Levantamento da Gazeta do Povo mostra quais são os bairros mais seguros de São Paulo| Foto: Pablo Jacob/Governo de São Paulo
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Os números da segurança pública na cidade de São Paulo têm aspectos bons e ruins. Os bons: comparada a outras grandes cidades, a capital paulista apresenta um desempenho muito superior. Os ruins: o índice de criminalidade em São Paulo continua elevado.

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Mas, para quem mora na cidade, faz pouco sentido dizer que São Paulo, com um todo, é uma cidade segura ou insegura. Com 1,5 mil quilômetros quadrados e 11,4 milhões de moradores, a capital paulista tem mais habitantes que Portugal.

Para permitir uma análise mais detalhada da criminalidade nos diferentes bairros de São Paulo, a Gazeta do Povo colheu as estatísticas de 2022, 2023 e 2024 (até julho) e as agregou em um índice único. O resultado tem dados surpreendentes.

Como a nota foi calculada

O ranking da segurança pública dos bairros de São Paulo, elaborado pela Gazeta do Povo, levou em conta crimes contra a vida, além de assaltos e furtos de veículos. Furtos menores e outros crimes (como porte de drogas) tendem a ter um alto índice de subnotificação, o que distorce os resultados. Por isso, eles não foram incluídos.

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O ranking dos bairros mais seguros de São Paulo é dividido por distritos policiais (delegacias), e mostra as áreas que tiveram o maior número de ocorrências policiais. 

O levantamento utiliza o número bruto das ocorrências policiais porque uma estimativa da taxa de criminalidade de acordo com a população criaria distorções. Por exemplo: o número de pessoas que circula pela região central é muitas vezes maior do que o número de pessoas que de fato vive na área.

Em média, cada distrito policial é responsável por uma área de 140 mil habitantes. O ranking da Gazeta do Povo simplesmente mede, de forma direta, quantos crimes aconteceram em cada região. 

A capital paulista tem 93 distritos policiais. Nem todos eles equivalem a um bairro. Higienópolis, por exemplo, não tem delegacia própria, e faz parte do Distrito Policial da Consolação. Ao mesmo tempo, Itaquera e Cohab Itaquera são dois distritos policiais distintos.

Ainda assim, a lista permite uma comparação direta entre as regiões da capital paulista.

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Categorias

A nota geral de cada distrito policial foi calculada com base em três categorias. A primeira é a dos crimes contra a vida, que teve o maior peso. Dentro dessa categoria, os latrocínios também receberam um peso mais elevado — que, por excluir os crimes passionais, reflete melhor os riscos reais para quem circula nessas regiões.

A segunda categoria foi a dos roubos, e inclui os roubos de veículos (que são contabilizados como um índice à parte) e os dados apresentados como “Roubos - outros” pela Secretaria de Segurança Pública. Essa categoria tem peso 2.

A terceira categoria é a dos furtos de veículos, que recebeu peso 1.

A distribuição dos pesos foi a seguinte:

Crimes contra a vida - Peso 3

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- Homicídios e lesões corporais seguidas de morte (peso secundário 1)

- Latrocínios (peso secundário 1,5)

Assaltos - Peso 2

- Roubos de veículos

- Roubos - outros

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Furtos - Peso 1

- Furtos de veículos

Em todos os cinco quesitos, os dez piores índices levaram nota zero. A partir daí, a nota foi calculada de forma linear. Só receberam nota dez os distritos que tiveram zero ocorrência daquele tipo.

Uma nota alta não significa que aquele distrito está perto da perfeição, mas indica que aquele bairro teve um desempenho melhor que os demais.

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Os bairros mais seguros de São Paulo

Em primeiro lugar no ranking dos bairros mais seguros de São Paulo, aparece o Distrito Policial do Belém, na região da Mooca. 

No período analisado, o bairro teve seis homicídios (nenhum deles foi latrocínio), 60 roubos de veículos, 1.088 assaltos (excluindo os roubos de veículo) e 382 furtos de veículos.

