Em meio ao concreto cinza dos subúrbios cariocas, um grupo de pessoas vem tentando mudar a relação da comunidade com o ambiente há quase uma década: criado em 2009, o projeto Planta na Rua RJ se dedica a alterar lugares de onde o verde há muito havia sido afastado – ao longo dos anos, o coletivo já realizou mais de uma centena de ações pelo Rio, em especial nos subúrbios cariocas, onde a paisagem é tomada pelo cimento e pouco tem a ver com as imagens normalmente associadas à Cidade Maravilhosa.
Fundado por um ecologista autodidata que se identificava somente pelo apelido de infância (Mono Telha), desde o meio do ano passado o projeto vem sendo organizado por Gabriela Fleury, a Gabi Flor, uma engenheira de produção pós-graduada em gestão ambiental. Ela, no entanto, se apressa em pontuar que não existe uma liderança ou uma hierarquia definidas – a autogestão, explica ela, é fundamental para que o coletivo cresça de forma espontânea e continuada.
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“Sou da cidade, cresci em apartamentos”, conta. “Mas meu pai sempre gostou muito de natureza e me levava para acampar. Depois que cresci, sempre me identifiquei muito com a natureza”, explica Gabi, que tomou conhecimento do Planta na Rua em um dos tantos mutirões realizados pelo grupo. “Quando conheci o projeto, entrei de cabeça para ajudar na gestão do grupo”.
Uma das ideias da iniciativa, por sinal, é justamente esta: engajar as pessoas em áreas que elas já tenham conhecimento, nas quais não vinham encontrando oportunidades de atuar. Seja na plantação propriamente dita ou na divulgação do projeto, seja no transporte dos membros do coletivo de um lugar para outro ou até mesmo na produção de camisetas e revistas para a venda e arrecadação de recursos – o importante, mesmo, é aplicar as habilidades para afastar um pouco o cinza do cotidiano da cidade.
“Nos dias de hoje, as pessoas se afastaram muito da natureza, sentindo que não fazem parte dela e que todo impacto que provocamos sobre ela é negativo”, lamenta Gabi. “Isso não é verdade. Hoje em dia estão descobrindo que muitas florestas, até mesmo a Amazônica, não teriam o seu porte, sua diversidade e abundância sem a interferência do homem a cultivá-las e manejá-las”.
Só no último ano, Gabi Flor diz já ter mobilizado mais de 30 mutirões de revitalização em diversos pontos do Rio. O passo fundamental para que a ideia floresça (literalmente) é encontrar pessoas dispostas a cuidar da plantação depois de pronta. Quando o interesse em dar continuidade à ideia existe, o Planta na Rua vai ao local para fazer um estudo da área e daquilo que pode ser mais bem aproveitado para formar uma horta.
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No dia do mutirão, a terra é preparada e recebe as sementes e plantas – quando tudo estiver pronto, o Planta na Rua só volta para fazer eventuais reparos, mas o espaço fica por conta da comunidade. São praças, terrenos baldios e canteiros que o grupo ajuda a revitalizar, desde que os vizinhos se comprometam com a rega e a manutenção do que ali for plantado.
“O objetivo do Planta na Rua RJ é ajudar as pessoas a se reconectarem com os saberes ancestrais que estão ressurgindo, sendo estudados e reproduzidos com muito sucesso”, define. “Nossa intenção é difundir ao máximo nossos conhecimentos sobre agroecologia e agricultura e ajudar as comunidades no meio urbano que quiserem implementar tais sistemas e cultivar seus alimentos, para ter uma melhor qualidade de vida independentemente do sistema ou governo vigente”, diz Gabi Flor.
Seu característico chapéu de feltro vermelho decorado com frutas, legumes, animais e flores tem um motivo a mais: chamar a atenção das crianças e atraí-las para participar da montagem das hortas e pomares. Há uma preocupação especial com elas, uma vez que os índices de obesidade infantil têm se elevado no Brasil e um aspecto importante do projeto é incentivar a alimentação saudável. Para a engenheira, saber de onde vem o alimento e como produzi-lo podem ajudar a resolver essa questão.
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“Existe um termo, criado pelo escritor estadunidense Richard Louv, que fala do ‘transtorno de déficit de natureza’. Especialistas têm confirmado que tal transtorno pode gerar tanto problemas físicos quanto mentais, como depressão, hiperatividade e déficit de atenção”, argumenta Gabi. “É essencial que as crianças tenham contato com a natureza e cresçam entendendo como cultivar alimentos”.
Para ela, a solução mais eficiente é o ensino da agroecologia nas cidades e nos campos. Falta de espaço não é desculpa: o Planta na Rua não utiliza apenas terrenos e praças que uma comunidade deseje revitalizar – se for preciso, até botas velhas podem se transformar em um vaso improvisado para fazer crescer uma vida. Desde a sua criação, o projeto inicialmente carioca se espalhou para outros estados, e o plano dos integrantes é dar suporte para iniciativas parecidas além das fronteiras do Brasil.
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O Planta na Rua RJ organiza mutirões, dos quais qualquer pessoa pode participar. A agenda é sempre publicada nas redes sociais do grupo. E, mesmo para quem não quiser botar a mão na massa, a ajuda pode vir de outras formas, com mudas e sementes de plantas que não são normalmente encontradas no espaço urbano.
“Quem tiver bananeiras, por exemplo, pode nos ajudar. Elas dão em abundância, mas na cidade é mais difícil de conseguir”, avisa Gabi Flor.
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