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A "irmandade" Proud Boys (Meninos orgulhosos) foi fundada em 2016, durante a campanha presidencial de Donald Trump, por Gavin McInnes, cofundador do portal Vice (para quem não conhece, site que reúne todo tipo de notícias sobre sexo, drogas e outros temas que poderíamos denominar de inspiração sessentaeoitista) e que se tornou um provocador de direita.
Em sua página oficial, o grupo se define como “chauvinistas ocidentais que se recusam a se desculpar por ter criado o mundo moderno” que anseiam por dias em que “meninas eram meninas e homens eram homens”. E acrescentam: “Há 20 anos isso sequer era controverso, mas orgulhar-se da cultura ocidental hoje é como ser um comunista aleijado, negro e lésbico em 1953.”
Como é possível notar, a linguagem utilizada pelo grupo é ostensivamente antipoliticamente correta. Mas será que o grupo é algo mais além de meros provocadores?
Segundo a página oficial do grupo, “Os Proud Boys confundem a imprensa porque o grupo é anti-SJW (antiguerreiros da justiça social) sem ser alt-right (direita alternativa, comumente associada a supremacistas e/ou nacionalistas brancos). É um ‘Chauvinismo ocidental’ que "inclui todas as raças, religiões e preferências sexuais.”
Como o seu próprio nome indica, a associação é apenas para homens.
O fundador
O fundador do grupo, Gavin McInnes, de 49 anos, é apresentado como escritor, empresário, colunista, ator, comediante e comentarista político de extrema direita do Canadá. Ele escreveu um livro de memórias intitulado How to Piss in Public [Como mijar em público].
McInnes tem um talk show online para assinantes e costuma aparecer em entrevistas nos mais diversos meios, sempre ostentando uma linguagem abertamente politicamente incorreta, o que o torna alvo de acusações de machismo e antissemitismo.
Acusações que ele nega veementemente.
Brigas e confusões
Talvez o que mais contribua para má fama do grupo são as freqüentes confrontações com grupos Antifa em diversos comícios e protestos pelos EUA. Esses confrontos fizeram até com que os Proud Boys entrassem na mira do FBI.
Talvez a mais importante de todas as confrontações ocorreu durante a segunda leva de protestos da Universidade da Califórnia, em Berkeley, em março de 2017. Enquanto participava de uma marcha pró-Trump no campus, Kyle Chapman, de 43 anos, foi filmado atingindo manifestantes antifascistas com um pedaço de pau – motivo pelo qual foi preso posteriormente.
Prontamente apelidado de “o homem do pedaço de pau”, Chapman se tornou uma espécie de ícone para os Proud Boys, que pagaram a sua fiança. Ele foi adotado na fraternidade, mas desde então formou uma célula de luta de rua dentro da organização. Chapman a descreve como o “braço defensivo tático” do grupo. Seus membros participam de comícios nacionalistas equipados com escudos e armas, operando como uma entidade separada dentro dos Proud Boys – e com a “aprovação total” de MacInnes, segundo Chapman.
McInnes é explícito ao insistir que o grupo não procura a violência contra os outros como uma tática de confronto, mas apenas responde defensivamente a ataques de ativistas antifa ou black blocs.
Casos como esses colocaram o grupo no radar do FBI. Em novembro de 2018, o jornal The Guardian noticiou que o FBI cogitava classificar o grupo como organização de extrema-direita. Segundo o documento da polícia, “os membros dos Proud Boys contribuíram para a recente escalada de violência em comícios políticos realizados em campi de faculdades e em cidades como Charlottesville, Virgínia, Portland, Oregon e Seattle, Washington”. Mais tarde, porém, o principal agente do FBI em Oregon afirmou que o FBI não designou os Proud Boys como grupo extremista, com a ressalva de que o FBI “tentou caracterizar a ameaça potencial de indivíduos dentro desse grupo”.
Ritual de iniciação
Mas além de não se oporem a ir (literalmente) à luta por sua bandeira, qual o intuito dos Proud Boys?
O grupo diz que não é “nada além de um clube de bebida para homens” e que opera “de maneira semelhante a grupos como os Cavaleiros de Colombo”, que buscam o apoio mútuo com o objetivo de serem homens melhores.
Para ser tornar membro dos Proud Boys é preciso passar por um ritual de iniciação. Outros rituais são exigidos para subir na hierarquia da organização.
O primeiro deles consiste em fazer um juramento de lealdade ao grupo nos seguintes termos: “eu sou um chauvinista ocidental orgulhoso e me recuso a me desculpar por criar o mundo moderno”. O segundo é levar socos em profusão até que a pessoa recite curiosidades pop, como os nomes de cinco cereais matinais.
O terceiro é fazer a promessa de não consumir pornografia e não se masturbar e fazer uma tatuagem com o nome do grupo. O quarto é entrar em uma briga “pela causa”.
Os graus de iniciação apontam para uma reação em oposição à campanha contra os “estereótipos de gênero” promovidos pela esquerda, que criaram um caldo cultural que frustra muitos homens.
McInnes chegou a apresentar um consultor de relacionamento, o ex-stripper masculino Dante Nero, em seu programa. Na ocasião, eles discutiram por que parar com a masturbação e por que outros homens deveriam seguir o exemplo.
Essa atitude, contudo, não é uma chamada à castidade. O grupo defende que a satisfação sexual deve vir pelo contato com outra pessoa (segundo eles, sem preconceitos com o homossexualismo). Paradoxalmente, as atitudes de paternidade responsável são fomentadas, mas o sexo casual para quem estiver solteiro também.
Os Proud Boys aparecem, portanto, como um grupo de autoafirmação masculina e que não teme “ir pra briga”. Mas será que essa seria a forma correta de resgatar uma masculinidade tradicional, ou seria uma reação emocional quase adolescente a uma situação hostil para os homens?
Joy Pullmann, editora executiva do jornal conservador The Federalist, confirmaria a segunda opção. Segundo ela, “uma cultura não é revivida por homens encurralados, levantando-se para bater no peito e gritar de dor e raiva. É revivido por aqueles homens que tomam ações estratégicas eficazes para servir e proteger algo muito maior e mais valioso do que eles.” E isso pode ser alcançado por qualquer homem que resolva casar e construir uma família. Essa, segundo ela, “é a parte substantiva de McInnes” e seu grupo e “não as sessões de bullying, os comentários bizarros e as brigas públicas que só atraem atenção para ele e sua equipe”.