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Bilionários como o dono da Amazon, Jeff Bezos, correm riscos, reúnem talentos e enriquecem a Humanidade.
Bilionários como o dono da Amazon, Jeff Bezos, correm riscos, reúnem talentos e enriquecem a Humanidade.| Foto: Matthew Staver/ Bloomberg

Uma das justificativas mais persistentes para uma intervenção estatal na economia é o conceito de desigualdade social. Reza a lenda que apenas 1% da população detém praticamente metade da riqueza mundial. Esse número é usado como justificativa para uma vastidão de programas, desde projetos de redistribuição, imposto de renda e o New Deal Verde (programa de estímulo do governo norte-americano para resolver os problemas do aquecimento global e da desigualdade econômica). Mas o problema dessa narrativa é que ela não consegue responder a duas perguntas primordiais:

  1. Quais os componentes dessa riqueza?
  2. Quem se beneficia dessa riqueza?

A riqueza não é uniforme

Para começo de conversa, precisamos primeiro entender como a riqueza é definida. A riqueza, em termos de investimento, é definida como “o valor de todos os bens de valor de uma pessoa, comunidade, empresa ou país”. O problema subjacente à definição de riqueza está inserido no conceito de valor. Valor não é um conceito objetivo. Cada pessoa valorizará os bens e serviços disponíveis no planeta de uma forma diferente, com base em seus interesses pessoais. Esse problema está descrito no Paradoxo da Água e do Diamante.

A água é objetivamente mais importante para a sobrevivência do que um saco de diamantes. Uma pessoa que viva ao lado de um rio trocaria caminhões e mais caminhões de água por um saco de diamantes, enquanto uma pessoa perdida no Saara trocaria sem pestanejar um saco de diamantes por um cantil cheio de água. Este é o objetivo inerente ao comércio – obter algo com uma oferta local relativamente baixa por algo localmente abundante.

O problema aqui é que tais avaliações são subjetivas e dependem de condições extremamente específicas. Se analisarmos os componentes da riqueza, a riqueza do chamado Um Por Cento é composta predominantemente por porções de empresas.

A propriedade de empresas é geralmente representada por ações. A riqueza da pessoa aqui é definida da seguinte forma: pega-se o valor atual da ação e se multiplica pelas ações que o indivíduo possui. O problema desse cálculo é a forma como essa participação nas empresas é comercializada. O valor da participação que você vê no índice Dow Jones não é o valor de todas as ações existentes. Na verdade, trata-se do valor da transação marginal mais recente para aquela empresa específica.

Assim, se os papeis da Amazon estão sendo vendidos por US$1.800 a ação, isso significa que alguém por aí vendo uma ou mais ações por US$1.800 para outra pessoa. Isso não quer dizer que, se alguém investisse US$920 bilhões no mercado de ações, ele se tornaria o único dono da Amazon.

A maioria das 500 milhões de ações da Amazon valem mais do que o preço de Mercado estipulado pelo detentor. Para convencer Jeff Bezos a se desfazer de suas 20 milhões de ações seriam necessários muito mais do que US$37 bilhões. Mas isso não quer dizer que Jeff Bezos seja mais rico do que o apregoado. Por outro lado, pessoas que não têm ações da Amazon as avaliam abaixo do preço de mercado de US$1.800. Se o sr. Bezos enfrentasse uma situação de vida ou morte na qual precisasse pagar US$37 bilhões em dinheiro, ele teria sorte se conseguisse uma porcentagem pequena disso, já que se tentasse inundar a Bolsa com essa quantidade de ações de uma só vez ele provocaria um colapso no mercado.

A questão aqui é que manter níveis altos de riqueza exige que a pessoa nunca abra mão de seus bens. A única forma de um milionário continuar milionário é jamais converter sua participação em bens líquidos instáveis. Embora uma única ação seja, em termos contáveis, considerada um bem líquido, uma ampla carteira de ações tem a mesma liquidez de um arranha-céu ou de um estádio da NFL. Por causa disso, a riqueza do Um Por Cento é em boa medida ilusória, já que eles não podem usá-la para nada, a não ser que destruam seu valor aparente.

