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No Oriente Médio, já existia uma festa pastoril, antes do nascimento de Moisés, no dia da primeira lua cheia depois do equinócio de primavera para o hemisfério norte | Reprodução /Pixabay
No Oriente Médio, já existia uma festa pastoril, antes do nascimento de Moisés, no dia da primeira lua cheia depois do equinócio de primavera para o hemisfério norte| Foto: Reprodução /Pixabay

A sexta-feira antes da Páscoa, chamada de “santa”, é feriado no Brasil e em muitos países. O motivo é simples: apesar de o Brasil ser um estado laico – ou seja, as políticas públicas não são ditadas por uma doutrina religiosa – manteve-se a tradição de respeitar o costume cristão de recolhimento no dia em que se lembra a morte de Jesus Cristo, principalmente pelo fato de o país ter sido colonizado por Portugal, país de fortes raízes cristãs. Folga institucionalizada que nunca foi contestada de forma incisiva.

Para os católicos, a Sexta-Feira Santa é o único dia do ano em que não se celebra a missa – apenas há uma liturgia especial – e muitos cristãos observam práticas penitenciais, como o jejum e a abstinência de carne.

Mas por que essa data muda todo ano?

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Páscoas históricas

Para entender por que as datas da Sexta-feira Santa e da Páscoa são móveis, basta saber um pouco da história dessa festa religiosa.

Historiadores distinguem três (dependendo do autor) ou quatro Páscoas ao longo da história. (A palavra Páscoa costuma ser associada ao termo hebraico “Pessach”, “passagem” ou “passar por cima”, mas teria outras origens, como uma raiz siríaca “psch”, que significa “estar contente”).

A primeira Páscoa seria o episódio da fuga dos judeus do Egito, onde eram escravos, ocorrida provavelmente no século XIII a.C. Esse acontecimento teria contado com a ajuda divina – entre os auxílios do Céu relatados na Bíblia está a famosa passagem dos judeus pelo Mar Vermelho, a “pé enxuto”, porque as águas milagrosamente teriam aberto um caminho para os fugitivos. Nesse dia, que coincidiu com uma festa pastoril celebrada todos os anos no dia 14 do primeiro mês do ano na época, o mês Nisán (quando se dava a primeira lua cheia depois do equinócio de primavera para o hemisfério norte), Deus teria pedido a todas as famílias judias a imolação de cordeiros, como sacrifício necessário para a libertação.

A segunda Páscoa seria a comemoração anual dos judeus dessa primeira Páscoa nos anos sucessivos, com sacrifícios de animais. A liturgia dessa comemoração deveria seguir a liturgia prescrita na Bíblia, nos capítulos 12 do Êxodo e 16 do Deuteronômio.

A terceira seria a Páscoa de Jesus Cristo, judeu que teria modificado totalmente o sentido dessa celebração judia. Ele morre no dia da Páscoa judia, 14 de Nisán, que nesse ano teria sido uma sexta-feira, como símbolo (comparado aos cordeiros) de alguém que dá a vida em sacrifício pela libertação do povo, e depois ressuscita no domingo, por suas próprias forças, o que significaria a vitória de Deus e do homem sobre o pecado e a morte.

A quarta Páscoa seria a renovação anual da Páscoa de Cristo todos os anos pelos seus seguidores, vivida desde o século I depois de Cristo. Ou seja, para os cristãos, não existe contraposição entre esses diferentes significados da Páscoa, mas apenas uma sucessão dos acontecimentos dispostos por Deus de forma “pedagógica” – a Páscoa dos judeus seria uma metáfora da Páscoa real (libertação interior do homem) promovida por Cristo.

Então, como a Páscoa judia acontecia sempre no dia 14 de Nisán, primeira lua cheia depois do equinócio de primavera no hemisfério norte, a Páscoa é marcada no domingo sucessivo a este dia. Em 2018, essa lua cheia é dia 31 de março, sábado, e, portanto, a Páscoa será celebrada no dia 1º de abril.

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Datas diferentes

Um registro histórico sobre a Páscoa celebrada pelos cristãos já no século I é uma carta, provavelmente do ano 190, em que o bispo Irineu de Lyon explica ao papa Vitor sobre a controvérsia entre os cristãos em relação ao dia em que se deveria celebrar a Páscoa. Na Ásia Menor, se celebrava na noite do dia 14 de Nisán, depois de um dia de jejum e penitência, independentemente do dia da semana, enquanto que o resto das Igrejas celebrava a Páscoa (Ressurreição de Cristo) no domingo seguinte ao dia 14 de Nisán. No século III, no Concílio de Niceia (325), a Igreja unifica a festa da Páscoa no primeiro domingo após o dia 14 de Nisán.

Entre os cristãos, as datas permaneceram unificadas até 1582, quando a Igreja Romana começou a adotar o calendário gregoriano, que teria “ajustado” o ano em 13 dias. A Igreja Ortodoxa não aceitou essa modificação e continuou a utilizar a data estipulada no Concílio de Niceia. Dessa forma, as datas da Páscoa da Igreja de Roma e da Igreja Ortodoxa coincidem apenas a cada quatro anos.

Fonte: “La Pascua de nuestra salvación: las tradiciones pascuales de la Biblia y de la Iglesia primitiva”, de Raniero Cantalamessa

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