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Por que uma vida extenuante é melhor: as lições da História sobre a disciplina

Theodore Roosevelt (1858-1919): uma vida de ação, atividade e exercício.
Theodore Roosevelt (1858-1919): uma vida de ação, atividade e exercício. (Foto: Wikimedia Commons)

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A moderação dos próprios desejos não é uma rejeição do prazer, mas uma forma de abraçá-lo. Esta é a tese central do escritor e palestrante Ryan Holiday em 'Disciplina é Destino: O Poder do Autocontrole' (Intrínseca).

Segundo volume de uma série sobre as virtudes estoicas (objeto de estudo do autor), o livro mostra como a disciplina e o autocontrole foram amplamente utilizados pelos grandes nome da História — de Marco Aurélio a Martin Luther King Jr.

Leia a seguir um techo da obra, que chega ao mercado em julho, mas já está em pré-venda.

O rei George IV era um notório glutão. Seu café da manhã consistia em dois pombos, três bifes, uma garrafa quase inteira de vinho e um copo de conhaque.

Com o tempo, engordou tanto que não conseguia mais dormir deitado, ou o peso do próprio peito poderia asfixiá-lo.

Tinha problemas para assinar documentos — acabou ordenando que seus serviçais confeccionassem um carimbo com sua assinatura para poupá-lo até desse esforço básico.

Ainda assim, conseguiu gerar vários filhos ilegítimos enquanto negligenciava de forma generalizada suas funções enquanto rei.

Ele era o tipo de pessoa que, pelo jeito, acreditava que era imune aos problemas de saúde e da humanidade. Que seu corpo conseguiria e iria suportar abusos ilimitados sem consequências.

De fato, quando anos de maus hábitos e letargia por fim o atingiram às 3h30 de uma manhã no verão de 1830, suas últimas palavras foram: “Bom Deus, o que é isso?”

Então percebeu.

“Meu garoto”, disse, enquanto segurava a mão de um pajem, “é a morte.”

Era como se ele estivesse surpreso ao descobrir ser mortal… e que havia consequências em tratar o corpo como uma lata de lixo por quatro décadas.

Alguém já bebeu ou comeu até se empanturrar e, com isso, alcançou a felicidade? Não.

Mas será que hábitos assim garantem uma morte precoce? Infelicidade? Arrependimento? Pode apostar que sim.

Dê uma olhada na dieta de Babe Ruth [jogador de beisebol americano] na época em que jogava ao lado de Lou Gehrig.

O café da manhã era meio litro de uísque misturado com ginger ale, depois bife, quatro ovos, batatas fritas e um bule de café. Para o lanche da tarde, quatro cachorros-quentes, cada um deles acompanhado de uma garrafa de Coca-Cola.

Ele jantava duas vezes, uma cedo e outra mais tarde: duas bistecas, dois pés de alface encharcados com molho de gorgonzola, dois pratos cheios de batatas fritas e duas tortas de maçã.

Ah, e entre esses dois jantares, comia mais quatro cachorros-quentes com quatro garrafas de Coca-Cola.

Tudo o que precisa ser dito é que, um dia, Ruth foi levado às pressas para o hospital por beber refrigerante e comer cachorros-quentes demais. Era gostoso na hora, mas amargo a longo prazo.

“Ouça, Lou”, disse Babe certa vez a Gehrig. “Não seja idiota. Mantenha-se em forma. Não se deixe esmorecer. Cometi muitos erros. Não comia direito e não vivia direito. Mais tarde, precisei pagar por todos esses erros. Não quero que aconteça o mesmo com você.”

Por mais inspiradoras que sejam, as façanhas atléticas de Babe Ruth carregam consigo um toque de tristeza. O que ele poderia ter realizado se tivesse sido mais disciplinado? Que grandeza deixou como legado? Porque, sim, até os grandes poderiam ter
sido maiores.

O prazer do excesso é sempre passageiro. É por isso que a autodisciplina não é uma rejeição do prazer, mas uma forma de abraçá-lo.

Tratar bem o corpo, calibrar nossos desejos, trabalhar arduamente, fazer exercícios, movimentar-se, nada disso é um castigo. Trata-se simplesmente do trabalho cuja recompensa é o prazer.

Vamos comparar o rei George a outro chefe de Estado, o presidente Theodore Roosevelt. Se alguém tinha uma desculpa para uma existência sedentária, era Teddy.

Nasceu fraco e vulnerável. Seus interesses eram acadêmicos. A única coisa pior do que seus olhos míopes eram os pulmões, que pareciam se rebelar ao menor sinal de estresse.

“Não me repreenda, ou minha asma atacará”, disse ele ao pai certa vez. E, em muitas noites, era o que acontecia. Ataques incapacitantes e aterrorizantes que quase o mataram.

