A vice-presidente e candidata democrata à presidência dos Estados Unidos, Kamala Harris, e o ex-presidente e candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump.| Foto: EFE/Erik S. Lesser/David Muse
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Um questionário: Quem disse o seguinte, e qual desses discursos o New York Times considerou sombrio e demagógico?

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  • “Não teremos um país” se meu oponente vencer.
  • Meu oponente é “uma ameaça à nossa democracia e às liberdades fundamentais.”
  • “Há uma única ameaça existencial:” meu oponente.
  • “A única ameaça existencial para a humanidade é a mudança climática, e [meu oponente] não fez nada a respeito.”
  • A eleição presidencial de 2024 “pode ter implicações quase existenciais.”
  • Negros e hispânicos “precisam acordar sabendo que podem perder suas vidas no simples ato de viver… [eles] têm que se preocupar se seus filhos voltarão para casa depois de uma ida ao mercado, de apenas andar na rua, dirigir, brincar no parque ou dormir em casa.”
  • “Os Estados Unidos precisam ouvir este alerta”: meu oponente é um “fascista.”
  • “Ninguém jamais foi tão perigoso para este país” quanto meu oponente.
  • “As pessoas não se importam se tanques passam a caminho da loja, desde que o leite não custe mais do que há 4 anos.”

Gabarito: A primeira citação é de Donald Trump. As demais são de: Kamala Harris, Joe Biden, Joe Biden, do New York Times, Joe Biden, Kamala Harris, Kamala Harris e um leitor do New York Times.

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No entanto, o Times acusa apenas Trump de fazer do “medo uma força motriz” em suas campanhas, de usar “o medo como uma ferramenta” para instigar sua base e de levar as “profecias do apocalipse a um novo extremo.” Segundo o Times, Trump envia sozinho a mensagem “sombria e apocalíptica”: “Tenha medo!” Em contraste, Harris, Biden e o Times estão apenas dizendo a verdade sobre a ameaça existencial que é Trump — e, no caso dos comentários de Biden sobre pais negros, sobre a ameaça existencial que a polícia representa para os negros.

O New York Times sempre acusou Trump de demagogia. Nas últimas semanas, contudo, ele fez do alegado discurso sombrio de Trump um tema obsessivo. A falta de autoconsciência do Times em relação à sua própria retórica histérica e à retórica dos adversários democratas de Trump é típica da cegueira autorreferente da grande mídia.

Os democratas rotineiramente exploram o medo de ameaças de direita à democracia, ao futuro do planeta, à “liberdade reprodutiva”, à segurança de pessoas “minoritárias” e de pessoas de gênero não-conforme e à liberdade de expressão. (Essa última acusação é a mais absurda, vinda do partido dos códigos de discurso, da silenciadora “fala de ódio” e da campanha contra “desinformação.”) Os democratas se veem como videntes sóbrios? Sim. Os conservadores se veem da mesma forma. O que conta como alarmismo hiperbólico depende das suposições prévias.

Ainda assim, a atual cruzada do Times para pintar Trump como apocalíptico e perigosamente único representa um novo nível de duplicidade. O primeiro exemplo do discurso sombrio de Trump é sua promessa, como coloca o Times, de “usar o poder da presidência para esmagar aqueles que discordam dele.” Trump teria “sugerido abertamente usar o exército contra cidadãos americanos simplesmente porque se opõem à sua candidatura,” alega o jornal. Se isso fosse verdade, Trump realmente ameaçaria a democracia.

Mas Trump não disse tal coisa. O Times e outros estão baseando essa acusação em uma entrevista de Trump à Fox News em 13 de outubro. A âncora Maria Bartiromo perguntou ao ex-presidente se ele “esperava caos no dia da eleição.” “Não do lado que vota em Trump,” ele respondeu. Bartiromo então sugeriu que infiltrados chineses poderiam tentar perturbar a eleição. Trump diminuiu corretamente essa teoria conspiratória. O “problema maior”, ele disse, é o “inimigo interno(…) Temos algumas pessoas ruins. Temos algumas pessoas doentes, lunáticos da esquerda radical(…) deve ser muito fácil de lidar com — se necessário, pela Guarda Nacional ou, se realmente necessário, pelo exército, porque eles não podem deixar isso acontecer.”

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Essa declaração foi o típico Trump: fraseado impulsivo e desnecessariamente resumido. Não faz concessões a ouvidos liberais sensíveis. Mas, mesmo imperfeito, ainda que lamentável, o uso das palavras por Trump deixa claro pelo contexto que ele não está, como coloca o Times, contemplando “usar o exército contra cidadãos americanos simplesmente porque se opõem à sua candidatura.”

Bartiromo havia perguntado a ele sobre “caos no dia da eleição.” Ela se referia à possibilidade de eclosão de distúrbios se Trump vencer. Dada a predileção dos esquerdistas por saquear lojas, incendiar carros e atacar propriedades governamentais quando o processo político toma uma decisão que os desagrada, a pergunta não é apenas razoável, mas urgente. Só quem sofreu um apagão de notícias na última década não preveria violência urbana após uma derrota de Harris. Mas, mesmo que alguém acreditasse que tal risco fosse mínimo, uma leitura de boa-fé da resposta de Trump mostra que ele se referia a esse risco ao contemplar chamar a Guarda Nacional ou o exército “se necessário.” Qualquer outro sentido é sem lógica. Como a Guarda Nacional visaria pessoas que apenas votaram em Harris? Os soldados não teriam ideia de quem votou em quem.

Talvez o Times tenha, a esta altura, reduzido tanto a gravidade dos desvios que equipara tumultos, ou melhor, tumultos de esquerda, com discordância política. Quando o Times escreve que Trump quer usar o exército para “esmagar aqueles que discordam dele,” talvez esteja, de fato, se referindo aos militantes antifa, que, na visão do Times, estão apenas exercendo seu direito de expressão política. Mas a caridade exige descartar essa possibilidade.

Para os conservadores, aqueles que pilham e destroem são, em termos diretos, “doentes” e “lunáticos.” Um orador mais sofisticado poderia dizer de maneira diferente, mas a realidade subjacente é a mesma. Trump já usou tais termos antes para se referir a manifestantes violentos, como o Times, que acompanha obsessivamente cada palavra dele, deve saber.

O Times não é o único ator político a interpretar de maneira deliberada os comentários de Trump. Harris disse em um comício em Erie, Pensilvânia: “Ele considera qualquer pessoa que não o apoie ou que não se curve à sua vontade um inimigo de nosso país. Ele está dizendo que usaria o exército para caçá-los.” A interpretação de Harris é ainda mais grave que a do Times, já que ela tem mais poder político e mais responsabilidade de veracidade.

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É tarde demais para esperar que Trump fale com precisão e prudência. Como o próprio Times observa, muitos de seus apoiadores tratam seus pronunciamentos mais teatrais como encenação, não como política séria. A parcialidade em qualquer direção também depende das suposições pessoais. Os conservadores ficam tão alarmados com a retórica dos esquerdistas quanto os democratas e outros esquerdistas em relação a Trump. Damos o benefício da dúvida ao nosso lado, mas ouvimos o pior nos excessos do outro lado.

Mas o meme “Trump quer caçar seus oponentes” está além da filtragem partidária comum. Isso reflete a desonestidade que caracterizou a abordagem da mídia ao fenômeno Trump desde o início. É essa desonestidade, e não a visão de mundo de Trump, que está se tornando cada vez mais sombria e que ameaça a possibilidade de convivência civil.

Heather Mac Donald é editora colaboradora da City Journal e autora de When Race Trumps Merit e outros livros.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

©2024 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: Prophets of Doom

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