Uma mulher direta com uma interlocução precisa. Assim é como percebemos a libertária Gloria Álvarez em seus discursos contra o populismo e o socialismo. Na primeira vez que sua voz ganhou destaque mundial, por meio um vídeo que viralizou nas redes sociais em 2015, já soubemos qual era a sua proposta: “desmantelar o populismo através da tecnologia”. Foi assim que ela se tornou uma das principais vozes da juventude libertária na América Latina.
Álvarez nasceu na Guatemala em 1985. É neta de húngaros e cubanos: seu avô húngaro fugiu do país depois do fracasso da revolução de Budapeste em 1965 contra o governo comunista da República Popular da Hungria; e seu avô cubano disse que nunca voltaria à ilha onde nascera enquanto a ditadura dos Castros estivesse no poder. A forte ligação que teve com seu avós durante a infância pode explicar um pouco a formação de suas ideologias políticas. Mas não apenas isso. De uma maneira incomum, a academia também teve um peso sobre o caminho ideológico que ela decidiu seguir.
Álvarez é formada em Relações Internacionais e Ciências Políticas pela Universidade Francisco Marroquín, da Guatemala, é pós-graduada em economia e política pela Universidade de Georgetown, mestre em Desenvolvimento Internacional pela Universidade Sapienza, de Roma. Também estudou na Universidade de Lovaina, na Bélgica, em 2009, mas não concluiu o curso porque sua tese foi reprovada seis vezes: sempre lhe faltava um ponto para passar.
O motivo, segundo ela contou em suas redes sociais, era perseguição ideológica, “porque minha crítica ao Banco Mundial, ao Fundo Monetário Internacional, à ONU e à Oxfam era muito ‘parcial’”. Sua tese era sobre a falácia da ajuda internacional.
“Foi ali que comecei a entender a influência do socialismo e que eu estava indo contra a forma de vida que permitia aos antropólogos europeus se sustentarem como os ‘senhores da pobreza’: falar de desenvolvimento enquanto mantinham a pobreza”, escreveu ela em seu perfil do Facebook.
Fama
Em entrevista à revista colombiana Bocas, falando sobre esse episódio de sua vida, disse que em momento nenhum se arrependeu de ter mantido sua posição ideológica, porque aquele foi uma pedra angular bastante importante em seu crescimento intelectual, que a ajudou a ser firme nas ideias que hoje ela defende.
Alguns anos depois, como líder da ONG Movimento Cívico Nacional da Guatemala, Álvarez participou do 1º Parlamento Iberoamericano da Juventude, que ocorreu em 2014 em Zaragoza, na Espanha. Seu discurso, aquele em que ela afirmou que era preciso desmantelar o populismo através da tecnologia, foi gravado e postado no Youtube pela organização do evento - assim como aconteceu com os demais participantes que falaram naquele mesmo dia. Meses depois, entre março e abril de 2015, o vídeo viralizou nas redes sociais. Alcançou 1 milhão de visualizações rapidamente. Na postagem do canal oficial do evento, hoje somam-se mais de 1,4 milhões de acessos, e segundo ela conta, seu vídeo já foi visto mais de 20 milhões vezes.
A razão de tamanha popularidade, segundo publicou a revista Veja na época, era que raramente se tinha visto uma denúncia tão clara e contundente contra o populismo.
“Acredito que a batalha, mais do que entre esquerda e direita, nós que estamos contra o populismo, é entre o populismo e a república. Por que é a república que garante a institucionalidade do Estado”, defendeu ela, salientando que o populismo na América Latina está impregnado tanto na esquerda quanto na direita. Encerrou dizendo que é preciso “compartilhar ideias para desmantelar o populismo pelo que ele é: uma postergação da pobreza e da ignorância”.
Ideais
A partir desse momento, Álvarez deixou de ser uma voz isolada em seu país para ser uma voz da juventude libertária na América Latina. Passou a participar dos diversos movimentos sociais que ocorreram na região nos anos que se seguiram: nos protestos contra Daniel Ortega na Nicarágua, no movimento estudantil do México, em manifestações contra Maduro na Venezuela, contra Evo Morales na Bolívia, contra o assassinato do fiscal Alberto Nisman na Argentina; e, ainda, nos protestos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e contra os escândalos de corrupção da era PT que vieram à tona com a Operação Lava Jato.
O Brasil frequentemente está na pauta da cientista política. Em 2015 ela esteve em terras brasileiras e deu entrevistas para vários veículos de comunicação. Mais recentemente, em abril de 2018, Álvarez gravou um vídeo em que dizia que “é imperativo que Lula da Silva termine preso”.
“Se o socialismo do século XXI tivesse cumprido com o que prometeu desde o início… de terminar com os privilégios, não dar uma licitação suja sequer a empresários, destruir o mercantilismo e os favores; não seria o socialismo do século XXI o maior responsável pelo escândalo de corrupção mais multi bilionário na história da América Latina”, afirmou.
Sua atuação não se limita às redes sociais, apesar de elas serem uma das mais importantes ferramentas para divulgação de seu trabalho. Gloria Álvarez se tornou referência em ideias libertárias: realizou mais de 250 conferências na América Latina e nos Estados Unidos e lançou dois livros - “El engaño Populista” (O engano populista, 2016) e “Cómo Hablar a Un Progre” (Como falar com um progressista, 2017). Ela pretende lançar o terceiro ainda este ano, com o título “Cómo Hablar con Un Conservador” (Como falar com um conservador).
Seu discurso de repercussão mais recente ocorreu em abril deste ano, no parlamento da União Europeia. Álvarez fez uma dura crítica a como o bloco trata o socialismo na América Latina. “Socialismo é socialismo. Não há como vocês nos ajudarem dizendo que o socialismo funciona na Europa e na América Latina não, porque nós temos uma cultura onde o socialismo sempre é corrompido. O socialismo sempre leva à corrupção”, disse ela, explicando que, é preciso parar de falar de igualdade de bens materiais e começar a falar de igualdade sob a lei. “Se não formos iguais perante a lei, desastres como o da Venezuela ocorrem”.
Em frente aos parlamentares, ela também pediu que a União Europeia trabalhe na disseminação da informação de que os países escandinavos não são um exemplo de socialismo. “Esses países não são socialistas. Prova disso é que eles aparecem em primeiro lugar no ranking de liberdade econômica”, lembrou. Álvarez finalizou o seu discurso afirmando que a América Latina precisa de mais espaço no comércio internacional em vez de ajuda filantrópica. Esta foi a primeira vez que uma guatemalteca discursou no parlamento da União Europeia em defesa da liberdade econômica e da liberdade individual.
Gloria Álvarez continuará sua luta contra o populismo, buscando mobilizar as sociedades dos países latino americanos por meio de suas palestras, discursos, livros e redes sociais. Para ela, a sociedade civil não pode sentar e esperar que as mudanças venham do governo ou dos políticos. Disse em entrevista à revista Bocas que “devemos entender que em nossos países há uma classe politicista que lucra com o fato de que as coisas continuam como estão erradas e é conveniente que tudo continue o mesmo para continuar lucrando. Você tem que agir”.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink