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O destaque da convenção republicana da noite de 25 de agosto foi o discurso de Abby Johnson, uma ex-diretora clínica da Planned Parenthood que hoje é uma ativista pró-vida.
O substancial do discurso de Johnson recebeu marcadamente pouca cobertura, já que a maioria das reportagens, em vez disso, atacou a credibilidade de sua história de conversão ou trouxe à tona seus comentários controversos sobre outros assuntos. Mas o que Johnson disse sobre o aborto vale a pena recordar.
“Para a maioria das pessoas pró-vida, o aborto é algo abstrato. Eles não conseguem nem mesmo imaginar a barbárie”, disse ela, depois de contar a história de assistir um procedimento de aborto enquanto trabalhava na Planned Parenthood. “Eles não sabem sobre a sala de ‘produtos da concepção’ em clínicas de aborto, onde cadáveres de bebês são remendados para garantir que nada reste no útero das mães, ou que nós brincávamos e a chamávamos de quarto de ‘pedaços de crianças’. Para mim, o aborto é real. Eu sei que som tem. E sei como ele cheira. Vocês sabiam que o aborto tinha cheiro?”
Essa mensagem é muito forte, especialmente num período em que os apoiadores do aborto legal preferem evitar a falar sobre o procedimento de nenhuma maneira. De fato, na última convenção democrata da semana, enquanto o partido ratificava a maior plataforma pró-aborto da história, nem ao menos um único orador disse a palavra “aborto”.
É uma omissão clamorosa para um partido que agora propõe o aborto sob-demanda, ilimitado e financiado pelo contribuinte, que indicou um candidato presidencial que promete apenas nomear juízes que adotem o aborto legal e uma candidata a vice-presidente que quer usar o Congresso e o Executivo para impedir os estados de promulgar leis pró-vida, mesmo após a viabilidade fetal.
Talvez não seja muito surpreendente que os democratas prefiram evitar o assunto completamente do que ter de admitir esse extremismo. Em um artigo de opinião desta quarta-feira (26), atacando as observações de Johnson, Lauren Kelley, membro do conselho editorial do New York Times, sugeriu que a evasão dos democratas foi uma decisão estratégica inteligente:
Sem dúvida, o cálculo dos democratas era mais ou menos assim: aparentar ser o partido são e racional antes da eleição. Isso é o oposto de como o presidente Trump caracterizou o partido, como defensores de “arrancar bebês direto do útero da mãe”. (Não, isso não faz sentido.)
Os democratas certamente analisaram os números das pesquisas que mostram que as políticas de aborto e contracepção estão bem abaixo na lista de questões que preocupam os eleitores até novembro, mesmo que esses números sejam significativamente maiores para filiados ao partido democrata. Afinal, o país está no meio de uma pandemia global, de uma crise climática contínua e de uma grande retração econômica.
Mas certamente os números da pesquisa que Kelley cita não são os únicos que os democratas levam em consideração. Talvez eles tenham notado também que apenas 13% do público americano e 18% dos que se autoidentificam democratas apoiam o aborto legal durante todos os nove meses de gravidez, como faz o partido. Talvez eles descobriram que cerca de 80% da população se opõem ao aborto financiado pelo contribuinte, e 3/4 dos democratas se opõem ao financiamento do aborto pelos EUA no exterior, ambas políticas que Biden e Harris prometem implantar.
A convenção democrata tentou esconder a posição do partido sobre o aborto por uma razão bastante óbvia: ela não está em sintonia não apenas com o público americano, mas com os próprios eleitores do partido.
Contra a alegação bastante desinformada de Kelley de que Johnson pretendia cortejar eleitoras mulheres e brancas, jurando que no segundo mandato de Trump a Roe v. Wade será derrubada, o real motivo pelo qual os republicanos falam sobre aborto é porque a verdade nua e crua da questão é o argumento mais poderoso para a causa pró-vida. É por isso que o presidente Donald Trump tende a falar sobre o aborto tardio em termos concretos, para grande consternação de Kelley e outros jornalistas que querem que o procedimento permaneça legal.
O Partido Democrata apóia o aborto legal sob demanda, após a viabilidade fetal, até o momento do nascimento, sem restrições, e também a exclusão de quaisquer leis pró-vida em qualquer estado americano. Discutir esta plataforma, discutir sobre o aborto mesmo, seria arriscar-se a lembrar aos eleitores uma verdade inconveniente: todo aborto acaba com a vida de um ser humano distinto e vivo.
Este é o poder, e a ameaça, do discurso de Abby Johnson. Ele lembra a qualquer um que o ouça que o aborto não é um termo abstrato. Em última análise, o aborto não é, como insistem os democratas, uma questão de “direito de escolha” ou de “direito das mulheres ou de “justiça reprodutiva”. Aborto é uma questão de vida ou morte, e de escolha se os EUA continuarão a ser um país que privilegia dar poder aos fortes para que eles dominem os fracos.
Alexandra Desanctis é redatora da National Review e pesquisadora visitante no Ethics and Public Policy Center.