Mas, graças ao incentivo paciente do pai, Teddy começou a se exercitar. Começou em um ginásio que ficava no fim na rua, depois fez alguns exercícios na varanda na casa da família.

Mais tarde, em Harvard, não apenas remodelou seu corpo como sua vida, e, de certa forma, o mundo. A vida extenuante, ele chamaria, uma vida de ação e atividade, mas, acima de tudo, de exercício

Caminhada. Remo. Boxe. Luta livre. Escalada. Caça. Cavalgada. Futebol americano. Roosevelt praticou de tudo. Eram raros os dias em que não se exercitava de modo ativo, praticava esportes ou saía ao ar livre.

Mesmo quando se tornou presidente, era ativo o suficiente para envergonhar pessoas muito mais jovens. “Durante o tempo que morei na Casa Branca, sempre tentei praticar algumas horas de exercícios à tarde”, escreveu Roosevelt.

Algumas horas por dia! E era presidente!

Quem você acha que se sentia melhor quando acordava de manhã?

Rei George, o preguiçoso cuja vida girava em torno do prazer, ou Theodore Roosevelt, que, embora às vezes dolorido, escolhera a “vida extenuante” e jogava tênis ou nadava em Rock Creek ou no Potomac?

Mesmo quando se lesionava (chegou a perder a visão de um olho devido a um incidente de boxe durante o mandato), divertia-se muito!

O que você acha que Teddy teria pensado de nossas vidas digitais sedentárias? Ou da desculpa de que estamos ocupados ou cansados demais?

Fomos feitos para mais do que simplesmente existir. Estamos aqui para mais do que apenas ficar relaxados e buscar prazer. Recebemos dons incríveis da natureza.

Somos predadores alfa, produtos de elite de milhões de anos de evolução. Como você usará essa recompensa? Deixando seus ativos atrofiarem?

Não é apenas uma escolha pessoal. Afeta a todos nós.

Quase metade dos jovens norte-americanos são inelegíveis para ingressar nas Forças Armadas dos Estados Unidos por motivos de saúde ou condicionamento físico.

Intemperança não é brincadeira. Gula não é bom. Não se trata apenas de uma questão existencial, mas da segurança nacional.

Se nosso objetivo é a grandeza, se queremos ser membros produtivos e corajosos da sociedade, precisamos cuidar de nossos corpos. Não apenas na academia, mas na cozinha.

Manter uma dieta saudável e não abusar de drogas nem de bebidas constituem grande parte do trabalho pesado. Você é um carro de corrida sofisticado. Use um combustível adequado.

“É evidente que o corpo do filósofo deve estar preparado para a atividade física”, explicou o estoico Musônio Ruf.

“Pois, muitas vezes, as virtudes o usam como instrumento necessário para os assuntos da vida. Usamos o treinamento comum a ambos [alma e corpo] quando nos disciplinamos em relação ao frio, ao calor, à sede, à fome, ao alimento escasso, às camas duras, à abstinência de prazeres e à paciência em circunstâncias de sofrimento. Pois é por essas provações que o corpo é fortalecido e torna-se capaz de suportar as adversidades, estudar e estar sempre pronto para qualquer tarefa.”

A vida é repleta de todo tipo de dificuldades e desafios. O trabalho nem sempre correrá bem. Mas praticar exercícios? Isso está sob nosso controle.

É um espaço delimitado em que os únicos obstáculos potenciais são nossa determinação e nosso empenho.

Nadar. Levantar pesos. Treinar jiu-jítsu. Fazer longas caminhadas. Você pode escolher os meios, mas o método é um só: mantenha-se ativo. Obtenha sua vitória diária.

Trate o corpo com rigor, como nos exorta Sêneca, para que ele não desobedeça à mente.

Porque, enquanto você fortalece os músculos, o mesmo ocorre com sua força de vontade. Mais importante ainda: você desenvolve essa força de vontade e o vigor enquanto a maioria das pessoas, não.

Você não acha que houve momentos durante a Greve do Carvão de 1902 em que Teddy Roosevelt se cansou? Não acha que foi exaustivo lutar contra os trustes, seus advogados e seus agentes na imprensa?

Consegue imaginar como ele se sentiu quando a bala daquele assassino perfurou seu peito momentos antes de um discurso?

Sim, ele quis desistir. Sim, sabia que estava chegando ao limite. Sim, sabia que poderia fazer menos, que outros líderes sem dúvida se sentiram obrigados a fazer menos. Mas nunca o teria aceitado.

Ele continuava. Era experiente em não se dar por vencido. Sabia que aquela vozinha em sua cabeça, a voz do cansaço e da fraqueza, nem sempre precisava ser atendida.

Havia treinado para isso. Sabia do que era capaz. Criara seu corpo, e, por isso, ele o obedecia.

Conteúdo editado por: Omar Godoy

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