Nós últimos dez anos a ideologia transgênero avançou significativamente na sociedade e na cultura. E, à medida que suas reivindicações vêm sendo traduzidas em políticas públicas, ela passou a ameaçar não apenas os meios de subsistência de funcionários públicos que não se adequaram aos códigos de discurso, mas também a natureza livre e democrática da sociedade americana.
Estes não são receios infundados. Consideremos que, no Reino Unido, um médico que frequenta a Igreja Batista Reformada foi demitido recentemente pelo NHS (o Serviço Nacional de Saúde britânico) por acreditar que o sexo das pessoas é determinado biologicamente, e não “designado” no nascimento. Um professor de matemática cristão foi suspenso e está sendo investigado por ter dito “fizeram bem, meninas” a um grupo de alunas que incluía uma aluna transgênero que se identifica como menino.
Nos Estados Unidos, a Universidade do Minnesota anunciou recentemente uma medida ainda em fase de estudos que pretende coagir docentes, funcionários e estudantes a usar pronomes como “ze”, “sie”, “zir”, “hir”, “co”, “ev”, “xe” e “thon”. Os estudantes que infringissem a norma correriam o risco de ser expulsos, enquanto docentes e funcionários seriam sujeitos a medidas disciplinares – ou à demissão.
A Universidade Brown recentemente censurou uma de seus próprios professores de ciências sociais por ter publicado pesquisas mostrando que a “disforia de gênero de início rápido” frequentemente é provocada por pressão de pares.
Esses exemplos são indícios preocupantes de mais coisas ainda por vir, não apenas para as pessoas com disforia de gênero mas para o resto da sociedade. Uma parcela da esquerda política já deixou claro que pretende restringir as liberdades de religião e expressão hoje desfrutadas pelos americanos.
Os americanos deveriam ter a liberdade de usar os pronomes que acharem apropriados, especialmente se os novos códigos de expressão entrarem em conflito com suas convicções. Como observou Abigail Shrier, quando grupos distintos têm opiniões discordantes, normalmente são autorizados a conservar o vocabulário que decorre de suas respectivas visões de mundo.
Isso às vezes pode causar confusão, mas é bom e justo. Algo que para uma pessoa é “fruto da concepção” para outra pessoa é “a nenê”. O que para um partido político é um “pacote de estímulo”, para outro significa “engordar o 1% mais rico da população”.
Assim, quando judeus, cristãos ou muçulmanos são obrigados a falar como se o gênero fosse um construto artificial, e não uma realidade biológica imutável designada por Deus para o nosso bem, nossa liberdade religiosa está sendo reprimida. Afinal, a liberdade religiosa envolve mais do que apenas o direito de adorar a Deus em nosso âmbito privado. Como afirma a Primeira Emenda constitucional, a liberdade religiosa implica o direito de o cidadão praticar sua religião, alinhar sua vida com suas convicções e fazê-lo abertamente e sem medo.
Mas um cidadão não precisa ter motivos religiosos para afirmar que o sexo é biológico e binário. Como argumenta Ryan T. Anderson, “a biologia, psicologia e filosofia todas confirmam a visão do sexo como sendo uma realidade corporal e do gênero como a manifestação social do sexo corporal. Biologia não é intolerância.” Portanto, os novos códigos de expressão enfraquecem não apenas a liberdade religiosa, mas também a liberdade de expressão. Novamente é a Primeira Emenda que é atacada.
Como eu argumentei em “Letters to an American Christian”, essa supressão da livre expressão e da prática religiosa erode a natureza livre e democrática da sociedade americana.
Os proponentes dos códigos de expressão frequentemente presumem que discordância implique em ódio. Mas essa premissa ignora o fato de que a discordância muitas vezes pode refletir a compaixão. Eu discordo do nacionalismo branco, por exemplo, não porque eu odeie os nacionalistas brancos mas porque amo meus irmãos e minhas irmãs de cor. Os cidadãos devem ser livres para discordar sem serem vistos como preconceituosos.
Os códigos de expressão encorajam a hipocrisia e enfraquecem a capacidade de persuadir o outro. Quando a livre expressão é reprimida, não temos como saber quem são realmente as outras pessoas; logo, nunca poderemos entrar em uma discussão ou um debate genuíno com elas.
Ironicamente, o ativismo em favor de um código de expressão ignora o fato de que o progresso social muitas vezes depende da livre expressão. Muitas das ideias que a maioria dos americanos respeita e preza – como a igualdade de gêneros e étnica – foram consideradas ofensivas no passado. Mas não o são mais, precisamente porque cidadãos americanos corajosos puderam expor os méritos dessas ideias em debates públicos.
A supressão da livre expressão enviesa nossa sociedade em uma direção autoritária. Se deixarmos que instituições públicas hoje prescrevam e implementem o uso politicamente correto de pronomes de gênero, amanhã elas terão mais liberdade para prescrever e impor um sem-número de outros códigos de expressão. A supressão gera mais supressão.
Finalmente, para os americanos que são crentes religiosos, a obediência aos códigos de expressão de hoje aumenta a probabilidade de que algum dia tenhamos menos liberdade para compartilhar nossas crenças mais profundas. Queremos ser livres não apenas para falar do desígnio gerador de Deus, no qual a humanidade viveria em harmonia como homens e mulheres, mas também para dizer aos nossos concidadãos quem é Deus, mesmo que eles achem isso ofensivo.
Há uma razão por que James Madison colocou a liberdade religiosa e a liberdade de expressão em primeiro lugar na Carta dos Direitos dos Estados Unidos. Quando essas liberdades correm risco, todas as outras também são ameaçadas.
Em outras palavras, se os americanos não resistirem aos esforços para restringir nossa expressão e limitar nossa prática religiosa, qualquer um de nós – cristão ou ateu, conservador ou liberal, homem, mulher, heterossexual ou LGBT – pode um dia se descobrir em uma situação em que o Estado nos puna por vivermos conforme mandam nossas crenças e nossos valores.
Bruce Ashford é pró-reitor e professor no Southeastern Baptist Theological Seminary. Ele é co-autor de "One Nation Under God: A Christian Hope for American Politics" e escreve no blog "Christianity for the Common Good”.
Tradução por Clara Allain
©2018 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês