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No capítulo 10 de “O Caminho da Servidão”, “Por que os piores chegam ao topo”, Friedrich Hayek continua a avisar sobre os perigos das economias planejadas, mas seguindo uma abordagem um pouco diferente dos capítulos anteriores.

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Adentrando território novo, aqui vemos Hayek não apenas identificando problemas econômicos, mas discutindo a própria natureza do poder. Especificamente, ele fala de como os totalitários conseguem chegar ao poder e coagir populações inteiras a submeter-se ao despotismo absoluto.

O que é tão fascinante nos alertas que Hayek transmite neste capítulo é o fato de terem sido escritos em um momento em que o mundo se esforçava para entender o que acabara de acontecer na Alemanha na II Guerra Mundial. Hitler e o Terceiro Reich ainda estavam muito presentes na mente de toda a humanidade, e isso conferiu relevância extraordinária aos avisos de Hayek.

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O mundo estava determinado a nunca mais permitir que esse tipo de mal atacasse a civilização, mas, como Hayek advertiu, não é questão apenas de assegurar que pessoas “boas” sejam eleitas para cargos de poder – é assegurar que o totalitarismo seja rejeitado em todas suas formas: econômica, política, social e todas as outras formas imagináveis.

Três razões

Os ditadores mais notórios da história não ascenderam ao poder aleatoriamente. E, nesse capítulo de seu livro, Hayek explica por que as pessoas mais desprezíveis sempre acabam exercendo o poder político e por que, parafraseando lorde Acton, o poder absoluto sempre corrompe absolutamente.

Hayek explica:

“Existem três razões principais por que um grupo tão numeroso e forte, com posições bastante homogêneas, não tem grande probabilidade de ser formado pelos melhores elementos de qualquer sociedade, mas pelos piores. Segundo nossos padrões, os princípios com base nos quais tal grupo seria selecionado serão quase inteiramente negativos.” 

Falando da primeira razão, Hayek diz:

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“Na primeira instância, é provavelmente verdade que, de modo geral, quanto mais se eleva o grau de instrução e inteligência dos indivíduos, mais suas opiniões e seus gostos são diferenciados e menor é a probabilidade de que concordem em relação a uma hierarquia particular de valores. Um corolário disso é que, se quisermos encontrar um alto grau de uniformidade e semelhança de opiniões, teremos que descer para as regiões dos padrões morais e intelectuais mais baixos, onde prevalecem os instintos e gostos mais primitivos e ‘comuns’.” 

E foi precisamente isso o que aconteceu na Alemanha antes da ascensão do Terceiro Reich.

Hayek prossegue:

“É, por assim dizer, o menor denominador comum que une o maior número de pessoas.” 

Depois de a economia alemã ter sido dizimada em consequência da Primeira Guerra Mundial, os problemas econômicos formaram o vínculo que uniu todos os alemães. Eles podiam ter apenas isso em comum, mas esse elemento tinha importância suficiente para impactar o dia a dia de todos os alemães.

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Além das dificuldades econômicas provocadas pela hiperinflação na República de Weimar, o “volk” contava com mais um elemento comum: eram todos alemães. E a partir disso nasceu uma campanha de propaganda política que capitalizaria em cima dessas poucas semelhanças para unir ainda mais o povo alemão em volta de uma causa: o Terceiro Reich.

Discutindo sua segunda razão, Hayek diz:

“Aqui entra o segundo princípio negativo da seleção: ele conseguirá angariar o apoio de todos os dóceis e crédulos, que não têm convicções próprias fortes, mas estão dispostos a aceitar um sistema de valores já pronto, desde que seus ouvidos sejam bombardeados com ele com volume e frequência suficientes. Portanto, apenas aqueles cujas ideias vagas e imperfeitamente formadas são facilmente influenciadas e cujas paixões e emoções são prontamente instigadas vão engrossar as fileiras do partido totalitário.” 

A população alemã estava exausta depois da I Guerra Mundial. Como o resto do planeta, sua economia já sofrera os golpes fiscais ligados aos custos da guerra prolongada. Os alemães queriam prosperidade e estavam dispostos a ir atrás dela de qualquer maneira que estivesse ao seu alcance, desde que lhes garantisse comida sobre a mesa.

Mas eles tinham acabado de travar uma guerra. Entre viúvas e mutilados pela guerra, a moral dos alemães estava baixíssima, com o mundo inteiro colocando a culpa de seus males na Alemanha.

