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Qual o problema em mostrar animais mortos na TV?

Rodrigo Hilbert matou um filhote de ovelha em seu programa no GNT | Divulgação
Rodrigo Hilbert matou um filhote de ovelha em seu programa no GNT (Foto: Divulgação)

No dia 10 de março de 2016, o ator e apresentador Rodrigo Hilbert matou um filhote de ovelha no primeiro episódio da nova temporada de seu programa culinário “Tempero de Família”. A exibição foi severamente criticada por internautas nas redes sociais. Chegaram a criar um abaixo assinado para que as cenas fossem retiradas tanto do site quanto das próximas reprises que iriam ao ar.

A nova temporada do programa tem o foco de mostrar a realidade dos preparos da comida de cada família. Por isso, justificou Hilbert, ele preferiu detalhar passo a passo do abate do animal e exibir na televisão para que todos conhecessem o real processo que acontece até que a carne chegue aos frigoríficos.

Nesta segunda-feira (28), foi a vez do chef Henrique Fogaça, jurado do programa Masterchef, publicar em sua conta do Instagram a foto de um porco morto, com a legenda “hoje é dia de porco”. A reação foi igualmente intempestiva por parte de alguns seguidores.

Luiz Eva, professor de ética da Universidade Federal do Paraná (UFPR), diz não encontrar justificativas para que a exibição seja retirada do ar. “Muitos veganos não achariam ofensivo mostrar essas imagens como um modo de conscientizar as pessoas sobre o sofrimento dos bichos”, diz o filósofo. Já Soraya Simon, voluntária da Sociedade Protetora dos Animais de Curitiba (SPAC), diz que a atitude tanto do apresentador, quanto do programa ao fazer a exibição, foi cruel, lamentável e desnecessária.

Matar animais para alimentação é uma atividade milenar. As pessoas querem comer um belo churrasco, mas não querem saber o que o boi sofre. Querem comer um delicioso cordeiro, mas não querem saber o que ele passou para chegar até a mesa

Luiz Felipe Pondé, filósofo e escritor

Luiz Felipe Pondé, filósofo e escritor brasileiro, diz que as pessoas estão cada vez mais sensíveis com relação aos animais. Em seu ponto de vista, hoje em dia muitos seguem modinhas sociais. “Matar animais para alimentação é uma atividade milenar. As pessoas querem comer um belo churrasco, mas não querem saber o que o boi sofre. Querem comer um delicioso cordeiro, mas não querem saber o que ele passou para chegar até a mesa”, diz o filósofo.

Hipocrisia

Segundo o Decreto nº 30.691, de 29 de março de 1952, o abate de animais deve ser feito por pessoal habilitado na direção dos trabalhos técnicos do estabelecimento, de forma humanitária, para que o animal esteja livre de sofrimento. Questionamento levantado por Soraya, ao dizer que Hilbert não possui tais habilidades, fazendo o abate de forma a incitar a violência e agir contra a dignidade e moral dos animais.

Para Eva, é sim adequado agir com base na regulamentação, de acordo com suas competências, para garantir o mínimo sofrimento possível ao animal. Porém, são atitudes que acontecem todos os dias nas fazendas familiares do interior, por exemplo, que não afetam a moral – o que não deveria ser o contrário apenas por estar em um programa de televisão. “Nesse sentido, a atitude do apresentador pode até ser vista como eticamente defensável: algo na linha ‘não sejamos hipócritas, comamos, mas saibamos o que estamos fazendo’”, diz o professor.

A natureza é a primeira a devorar a si mesma. O único animal que fica de frescura pra comer outro é o Homo sapiens

Luiz Felipe Pondé

Mostrar o processo na televisão foi insensível, mas não antiético, para Pondé. “Para os defensores dos animais, é antiético usá-los como alimentação por conta de seu sofrimento. Mas, a partir do momento que se provar que alface também sente dor, não poderemos comer mais nada! A natureza é a primeira a devorar a si mesma. O único animal que fica de frescura pra comer outro é o Homo sapiens”, diz o filósofo.

Rodrigo se posicionou em sua página do Facebook sobre os ataques ao episódio da temporada. “Venho de uma família grande, igual a muitas outras nesse Brasil, que tem como tradição plantar e criar o próprio alimento que consome. [...] Não tínhamos a intenção de incitar qualquer violência contra animais, mas apenas de registrar o dia a dia desses trabalhadores que lutam para criar e alimentar suas famílias. [...] Vou levar isso tudo como um aprendizado”, declarou Hilbert.

O canal GNT também se pronunciou sobre o ocorrido. Afirmou entender que as imagens podem ser fortes e, em respeito às manifestações do público, decidiu retirá-las do programa.

Henrique Fogaça não se pronunciou a respeito e nem respondeu aos comentários deixados em sua conta no Instagram.

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