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Prefeita italiana ganhou prêmio por ajudar imigrantes. Mas o final não foi feliz

Giusi Nicolini não se reelegeu nas eleições locais. Além disso: ela sequer ficou em segundo, perdendo para um oponente que, durante a campanha, afirmou que "não suportava ver imigrantes por todos os lugares" | Facebook/Reprodução
Giusi Nicolini não se reelegeu nas eleições locais. Além disso: ela sequer ficou em segundo, perdendo para um oponente que, durante a campanha, afirmou que "não suportava ver imigrantes por todos os lugares" (Foto: Facebook/Reprodução)

Há dois meses, Giusi Nicolini, prefeita de uma pequena ilha italiana com uma população de seis mil habitantes, ganhou o prestigioso Prêmio da Paz da UNESCO. Lampedusa, que fica a 112 km da costa da Tunísia e era governada por Nicoline desde 2012, experienciou um grande fluxo de refugiados nos últimos anos. A prefeita foi premiada "pela humanidade sem fronteiras e pelo comprometimento inabalável" com os quais gerenciou a crise migratória.

Nos últimos anos, Nicolini se tornou um símbolo nacional da disposição de Lampedusa de ajudar aqueles que fugiam da guerra e da miséria: quando o presidente Barack Obama concedeu um jantar oficial em homenagem ao então primeiro ministro Matteo Renzi, em 2016, Renzi levou Nicolini como uma das pessoas que melhor representavam a Itália. 

Ainda assim, Nicolini não se reelegeu nas eleições locais do último domingo (11) . Além disso: ela sequer ficou em segundo, perdendo desastrosamente para um oponente que, durante a campanha, afirmou que "não suportava ver imigrantes por todos os lugares". 

Ser legal com imigrantes custa um cargo político? 

As pessoas da direita foram rápidas para celebrar os resultados das eleições como uma prova que italianos estão cansados de ajudar imigrantes em busca de asilo. 

Matteo Salvini, líder do partido Liga Norte, declaradamente antimigração, tirou sarro de Nicolini pelo que descreveu "propaganda para se sentir bem", que custou a ela a eleição. Ativistas conservadores postaram imagens que representavam a ex-prefeita como uma imigrante ilegal expulsa do país e memes que afirmavam que ela era uma agente de George Soros, o magnata liberal acusado (por teóricos da conspiração) de estar por trás na onda migratória africana para a Europa. 

Em entrevista para o The Washington Post, Nicolini disse que foi insultada pela atenção nacional e internacional que recebeu por conta da crise migratória: "Me chamaram de 'ladra di medaglie', ladra de medalhas, e me acusaram de falar demais com a mídia. Mas estava apenas tentando promover a imagem da ilha". 

Bons resultados

A economia de Lampedusa gira em torno da pesca e do turismo e Nicoline disse que, durante seu mandato, ela tentou balancear a obrigação moral de receber migrantes e a necessidade de manter a ilha interessante para turistas — e com bons resultados: o turismo cresceu 36%. 

É verdade que o novo prefeito, Salvatore "Totò" Martello, usou uma linguagem grosseira para falar sobre imigrantes. Martello, como Nicolini, pertence ao Partido Democrático de centro-esquerda e ganhou a eleição focando sua campanha na promessa de obter compensação financeira para pescadores que tiveram seu trabalho prejudicado pelos barcos de imigração. Ele alega que a presença de navios encalhados ou afundados naquela área do Mediterrâneo está estragando as redes de pesca. 

Porém, logo depois das eleições, ele suavizou sua fala, expressando seu respeito por imigrantes que arriscaram suas vidas no mar. 

Alessandro Puglia, jornalista freelancer que fez trabalhos constantes na ilha e dirigiu um documentário sobre Lampedusa, é cético quanto a relação entre o resultado da eleição e a crise migratória. Ele lembrou em uma entrevista que os residentes locais têm demonstrado sua solidariedade durante décadas.

"Imigrantes têm vindo para a ilha desde a década de 90 e a população local sempre oferece alimentos e cobertores. Mais do que isso, com frequência são os pescadores que resgatam os imigrantes do mar". 

Se foi algo relacionado a isso, disse Puglia, é o ressentimento dos locais pelo fato que a prefeita recebeu toda a atenção, enquanto o trabalho deles ficou desconhecido para o mundo. 

Nicoli reconhece que a crise migratória foi apenas um dos fatores, alegando que sua política de "crescimento sustentável" criou inimigos entre investidores e desenvolvedores menos preocupados com o meio-ambiente. 

Mas o debate sobre a crise migratória ter sido um fator determinante para as eleições locais dessa pequena ilha ainda é válido, e está claro que esse assunto está se tornando uma polêmica nacional. Com eleições previstas para o próximo ano, dois dos maiores partidos do país, a Liga Norte e o MoVimento 5 Estrelas, estão em campanha contra a imigração – sendo que a Liga está usando Nicolini abertamente como alvo. De acordo com uma pesquisa recente, 62% dos italianos seriam favoráveis a restringir a política migratória.

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