Quando se fala em poderio militar da América Latina, os números são amplamente favoráveis ao Brasil. Para ficar na comparação com a Venezuela, cujas fronteiras vivem um momento de altíssima tensão, as forças armadas brasileiras contam com 16 vezes mais militares na ativa. O total de aviões militares é 2,5 vezes maior. O Brasil tem ainda 3,4 vezes mais lançadores de foguetes e 2,2 vezes mais embarcações militares.
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De todos os países da região, apenas a Colômbia tem mais helicópteros militares — 273, contra 255. Só Cuba supera o total de veículos terrestres disponíveis, com 1.830 contra 1.707. Colômbia, com 234, e México, com 143, vencem em total de embarcações, com a Colômbia mantendo 11 submarinos, contra os cinco brasileiros. No mais, o Brasil suplanta todas as nações, em todos os demais quesitos. O total de aviões militares, por exemplo, supera a soma da capacidade militar aérea de Argentina, Chile, Paraguai e Peru, somados (veja mais números no quadro abaixo).
Boa posição
Não é nada comparável com o desempenho dos Estados Unidos, que têm 18 vezes mais aviões, 22 vezes mais veículos terrestres e 3,7 vezes mais embarcações militares. Mas os números reforçam o fato de que o Brasil é uma potência militar entre seus vizinhos.
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Os dados são compilados pela GlobalFirepower, que desde 2006 analisa a situação do poderio militar de 136 países do mundo. No ranking global, listado a partir de um indicador produzido como resultado de uma combinação de fatores, que levam em conta quantidade de pessoal e quantidade e qualidade de armamentos, os Estados Unidos lideram, seguidos por Rússia, China, Índia e França. O Brasil está em 14º – é o mais bem colocado da América Latina. A Venezuela ocupa a 46ª posição. Na região, perde também para México, Argentina, Peru e Colômbia.
O país alcança esses números expressivos investindo um percentual menor de seu Produto Interno Bruto, na comparação com outros vizinhos. De acordo com o Stockholm International Peace Research Institute, uma instituição que compara países do ponto de vista do investimento com as forças armadas, o Brasil vem mantendo, desde 2003, gastos na casa do 1,5% do PIB – entre o fim dos anos 80 e ao longo da década de 90, esse total ficava em torno dos 2%.
Falta de atualização
Em 2017, o Brasil registrou gastos de 1,4% do PIB. O Chile, por exemplo, investiu 1,9%. A Argentina, 0,9%. A Colômbia, 3,1% e o Equador, 2,4%. Em consequência de sua grave crise econômica e política, a Venezuela vem reduzindo drasticamente seus investimentos, de 1,7% em 2013 para 0,5% em 2016 e em 2017.
Por outro lado, apesar da quantidade de pessoal e de armas e veículos inferior, a Venezuela vem contando com suporte do governo russo no sentido de melhorar a qualidade de seus armamentos. Atualmente, o país mantém um bom sistema de proteção aérea, com caças Sukhoi-30 e lançadores de mísseis de longo alcance.
Fornecidos para o governo venezuelano nos últimos anos, os tanques russos T-72, por exemplo, estão entre os mais avançados do continente. Bem armado, esse exército vem dando sustentação ao governo de Nicolás Maduro.
Segundo o Carnegie Endowment for International Peace, a situação da Venezuela vem facilitando a presença russa no continente. O estudo da organização cita uma fala do então chefe de gabinete americano John Kelly, durante audiência no Senado americano:
“Periodicamente, desde 2008, a Rússia tem ampliado sua presença na América Latina através de propaganda, armamentos e equipamentos, acordos contra o tráfico de drogas e comércio. Sob o governo do presidente Putin, temos visto um claro retorno a táticas da Guerra Fria. Como parte de sua estratégia global, a Rússia está usando sua projeção de poder de forma a diminuir a liderança americana no hemisfério ocidental”.
Já as forças armadas brasileiras se preocupam com a defasagem. No relatório Cenários da Defesa 2039, produzido pelo Ministério da Defesa, aponta que o país está perdendo a corrida pela aquisição de drones, robôs marítimos e robôs de cargas, entre outros equipamentos já utilizados em cenários de guerra em diferentes pontos do globo.
“Do ponto de vista estritamente militar, a região amazônica é vulnerável; é esparsamente povoada e a fronteira de 9 mil quilômetros é mal definida e defendida”, aponta o relatório State and Soldier in Latin America, produzido pelo United States Institute of Peace. Lembrando que a fronteira de 2.200 quilômetros com a Venezuela está inteiramente dentro da Amazônia.