O bairro mais seguro de São Paulo teve “apenas” um assalto por dia, em média.

Mas poderia ser muito pior.

No mesmo período, o vizinho Brás (em 20° lugar dentre os bairros mais seguros) teve 17 assassinatos, 99 roubos a veículos, 3.190 roubos, e 1.087 furtos de veículos.

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No distrito da Sé (57° lugar), os números foram de 34, 83, 471 e 10.737, respectivamente. A região teve, em média, 12 assaltos por dia.

Em 93° e último lugar, São Mateus registrou 32 assassinatos (incluindo cinco latrocínios), 1.342 roubos de veículos, 1.847 furtos de veículos e 5.848 roubos (excluindo roubos de veículos). Na nota geral, de 0 a 10, o distrito recebeu uma pontuação de 0,67.

O segundo lugar na lista é um bairro modesto: o Jardim Robru, na Zona Leste, obteve 8,79 pontos no ranking geral. Um indício de que áreas de baixa renda não são sinônimo de zonas violentas. 

Mesmo quando se leva em conta a população do distrito, os números continuam positivos: o Jardim Robru teve uma taxa de homicídios de 1,4 por 100 mil habitantes (quando se calcula a média anual entre 2022 e julho de 2023). Nos Jardins, um dos bairros mais nobres da capital, a taxa foi de 2,7.

O fenômeno se repete em outros critérios. A taxa de assaltos dos distritos policiais da Consolação (3,8 mil por 100.000 habitantes por ano) e de Pinheiros (2,7 mil) está muito acima do de bairros de renda mais baixa, como Ermelino Matarazzo (607 por 100 mil habitantes) e Perus (584).

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Características urbanísticas fazem diferença

Para a professora de Urbanismo Loyde Abreu-Harbich, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, os resultados mostram que a correlação entre renda e segurança está longe de ser perfeita. Ela diz que alguns bairros mais pobres de São Paulo têm uma característica ausente em regiões mais abastadas: o senso de comunidade. “O sentimento de pertencimento ao lugar ajuda a cuidar da segurança do bairro, que é o elemento de vitalidade urbana que chamo de olhos na rua”, explica.

Bairros com mais vitalidade têm mais pessoas nas ruas e, por isso, um ambiente menos convidativo para algumas atividades criminosas. Entretanto, a aglomeração excessiva de algumas regiões pode atrair delinquentes. "O bairro de Pinheiros possui todos os elementos de vitalidade. Mas, por essa região ter muita gente circulando e um poder aquisitivo mais alto, os bandidos se sentem à vontade para praticar furtos e outros delitos", Loyde explica.

A professora acrescenta que, além do policiamento, as características urbanísticas de cada região afetam os índices de criminalidade. A falta de iluminação adequada e a ausência de janelas tendem a aumentar as oportunidades para ações criminosas.

Homicídios estão em baixa, mas crime continua elevado

A taxa de homicídios paulistana é a menor dentre as capitais do país. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado, o município teve em 2023 sua menor taxa de homicídios já registrada: 4,5 mortes por 100 mil habitantes — metade do índice de 2015, que já era metade do registrado em 2006, que era menos da metade da taxa de 2001 (51,9 mil por 100 mil habitantes).

O Atlas da Violência, elaborado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), tem números menos impressionantes: o relatório leva em conta o que considera “homicídios ocultos” e coloca São Paulo com 15,4 assassinatos por 100 mil habitantes. Ainda assim, por esse critério a cidade é a terceira capital estadual com menos assassinatos no país. Apenas Cuiabá e Florianópolis tiveram um desempenho melhor em 2022, data dos últimos números consolidados.

Ao mesmo tempo em que os homicídios estão em queda, é impossível dizer que São Paulo é uma cidade segura. O número de roubos, assaltos e furtos permanece muito acima do aceitável, e tem um efeito duradouro sobre a sensação de segurança. O índice de roubos (leia-se assaltos) é praticamente o mesmo de duas décadas atrás, e aumentou 17% entre 2012 e 2022.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]