“Socialismo ou Morte”, diz o cartaz em Havana, capital de Cuba: para milhares de cubanos, a ascensão de Fidel Castro ao poder significou a segunda opção| Foto: EFE / Ernesto Mastrascusa
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Juan Owen Delgado, estudante cubano do ensino médio, tinha 15 anos quando sua família buscou asilo na embaixada do Equador em Havana em 14 de fevereiro de 1981. O grupo era formado por 14 pessoas, incluindo três mulheres e quatro menores de idade.

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Eventualmente, a família foi presa e levada para a Sede da Segurança do Estado Villa Marista, conhecido centro de tortura de Cuba. Depois de ter sido espancado e perdido parte de uma orelha, Juan foi mandado para casa, onde sua condição de saúde piorou, o que o levou a entrar em coma e morrer.

O menino é uma das vítimas conhecidas e documentadas do governo vigente em Cuba desde 1959, quando o grupo revolucionário comandado por Fidel Castro tomou o poder após derrubar o ditador Fulgencio Batista.

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No entanto, o número exato de pessoas mortas em consequência do regime instaurado por Castro é desconhecido. “Estimar o número real é praticamente impossível”, afirma Maria Werlau, co-fundadora e diretora executiva do projeto Cuba Archive, que busca documentar de forma objetiva o custo em vidas da revolução cubana.

“O regime não deseja divulgar a ‘contagem de corpos’ associada a sua repressão”, explica Joseph J. Gonzalez, professor de Estudos Globais na Appalachian State University nos EUA sobre a dificuldade em fazer esse cálculo.

Enquanto muitos autores usam modelos matemáticos com poucos fundamentos, a organização de Werlau, sediada nos EUA, é considerada a mais meticulosa nesse sentido, por trabalhar baseada em documentos e relatos de sobreviventes. “É um trabalho muito difícil”, diz Werlau. O balanço mais recente considera 9.222 mortes de 1º de janeiro de 1959 a 31 de dezembro de 2020, sendo 3.051 delas de execuções por fuzilamento.

“Atualmente, o número que mais me preocupa é o de pessoas que estão morrendo nas prisões. Sabemos que são muitas e que elas morrem porque não recebem atendimento médico, porque há muito suicídio e também que os guardas as matam”, diz Werlau.

Ela explica que o projeto busca divulgar as consequências do regime na segurança das pessoas, além de criar a consciência de que a violência não é o caminho para a solução de conflitos em uma sociedade. “Queremos disponibilizar informação verificável e confiável para que cada um tire suas próprias conclusões sobre Cuba”.

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Gonzalez destaca que não existem critérios ou protocolos para definir quem pode ser considerado uma vítima da ditadura. Além das pessoas mortas em conflitos armados e aquelas executadas pelo governo, há inúmeros cubanos que morreram afogados tentando escapar da ilha. “Não é claro como ou quando você deve começar a contar os corpos. Não há critérios prontos”, diz o acadêmico.

Justiça revolucionária

Imediatamente após a fuga de Batista, integrantes do exército derrotado suspeitos de serem criminosos de guerra foram capturados, submetidos a julgamentos sumários e, caso condenados à morte, fuzilados. O jornalista Jon Lee Anderson descreve em Che Guevara: Uma Biografia um dos episódios mais notórios do período, quando Raúl Castro comandou a execução com rajadas de metralhadoras de mais de 70 soldados capturados.

A chamada justiça revolucionária era considerada por Che e Fidel como necessária para consolidar a revolução, um posicionamento muito diferente daquele defendido por Fidel em 1957, em uma famosa entrevista ao jornal norte-americano The New York Times. À época, ele afirmava que todos os prisioneiros eram soltos, não assassinados. “Castro teve todos os motivos para ser gentil com os soldados cubanos, os soldados rasos lutando por Batista porque queria que eles lutassem por ele e por sua revolução. Ele queria que os soldados cubanos soubessem que, caso se rendessem, seriam bem tratados e teriam a oportunidade de servir em seu exército. Depois da revolução, as coisas foram muito diferentes porque ele tinha motivos diferentes”, diz Gonzalez.

Conforme o regime se radicalizava, Castro foi perdendo aliados. E a resposta era violenta. A família do menino Juan é um exemplo. Rómulo, pai do adolescente, tinha participado do Movimento 26 de Julho contra Batista, mas ficou decepcionado com o regime implantado em Cuba e decidiu, junto com seu irmão, buscar asilo político quando passou a temer represálias por seu descontentamento.

Uma semana depois de chegarem à embaixada do Equador, em 21 de fevereiro de 1981, uma equipe das Forças Especiais de Cuba invadiu o local levando a família presa e separando os menores de seus pais. Após a morte de Juan como consequência da tortura, vários de seus familiares foram condenados, incluindo seu pai, sua mãe e seu tio.

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“As discussões sobre a ditadura de Castro se politizaram muito rapidamente, com defensores e críticos fervorosos de ambos os lados”, explica Gonzalez. A perseguição a opositores que haviam sido aliados não era uma novidade no governo Castro. O primeiro presidente de Cuba após a revolução, Manuel Urrutia, renunciou em julho de 1959 por não concordar com a radicalização de Fidel e trocou a ilha pelos Estados Unidos, onde morreu em 1981.

Mortos no mar

Um dos maiores desafios é contabilizar as pessoas que morreram ao tentar fugir de Cuba em embarcações improvisadas rumo aos EUA. “Apenas neste ano a Guarda Costeira já teve alguns casos”, diz Werlau. A falta de informação sobre essas pessoas impossibilita sua identificação e contagem. “Às vezes não ficamos sabendo nem seus nomes”, explica, destacando que também não é possível chegar a esses dados por Cuba. “As pessoas que tentam fazer esse trabalho em Cuba acabam presas. E as famílias dos desaparecidos não querem colaborar porque têm medo do governo”.

O cientista político Rudolph Joseph Rummel (1932 - 2014), estudioso de genocídios e reconhecido por ter criado o termo ‘democídio’ para se referir a mortes em massa causadas pelo próprio governo de um povo, divulgou em 1987 estimativas do número de mortos pelo regime de Fidel variando de 35 mil a 141 mil naquela época. Mas são números baseados em modelos matemáticos.

“Nós temos o que podemos documentar”, diz Werlau sobre os números usados por sua organização. O trabalho começou há 20 anos com a análise de listas e livros, especialmente dos anos 1960. Alguns desses documentos continham problemas como duplicação de casos e o refinamento da lista só foi possível com o uso de ferramentas eletrônicas nos últimos anos. “Ao longo dos anos, limpamos nossos arquivos, buscamos fontes primárias e usamos ferramentas para encontrar e apagar os registros repetidos”, explica.

Um dos desafios de Werlau é investir na pesquisa sobre quantas pessoas morreram como consequência da intervenção de Cuba em outros países, como em guerras na África e em guerrilhas na América do Sul. “Provavelmente não seria possível fazer uma lista nominal, mas poderíamos estimar os números e seriam centenas de milhares de mortes”, diz. “O custo em vidas perdidas deste governo é muito alto”.

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