Em mais um dia terrível, eu odeio trazer ainda mais pessimismo, mas quando discutimos os tiroteios em massa, uma das primeiras perguntas que fazemos é a mais simples e também a mais difícil de responder. Por quê? Por que isso continua acontecendo? Aqueles que defendem o controle de armas têm uma resposta imediata – a prevalência de armas nos Estados Unidos. No entanto, as armas têm sido parte do tecido da vida americana durante toda a história da nossa república. Os tiroteios em massa – especialmente os mais mortíferos – são um fenômeno muito mais recente.
Escrevendo em 2015, Malcolm Gladwell escreveu o que eu acho que ainda é a melhor explicação para os modernos massacres nos Estados Unidos, e é facilmente a menos reconfortante. Correndo o risco de simplificar um argumento complexo, ele argumenta essencialmente que cada tiroteio em massa reduz o limiar para o próximo. Ele argumenta, estamos no meio de um "motim" em câmera lenta de tiroteios em massa, com o massacre de Columbine, em muitos aspectos, sendo o evento desencadeador chave. Baseando-se no trabalho do sociólogo Mark Granovetter, de Stanford, Gladwell observa que é um erro analisar cada incidente de forma independente:
Mas Granovetter achou que era um erro concentrar-se nos processos de tomada de decisão de cada agitador isoladamente. Em sua opinião, um motim, ou um tumulto, não era uma coleção de indivíduos, cada um dos quais chegou independentemente à decisão de quebrar janelas. Um motim era um processo social, no qual as pessoas faziam as coisas em reação e em combinação com as pessoas ao seu redor. Os processos sociais são orientados por nossos limiares – que ele definiu como o número de pessoas que precisam estar fazendo alguma atividade antes de concordarmos em participar delas. No elegante modelo teórico proposto por Granovetter, tumultos eram iniciados por pessoas com um limiar de zero – instigadores dispostos a lançar uma pedra através de uma janela à menor provocação. Então vem a pessoa que lançará uma pedra se alguém for primeiro. Ele tem um limiar de um. Em seguida, está a pessoa com o limiar de dois. Seus escrúpulos são superados quando ele vê o instigador e cúmplice do instigador. Próximo a ele está alguém com um limiar de três, que nunca quebraria janelas e saquearia lojas a menos que houvesse três pessoas bem na frente dele que já estivessem fazendo isso – e assim por diante até a centésima pessoa, um cidadão honesto que ainda assim poderia deixar suas crenças de lado e pegar uma câmera na vitrine quebrada da loja de eletrônicos, se todos ao seu redor estivessem pegando câmeras da loja de eletrônicos.
Gladwell argumenta então que Columbine mudou os limiares. Os primeiros sete dos “maiores” incidentes modernos de tiroteio em escolas foram “desconectados e idiossincráticos”.
Então veio Columbine. O sociólogo Ralph Larkin argumenta que Harris e Klebold estabeleceram o “roteiro cultural” para a próxima geração de atiradores. Eles tinham um site. Eles fizeram filmes caseiros estrelando a si mesmos como assassinos. Eles escreveram longos manifestos. Eles gravaram suas “fitas do porão”. Suas motivações foram explicitadas com grandiosa especificidade: Harris disse que queria “dar o pontapé inicial em uma revolução”. Larkin analisou os doze maiores tiroteios em escolas nos Estados Unidos nos oito anos depois de Columbine, e ele descobriu que em oito desses casos subsequentes os atiradores fizeram referência explícita a Harris e Klebold. Dos onze tiroteios em escolas fora dos Estados Unidos entre 1999 e 2007, Larkin diz que seis eram versões de Columbine; Dos onze casos de tiroteios frustrados no mesmo período, Larkin diz que todos eram inspirados em Columbine.
Aqui está a parte mais nefasta da tese de Gladwell. Os atiradores de “baixo limiar” são motivados por “ressentimentos poderosos”, mas à medida que o tumulto se espalha, as justificativas são frequentemente fabricadas e os atiradores cada vez mais “normais”. Eis a conclusão arrepiante de Gladwell:
Na época de Eric Harris, poderíamos tentar nos consolar com o pensamento de que não havia nada que pudéssemos fazer, que nenhuma lei, intervenção ou restrições às armas pudessem fazer a diferença em face de alguém tão perverso. Mas o tumulto agora engolfou os garotos que antes se contentavam em brincar com conjuntos de química no porão. O problema não é que haja um suprimento infinito de jovens profundamente perturbados que estejam dispostos a contemplar atos horrendos. É pior. É que os jovens não precisam mais estar profundamente perturbados para contemplar atos horríveis.
Em outros contextos, ele é mais elaborado. Os preparativos para massacres são frequentemente extremamente detalhados. Atiradores (e aspirantes a atiradores) muitas vezes filmam vídeos, imitam as roupas e as poses dos assassinos de Columbine, e copiam os atiradores que vieram antes. Gladwell dificilmente é um conservador da NRA – e ele acredita que o controle de armas “tem o seu lugar” – mas ele também compartilha este aviso sombrio: “Não vamos nos enganar dizendo que se nós aprovássemos o controle de armas mais rigoroso do mundo nós iríamos acabar com esse tipo particular de comportamento".
Contágio
De fato, é o padrão de preparação elaborada e obsessão com a subcultura de atiradores em massa que levaram em parte à minha própria defesa da ordem de restrição à violência armada. Embora não tenhamos detalhes suficientes sobre o atirador de hoje (18) no Texas para saber se teria feito alguma diferença, é fato que um grande número de atiradores em massa transmite sinais de alerta de sua intenção de causar dano, e também é um fato que os membros da família e outras pessoas relevantes próximas ao atirador têm poucas ferramentas à sua disposição para prevenir a violência. Uma ordem de restrição à violência armada pode permitir que um membro da família (ou diretor da escola) chegue rapidamente a um juiz local para uma audiência (com proteções processuais completas) que pode resultar no confisco temporário de armas de uma pessoa comprovadamente perigosa.
Embora os relatos iniciais costumem estar errados com frequência, existem indícios de que o atirador do Texas teve um comportamento que soa assustadoramente como o tiroteio de Columbine. Vimos relatos de um sobretudo, do uso de armas semelhantes e de explosivos – todas características do massacre do Colorado. Quando penso em Columbine, penso no ensaio de Gladwell. Há rapazes jovens nas garras de um terrível contágio, e não há uma cura chegando.
©2018 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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