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Manifestantes em Caracas pedem a devolução do avião apreendido na Argentina, em protesto realizado no dia 09 de agosto de 2022
Manifestantes em Caracas pedem a devolução do avião apreendido na Argentina, em protesto realizado no dia 09 de agosto de 2022| Foto: EFE/ Miguel Gutiérrez

O avião venezuelano-iraniano que ficou retido na Argentina por mais de um ano trouxe novas repercussões na trama que divide Nicolás Maduro e Javier Milei. O líder socialista chamou o presidente argentino de “louco” e o acusou de ter “roubado a aeronave da Venezuela”.

Maduro também proibiu aviões com matrícula da Argentina de sobrevoar o espaço aéreo venezuelano e foi classificado pelo governo argentino como “amigo do terrorismo”. Agora, o Boeing 747-300 está em solo americano sob o comando da Justiça.

A origem da intriga por trás da aeronave

Em 6 de junho de 2022, durante a gestão do então presidente Alberto Fernández, um avião venezuelano-iraniano da empresa Emtrasur chegou desde o México ao aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, transportando autopeças com o objetivo de conseguir combustível, porém nenhuma petrolífera quis fornecê-lo. Dois dias depois, a aeronave tentou voar para o Uruguai mas teve o pouso negado e por isso teve de retornar ao solo argentino.

Impedido de voar por falta de combustível e sob suspeitas de atividades ilícitas, o avião foi apreendido e os 14 venezuelanos e cinco iranianos que vieram na aeronave ficaram detidos em um hotel durante vários meses enquanto eram investigados.

O Boeing 747-300 da Emtrasur, subsidiária do consórcio venezuelano Conviasa, operou por mais de 15 anos pela Mahan Air, uma companhia aérea iraniana sancionada pelos Estados Unidos pelas suas ligações com a Força Quds (um poderoso braço paramilitar de elite do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irão, considerado por Washington uma organização terrorista) e qualquer empresa estrangeira que prestasse assistência logística seria punida. É por isso que as petrolíferas argentinas não forneceram combustível ao avião por medo das sanções dos EUA.

Por sua vez, a Argentina acusou o Al Quds de estar por trás do ataque à Associação Mútua Israelita Argentina (AMIA) que ocorreu em 1994 em Buenos Aires e que deixou um saldo de 85 pessoas mortas.

O voo da Emtrasur havia decolado do México carregado de peças automotivas e os pilotos eram dois iranianos. As autoridades argentinas, que até aquele momento não desconfiavam de nada, haviam permitido o desembarque. No entanto, o então ministro do Interior, Aníbal Fernández, admitiu que “após a entrada” do avião, “foram recebidas informações através de diversos canais de organizações estrangeiras que alertavam a presença de alguns tripulantes ligados a empresas que trabalham para a Força Quds”.

O piloto do avião, Gholamreza Ghasemi, foi acusado pelos Estados Unidos por ter sido membro da Guarda Revolucionária Iraniana, mas os governos de Teerã e Caracas negaram as acusações. Em setembro e outubro de 2022, um juiz federal argentino teve que permitir a libertação dos tripulantes que permaneciam presos por falta de provas suficientes para processá-los.

Contudo, a resolução estabelece que os tripulantes não estão isentos de acusações e que no caso de aparecer novas provas, será emitido um alerta de detenção internacional para que os suspeitos possam ser novamente investigados.

“Ressalte-se que o despacho que declara a falta de mérito para processar ou encerrar o processo não implica a conclusão do processo, nem da investigação. Permite ao magistrado dar continuidade ao trabalho investigativo e pode modificar tal situação”, explica a resolução do juiz Villena.

Por outro lado, a aeronave ficou detida na Argentina já que em julho daquele ano, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, com a colaboração das autoridades argentinas, obteve ordem judicial para que o avião fosse confiscado em Buenos Aires por “transferência não autorizada”.

Milei versus Maduro

Após um ano e oito meses detido em Ezeiza, o avião venezuelano-iraniano chegou finalmente em solo americano no mês passado. A justiça argentina havia ordenado que o avião fosse entregue aos Estados Unidos. De acordo com o Departamento de Justiça, o Governo dos EUA confiscou a aeronave no aeroporto executivo Opa-Locka, no condado de Miami-Dade.

“A apreensão do avião de carga Boeing 747 pelos Estados Unidos culmina mais de 18 meses de planejamento, coordenação e execução pelo governo dos Estados Unidos e nossos homólogos argentinos”, disse Markenzy Lapointe, procurador dos Estados Unidos para o Distrito Sul da Flórida.

Após o envio, Maduro chamou o atual presidente argentino de “louco” e “bandido”, e acusou-o de roubar o avião. “O bandido Milei roubou o avião da Venezuela. Javier Milei, o herói da extrema direita e dos sobrenomes”, disse o líder chavista em evento transmitido na televisão.

“Esse é o herói agora, o maluco Milei, ele age como maluco ou é maluco, ou ambas coisas ao mesmo tempo, ah, mas ele roubou um avião da Venezuela”, reafirmou.

O Governo da Venezuela também alertou que daria uma "resposta contundente" ao "roubo descarado", após "o conluio" entre Washington e Buenos Aires.

Nesta terça-feira (12), Maduro anunciou a proibição de aviões com matrícula da República Argentina de sobrevoar o espaço aéreo venezuelano. O primeiro voo afetado foi um da Aerolíneas Argentinas que tinha como destino a cidade mexicana de Punta Cana. A companhia aérea também mencionou que a decisão prejudica seus voos para Nova York.

Diante deste cenário, o porta-voz presidencial, Manuel Adorni, informou que foram iniciadas “ações diplomáticas” contra a Venezuela por impedir a utilização do espaço aéreo e lamentou os “danos” que esta medida acarreta para o país. “A Argentina não se deixará extorquir pelos amigos do terrorismo”, afirmou.

O governo já realizou as reclamações pertinentes à Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO) e da Organização das Nações Unidas (ONU), para que o problema possa ser resolvido com urgência.

Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yvan Gil, atacou o governo argentino e o descreveu em sua conta no X (ex-Twitter) como “neonazi, submisso e obediente”.

“O governo neonazi da Argentina não é apenas submisso e obediente ao seu mestre imperial, mas também tem um porta-voz ‘com cara de tabuleiro’: o Sr. Manuel Adorni finge ignorar as consequências dos seus atos de pirataria e roubo contra a Venezuela, que foram advertido repetidamente antes do ato criminoso cometido contra a EMTRASUL”, afirmou o ministro.

Ainda continuou: “A Venezuela exerce plena soberania em seu espaço aéreo, e reitera que nenhuma aeronave, proveniente ou com destino à Argentina, poderá sobrevoar nosso território, até que nossa empresa seja devidamente indenizada pelos danos causados, após as ações ilegais praticadas, somente com para agradar seus guardiões do norte”.

Após as severas acusações, o porta-voz presidencial argentino respondeu: “O que se pode esperar de um burro além de um coice? De um governo de ditadores podem-se esperar perguntas que nem sequer merecem resposta. É uma tristeza para o povo venezuelano que estes loucos o governem”.

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