O tempo de exposição à luz azul das telas dos celulares e tablets pode estar contribuindo para a puberdade precoce e o crescimento acelerado dos ossos em crianças, sugeriu um estudo feito em ratos por pesquisadores da Universidade Gazi, na Turquia.
O estudo, apresentado no 62º Encontro da Sociedade Europeia de Endocrinologia Pediátrica (16 a 18 de novembro), dividiu filhotes de 21 dias de idade dos roedores em três grupos. Um recebeu um ciclo normal de luz e escuridão, outro foi exposto a seis horas de luz azul por dia, e o terceiro teve 12 horas diárias de luz azul. O ciclo de luz foi mantido até os primeiros sinais de puberdade nos animais.
Os cientistas mediram o comprimento do fêmur (o osso da coxa) nos roedores e descobriram que aqueles expostos à luz azul tinham um crescimento mais rápido, em especial nos ossos, e começaram sua puberdade mais cedo do que os que tiveram um regime normal de luz.
O desenho experimental é rigoroso, mas a amostra é limitada, de apenas seis ratinhos por grupo. Contudo, o grupo de pesquisa já tinha encontrado antes o efeito da luz azul de antecipar a puberdade. “É o primeiro estudo a mostrar como a luz azul poderia influenciar o crescimento e o desenvolvimento, estimulando mais pesquisas a respeito dos efeitos da exposição moderna às telas sobre o crescimento das crianças”, disse a líder do estudo, Aylin Kılınç Uğurlu, que faz pesquisa sobre endocrinologia pediátrica em Ancara, na Turquia.
As meninas costumam atingir sua altura máxima entre os 14 e 16 anos, enquanto os meninos demoram até a faixa entre 16 e 18 anos. Nos últimos anos, muitos estudos documentaram cada vez mais crianças com puberdade precoce. Isso inclui uma interrupção de crescimento mais cedo do que o normal.
“Ainda não temos certeza que nossas descobertas seriam reproduzidas em crianças”, afirmou Uğurlu, “mas nossos dados sugerem que a exposição prolongada à luz azul acelera tanto o crescimento físico quanto a maturação da placa do crescimento”, que são as extremidades de cartilagem nos ossos infantis que vão sendo substituídas por osso quando as crianças crescem.
O crescimento acelerado pode ter más consequências, segundo a pesquisadora. “As mudanças estruturais precoces nas placas do crescimento dos ratos sugerem um impacto sobre a idade do osso a longo prazo. Isso significa que seus ossos amadureceram cedo demais, o que poderia fazer com que sejam menores que a média quando adultos”, disse a cientista.
Corroboração de outros estudos
Um estudo de pesquisadores americanos e australianos, publicado em 2015 na revista Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, mantida pela Sociedade Endócrina dos Estados Unidos, descobriu que crianças em fases mais precoces da puberdade são mais sensíveis à luz, se expostos a ela tarde da noite, do que adolescentes que já concluíram a puberdade.
Os cientistas mediram a sensibilidade à luz pelos níveis de melatonina, hormônio do ciclo circadiano (dia e noite) que é vendido nas farmácias para pessoas com distúrbios do sono. O sono é muito importante para o crescimento, é a fase do dia em que os ossos mais crescem, levando algumas crianças púberes a sentirem dores do crescimento.
Essa maior sensibilidade significa que a exposição à luz no período noturno pode atrapalhar mais o sono dos mais jovens. Com o avanço da puberdade, o corpo se torna menos sensível à luz noturna, o que ajuda a explicar por que adolescentes mais velhos tendem a dormir mais tarde. O estudo destaca que os adolescentes mais novos podem estar mais vulneráveis aos efeitos negativos da luz à noite, como o uso de telas antes de dormir.
Os efeitos da luz azul, e dos vários filtros criados para uso de dispositivos à noite, ainda são debatidos. Uma revisão publicada em 2022 na revista Frontiers in Physiology concluiu que 50% dos estudos apoiam a ideia de que a luz azul reduz a sensação de cansaço, um quinto deles indicam que ela reduz a qualidade do sono, e um terço dos artigos científicos apontam que a luz azul reduz a duração do sono.
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