Qual o país mais populoso do mundo, por anos a resposta a essa questão era simples a raramente disputada: China. Mas essa semana, um pesquisador suscitou ampla discussão ao redor do mundo ao fazer uma afirmação ousada — que as estimativas populacionais da China estavam erradas e que na verdade a Índia é agora o país mais populoso do mundo.
Essa sugestão potencialmente radical foi feita segunda-feira (22) por Yi Fuxian, um pesquisador da Universidade de Wisconsin-Madison, durante um evento na Universidade de Pequim, na China.
De acordo com o jornal South China Morning Post, Yi sugeriu que a China teve apenas 377,6 milhões de nascimentos entre 1991 e 2016, muito menos do que o número oficial de 464,8 milhões. Isso significa que a estimativa populacional oficial da China, atualmente de 1,38 bilhão, está errada, disse Yi. Em vez disso deveria ser 90 milhões menor — uma diferença grosseiramente equivalente às populações da Alemanha e da Bélgica combinadas.
Isso resultaria em 1,29 bilhão, menor do que a estimativa populacional de 1,32 bilhão da Índia, de acordo com Yi.
Diversos veículos de imprensa da China, da Índia e de outros lugares rapidamente noticiaram o fato. Se Yi está correto, as implicações certamente seriam grandes. Isso não apenas significaria que a Índia já ultrapassou a China como o país mais populoso do mundo — algo que a ONU tinha estimado que aconteceria em 2022 — mas que a redução do crescimento populacional chinês foi maior do que muitos pensavam e estava sendo ocultado do público.
“Nenhuma surpresa”
Contatado por e-mail, Yi disse que a controvérsia não era “nenhuma surpresa” para ele, mas acrescentou que ele já tinha observado sua convicção de que as estimativas oficiais chinesas estavam erradas na edição de 2013 de seu livro, “Big Country with an Empty Nest” (Grande país com um ninho vazio, sem tradução para o português), que lançou um olhar crítico às políticas de planejamento familiar da China.
Na verdade, Yi diz que ele tinha certeza que as estimativas estavam erradas muito antes.
“Em 2003 eu sabia que os dados populacionais oficiais divulgados pela China eram muito maiores do que a população real”, Yi escreveu de Taiyuan, China.
Entre os muitos elementos notáveis da afirmação de Yi está o local de onde ele a está fazendo: China continental.
“Uma criança”
O pesquisador, nascido na província de Hunan, se mudou para os Estados Unidos em 1999. Depois de se mudar para cursar o ensino superior na Universidade de Minnesota-Twin Cities (mais tarde ele trabalhou como pesquisador na Escola de Medicina de Wisconsin e foi para a Universidade de Wisconsin-Madison como cientista em 2002), Yi rapidamente se tornou um crítico vocal das políticas de planejamento familiar da China, inclusive de sua regra de “uma criança”.
Em seus trabalhos, Yi sugeriu que essas políticas estavam limitando o crescimento econômico da China, de forma que o país nunca poderia competir com os Estados Unidos. Ele também sugeriu que a China poderia ter em breve uma taxa de natalidade negativa e uma população decrescente, como o vizinho Japão.
Banimento da China
Yi, que permanece um cidadão chinês, afirmou que suas visões o colocaram em conflito com o Estado chinês. “Big Country with na Empty Nest”, publicado pela primeira vez em 2007, foi inicialmente banido da China continental. Mais tarde ele disse ao New York Times que foi alertado de que seria preso se retornasse ao país depois de ajudar sua cunhada a escapar de um aborto forçado ordenado pelo Estado.
A China pareceu aquiescer com ao menos parte de seus argumentos em 2015, quando abandonou a política de “uma criança” e permitiu que todos os casais tivessem duas crianças. Ano passado, Yi retornou à China como convidado, mas poucos meses depois suas contas nas redes sociais foram derrubadas — o que ele viu como uma tentativa fútil de censura.
O status de Yi como um apaixonado ativista contra as políticas de planejamento familiar da China é bastante conhecido e levou a alguns questionamentos sobre suas estimativas da população chinesa.
“Seus números não deveriam ser tomados por seu valor de face”, Wang Fang, um demógrafo da Universidade da Califórnia, em Irvine, disse ao jornal Guardian.
Feng, que no passado alertou que a China estava indo em direção a um “precipício demográfico”, disse que acredita que os números populacionais do governo são fidedignos.
Mas de acordo com o South China Morning Post, um número de outros pesquisadores no evento de segunda-feira na Universidade de Pequim pareceram concordar que os números do governo estão errados.
“O governo superestimou a taxa de natalidade e subestimou a velocidade das mudanças demográficas”, disse Li Jianxin, um demógrafo da Universidade de Pequim, de acordo com o jornal.