Por outro lado, os 99% restantes têm aproximadamente 15% de seus bens com algum tipo de liquidez fácil e até mesmo seus bens ações têm uma liquidez significativamente maior do que as ações do Um Por Cento. Uma pessoa com US$50 mil em bens pode liquidar com facilidade suas propriedades sem provocar um caos no Mercado. Em termos de bens que podem ser usados sem que se cause uma desvalorização, o Um Por Cento na verdade é dono de cerca de 6% dos bens. Apesar de isso ainda ser algo desigual, o número não chega nem perto dos 50% frequentemente apregoados.

Quem realmente tira proveito disso?

Alguém pode contra-argumentar que esses bens ainda assim beneficiam principalmente o indivíduo rico, enquanto o restante de nós fica chupando o dedo. Mas isso tampouco é verdade. Se usarmos o conceito da disparidade de salários dos CEOs, podemos mostram quem realmente se beneficia dessa riqueza.

Pegue, por exemplo, o Wal-Mart, o alvo preferido das pessoas que combatem os salários injustos. O CEO da empresa, Doug McMillon, é acusado de ter um salário 1.180 vezes maior do que o de um trabalhador médio, com um salário anual que chega a US$22,8 milhões. Para um único indivíduo, US$22,8 milhões parece muito dinheiro. Mas pense que o Wal-Mart tem cerca de 2,2 milhões de funcionários. Se o CEO recebesse um dólar de salário e a empresa distribuísse o restante para todos os demais funcionários, cada um deles receberia um bônus de US$10. O sr. McMillon iria rapidamente a falência se tentasse apenas pagar um jantar para cada um dos funcionários.

Se analisarmos o balanço financeiro de 2018 do Wal-Mart, veremos que a empresa gerou despesas de US$514 bilhões. Desses, US$385 bilhões foram despesas diretas, destinadas sobretudo ao pagamento de fornecedores que por sua vez pagaram seus funcionários e fornecedores, e assim por diante. Aproximadamente US$50 bilhões foram para os funcionários das lojas. Outros US$107 bilhões foram gastos em despesas administrativas, que podemos supor estarem completamente atreladas a questões trabalhista, em pagamentos diretos para os funcionários do Wal-Mart ou para empresas externas remunerarem seus funcionários.

Dito isso, cerca de US$490 bilhões dos US$514 bilhões acabaram nos bolsos de um funcionário em algum lugar do mundo, beneficiando incontáveis milhões. Somente os empregados diretos pelo Wal-Mart ficaram com cerca de 20 a 25% do faturamento total da empresa. Os salários dos altos executivos não são registrados nem como erro de arredondamento. Os investidores ficam com US$6 bilhões em dividendos, ou cerca de 1% do montante. É importante notar que os investidores são compostos sobretudo por indivíduos e fundos de pensão, então esse valor também volta para os trabalhadores.

Os ricos donos do Wal-Mart, os Walton, ficam com apenas 0,2% da atividade econômica gerada pela empresa. É um número bem distante dos 95% pagos aos funcionários, sendo que o restante vai para contas de aposentadoria individuais. Os trabalhadores, os chamados 99 Por Cento, são os principais beneficiários de toda a riqueza que os Walton formalmente possuem.

Por que os ricos são bons para nós?

Por fim, essas pessoas que são extremamente ricas no papel são de imenso valor para o restante de nós. Sem alguém que corra o risco de abrir uma empresa, de reunir todos os nossos talentos díspares que por si só não valem nada e de combinar esses talentos numa organização, não estaríamos vivendo num mundo onde a fome e a pobreza estão em queda contínua e com alguns países tão ricos que pessoas com Internet de banda larga e smartphones são consideradas pobres.

Isso tudo graças a esses ricos que só pedem para ficarem com uma parcela minúscula da produção gerada por seus bens. Tentar destruir isso com planos de redistribuição será prejudicial para os 99 Por Cento.

Justin Murray é mestre em administração pela Universidade de S. Gallen, na Suíça.

Tradução de Paulo Polzonoff Jr.

©2019 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês.

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