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Presidente de ONG beneficiada por Soros ganhou contrato com Theatro Municipal de SP

Raul Paulino Torres, em evento na OAB em maio deste ano.
Raul Paulino Torres, em evento na OAB em maio deste ano. (Foto: Reprodução/YouTube - Cultural OAB)

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Raul Paulino Torres, o presidente da organização que mais recebeu recursos da Open Society no Brasil em 2023, além de ser presidente do obscuro Instituto Incube e contador de várias ONGs financiadas com recursos estrangeiros, ele é empresário do setor alimentício. E do setor de galerias de arte. E de produções teatrais.

A reportagem da Gazeta do Povo apurou que uma empresa de Torres, sem qualquer indício de que existe no mundo real, faturou R$ 100 mil do Theatro Municipal de São Paulo logo após ser criada.

Essa foi a primeira nota fiscal emitida pela empresa, cuja atividade principal está no ramo de “lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares”, de acordo com cadastro do CNPJ na Receita Federal.

Empresa sem sede física

A Pedra Preta Galeria e Café foi aberta em julho de 2023, com um capital social de R$ 200.000 — um valor alto se comparado a outras companhias com o mesmo perfil. A empresa tem um único sócio: Raul Paulino Torres.

No endereço declarado à Receita Federal como sede do café, não há qualquer sinal de que ali funcione um estabelecimento comercial: é um imóvel sem identificação e com as portas fechadas no bairro da Vila Romana, em São Paulo. Ali, no passado recente, funcionava uma distribuidora de água mineral.

A sede declarada da Pedra Preta fica a cerca de um quilômetro do Instituto Incube — a organização presidida por Paulino que está no topo das ONGs financiadas pela Open Society no Brasil em 2023. Apenas no ano passado, a entidade recebeu mais de R$ 15 milhões da fundação comandada pelo bilionário George Soros.

Assim como a galeria/café, o Incube não parece ter uma sede própria, e tampouco mantém páginas na internet. Isso não impediu a Pedra Preta de receber recursos públicos.

Contrato com o poder público

Não há nada de irregular em manter um CNPJ sem de fato exercer uma atividade comercial, desde que todas as obrigações legais e fiscais sejam cumpridas.

Mas a empresa de Raul Paulino Torres, embora tenha sido registrada como café e galeria de arte, tem prestado outros serviços. 

Em março, a Pedra Preta foi selecionada pelo Theatro Municipal de São Paulo para fornecer elenco para a ópera “O Contractador de Diamantes” — uma produção complexa e de grande porte. 

O contrato valeu entre 3 de junho e 2 de julho deste ano. Foram 23 dias de ensaios e quatro datas de apresentações. 

A justificativa apresentada pelo Theatro Municipal para contratar a Pedra Preta foi a seguinte: “Trata-se de processo de contratação de serviço de natureza artística da empresa Pedra Preta Galeria de Arte e Café Ltda como elenco coadjuvante na ópera O Contratador de Diamantes de Francisco Mignone que integra a programação de 2024 do Theatro Municipal de São Paulo. O artista possui experiência com o programa, sendo sua participação aprovada pela direção da montagem.”

Pelo serviço, a Pedra Preta recebeu R$ 100 mil. Não houve concorrência porque a lei autoriza contratações diretas de serviços artísticos.

O Theatro Municipal de São Paulo é gerenciado pela Sustenidos, uma organização social financiada pela prefeitura de São Paulo.

Contrato do Theatro Municipal com a empresa da Raul Paulino TorresContrato do Theatro Municipal com a empresa da Raul Paulino Torres (Foto: Reprodução)

Projeto no SESC

O contrato com o Theatro Municipal não é o único laço da Pedra Preta com o setor cultural.

Em outubro deste ano, a empresa também foi contratada pelo SESC Belenzinho para realizar uma atividade de contação de história para crianças, dividida em seis datas. O pagamento foi de R$ 11.713. O número da nota fiscal emitida pela empresa é 000007 — o que indica que este foi o sétimo serviço prestado em toda a existência da Pedra Preta Galeria e Café.

O SESC é uma entidade de direito privado, mas parte do seu financiamento vem de uma contribuição fiscal do comércio.

O que diz o Theatro Municipal

A reportagem enviou três perguntas à assessoria de imprensa do Theatro Municipal:

  • Como é o processo de contratação em casos como esse, onde não há exigência de licitação?
  • Por quem foi feita a seleção dessa empresa e como ela demonstrou ter capacidade para realizar este serviço?
  • A gestão do Theatro Municipal considera que há algum problema nessa contratação, levando em conta a falta de experiência da Pedra Preta, que tem como atividade principal o fornecimento de serviços alimentícios?

O órgão respondeu o seguinte: 

“Os artistas contratados para a ópera O Contractador de Diamantes foram selecionados pela equipe de Programação do Theatro Municipal de São Paulo. A empresa PEDRA PRETA GALERIA DE ARTE E CAFÉ LTDA, CNPJ 51466361000169, citada realizou o trabalho de agenciamento artístico, a qual possui CNAE ativo para execução dessa atividade.”

O CNAE é a Classificação Nacional de Atividades Econômicas, que especifica o tipo de atividade exercida por uma empresa. No caso da Pedra Preta, embora a atividade principal seja no ramo de “lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares”, a lista de atividades secundárias inclui “produção teatral”, “produção musical” e “artes cênicas, espetáculos e atividades complementares não especificadas anteriormente” — dentre outras atividades, como “atividades de intermediação e agenciamento de serviços e negócios em geral, exceto imobiliários” e “treinamento em desenvolvimento profissional e gerencial”.

O SESC Belenzinho não respondeu ao contato da reportagem. Raul Paulino Torres tampouco se pronunciou.

Inquérito investiga possível desvio

Há duas semanas, a Gazeta do Povo mostrou que, embora tenha sido a entidade mais beneficiada pela Open Society no Brasil em 2023, o Instituto Incube não tem sede física, página na internet ou mesmo perfis em redes sociais.

A sede declarada da ONG tem o mesmo endereço de uma empresa de consultoria de Raul Paulino Torres, que fez carreira como contador de outras organizações não-governamentais que também receberam recursos da Open Society. 

Além disso, a reportagem revelou que uma das organizações para a qual Torres trabalhou, o ISPIS, o denunciou à polícia por um desvio de R$ 760 mil. A Polícia Civil de São Paulo abriu um inquérito para investigar o caso.

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