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Quando Joseph Goebbels foi encarregado de manipular a população alemã para garantir não apenas sua submissão, mas levá-la a aderir ao fanatismo completo, ele soube exatamente o que fazer: unir o povo em uma causa comum e direcioná-lo a um fim desejado. Ele também sabia que uma boa campanha de propaganda política requer que certos slogans e discursos sejam reiterados interminavelmente até se entranharem na psique do povo, como Hayek explica acima.

Lançando mão de uma campanha brilhante de propaganda política que fazia uso dos sentimentos de todos os alemães no clima pós-I Guerra Mundial, Hitler e seus seguidores puderam ludibriar uma nação inteira.

Mas a verdadeira genialidade perversa da campanha de propaganda do Terceiro Reich foi ter usado um inimigo comum que a população inteira podia fazer de bode expiatório. Isto nos conduz à terceira razão citada por Hayek pela qual os piores chegam ao topo:

“Chegamos aqui ao terceiro elemento negativo da seleção, possivelmente o mais importante. Parece ser quase uma lei da natureza humana que é mais fácil as pessoas coincidirem sobre um programa negativo – de ódio a um inimigo ou inveja dos que estão em situação melhor – que sobre qualquer tarefa positiva. O contraste entre ‘nós’ e ‘eles’, a luta comum contra os que estão fora do grupo, parece constituir um ingrediente essencial de qualquer credo que una um grupo solidamente em torno de uma ação comum. Logo, isso sempre é usado por aqueles que buscam não apenas o apoio a uma política pública, mas a lealdade sem reservas das grandes massas.” 

O povo alemão estava farto, cansado e frustrado com sua situação. Não bastava atribuir a culpa às nações responsáveis por fazer seu país pagar reparações, já que, na época, a Alemanha não tinha meios para fazer muito a esse respeito. Em vez disso, o inimigo passou a ser todo aquele que não era como todos os outros.

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Não abra mão de seu poder

Embora o ódio de Hitler pela população judaica não fosse segredo, os judeus não eram os únicos em sua lista de alvos. Qualquer pessoa que não tivesse sangue alemão correndo em suas veias era vista como ameaça à pátria e tinha que ser exterminada.

A maioria das pessoas não estaria de acordo em condenar à morte setores inteiros da população. Mas o que é importante entender sobre a Alemanha na II Guerra Mundial é que a maioria dos alemães não entendeu a magnitude da situação.

Os alemães haviam entregue seu poder porque estavam desesperados por mudar a situação do país. Ao abrir mão do poder, permitiram que ocorressem atrocidades pavorosas que não foram freadas. Como diz Hayek, “existe entre os homens modernos uma tendência crescente a se imaginarem éticos porque delegaram seus vícios a grupos cada vez maiores”.

Essa observação chega ao cerne da razão por que todos os regimes totalitários são perigosos. Se os indivíduos abrem mão de todo seu poder e o entregam a uma autoridade, deixam de existir freios ao poder. Todas as coisas que possam ser feitas serão feitas, e o povo terá permitido que isso acontecesse, por sua própria vontade, porque os fins eram mais importantes que qualquer outra coisa.

Como diz Hayek:

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“... para alcançar seus objetivos, os coletivistas precisam criar poder –poder sobre homens exercido por outros homens—de uma magnitude nunca antes vista, e seu êxito dependerá do grau em que alcançam esse poder. O poder, e o sistema competitivo é o único sistema designado para minimizar pela descentralização o poder exercido pelo homem sobre o homem.” 

Poucos políticos são eleitos com uma plataforma de brutalidade de proporções épicas. Se o povo alemão tivesse sabido quais seriam os resultados finais do Terceiro Reich, duvido que a maioria teria concordado. Mas sempre é mais fácil dizer algo assim quando olhamos em retrospectiva.

Então como nós, como indivíduos, podemos fazer o que está ao nosso alcance para não permitir que isso volte a acontecer? Como podemos fazer o máximo para não ceder à tentação, confrontados com a incerteza econômica ou ameaças externas? A resposta está na vigilância constante.

Desconfie de qualquer político que queira que as massas abram mão de seu poder, e, quando estiver diante de tal decisão, lembre-se da frase comumente associada ao grande Ludwig von Mises: “Tu ne cede malis sed contra audentior ito”. Não se renda ao mal, mas avance contra ele com coragem cada vez maior.

* Brittany Hunter é editora adjunta da FEE. Ela estudou ciência política e estudos constitucionais na Utah Valley University.

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Artigo publicado originalmente do site da Foundation for Economic Education